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Perto do Coração Selvagem – Clarice Lispector

Recorte da capa do livro. No fundo uma janela branca ocupando toda imagem. Em primeiro plano, o nome da autora em destaque, e abaixo o titulo do livro.
Recorte da capa do livro. No fundo uma janela branca ocupando toda imagem. Em primeiro plano, o nome da autora em destaque, e abaixo o titulo do livro.

Publicado em 1943, Perto do Coração Selvagem foi o romance de estreia de Clarice Lispector, sendo recebido com admiração e estranheza pela crítica quando foi lançado. A ênfase na sensibilidade e no eu interior aliados à capacidade em captar nuances da personalidade da personagem foram alguns dos motivos desta obra ter surpreendido a rotina do contexto literário nacional da época.

O selvagem coração de Joana

Neste livro somos apresentados à personagem Joana, cuja história é dividida em duas partes: a primeira conta sobre sua infância, adolescência e vida adulta em capítulos intercalados, sendo ora um sobre a Joana-menina, ora sobre a Joana-adulta; na segunda parte, temos a história de Joana durante o casamento até o seu fim, e somos apresentados a novos e importantes personagens que farão toda a diferença no desenrolar da história desta personagem tão singular.

Logo no início, percebe-se que houve certa ruptura no livre arbítrio de Joana, tendo isto muita influência de seu pai, figura muito forte que a repreendia por ser muito sonhadora e pouco ouvia os poemas que a filha criava. Isso se refletiu em sua vida adulta, tornando-a uma mulher quieta e reservada, que vivia dentro dos próprios sonhos para não enlouquecer.

Nas 30 primeiras páginas, percebe-se que Joana projetou no marido Otávio toda a falta que sentia de seu pai, ocasionando no seu aprisionamento em um casamento sem amor, sem nada em comum entre eles, onde sentia que precisava estar para permanecer viva, para se sentir viva, e para alimentar seus sonhos. Mas Joana, como boa mulher inteligente e sonhadora, dá indícios de que lá no fundo sabe que aquela relação não faz mais sentido. Contudo, encontra dificuldade em assumir isto e internalizar que não precisa se aprisionar em um relacionamento com um homem somente para se sentir alguém ou ter restos de qualquer sentimento.

Joana está sempre em busca do sentido da vida, de explicar e questionar tudo ao seu redor, inclusive a si mesma e aos seus sentimentos. Ela demonstra profundo conhecimento do mundo ao seu redor, o qual ela observa minuciosamente e tenta compreender da maneira mais aprofundada e poética. É possível, através dos olhos de Joana, perceber o quão profunda é a existência de uma mulher que quer ser independente, pois ela a todo segundo demonstra que seu eu interior é a única voz que importa para si mesma. Entretanto, isto faz com que Joana também deixe de saber diferenciar o certo e o errado em algumas situações, como quando ela rouba o livro e diz para a tia que o fez porque pode tudo, e quando diz para o marido que só se separará dele quando engravidar.

A incansável alma de Clarice

Joana não é uma personagem perfeita, ela é palpável, humana, e por isso é possível nos identificarmos com ela. Ela não tem medo de mostrar seus defeitos e de dizer o que pensa, pois, para ela, só assim mostrará que está viva e que suas ideias e ideais também podem ter importância na existência humana.

Além disso, é possível perceber Joana como alter ego de Clarice, pois a identificação entre o narrador e o personagem é tão forte e palpável que por diversas vezes a terceira pessoa do verbo e a primeira se fundem, tornando a enunciação do romance ambígua, uma conversa entre o eu e o outro, que é tecnicamente conhecida como discurso indireto livre.

Perto do Coração Selvagem pode ser o que chamamos de “romance de formação”, pois presenciamos a evolução da personagem desde a infância até a vida adulta, como sua personalidade e visão de mundo vão evoluindo conforme ela vai amadurecendo e passando por situações que a obrigam a tomar decisões importantes.

Com isto, é perceptível que seria impossível descrever a grandiosidade desta obra de Clarice. Assim como em todas as suas obras, há muito dela em seus personagens, o que os torna muito mais complexos e singulares, humanos e palpáveis. A cada leitura deste livro é possível ter uma visão diferente da anterior, pois, como nós é mostrado através de Joana, o amadurecimento nos presenteia com visões de mundo e de si próprio cada vez mais únicas e diferenciadas, provando que, como seres mutáveis que somos, estamos sempre evoluindo no selvagem coração da vida.

Sobre a autora

Clarice Lispector, nascida Chaya Pinkhasovna Lispector (Chechelnyk, 10 de dezembro de 1920 — Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 1977) foi uma escritora brasileira, nascida na Ucrânia. Autora de linha introspectiva, buscava exprimir, através de seus textos, as agruras e antinomias do ser. Suas obras caracterizam-se pela exacerbação do momento interior e intensa ruptura com o enredo factual, a ponto de a própria subjetividade entrar em crise.

De origem judaica, terceira filha de Pinkouss e de Mania Lispector, a família de Clarice sofreu perseguição aos judeus durante a Guerra Civil Russa de 1918 a 1921. Seu nascimento ocorreu em Chechelnyk, enquanto percorriam várias aldeias da Ucrânia antes da viagem de emigração ao continente americano. Chegou no Brasil quando tinha dois anos de idade.

A família chegou a Maceió em março de 1922, sendo recebida por Zaina, irmã de Mania, e seu marido e primo José Rabin. Por iniciativa de seu pai, à exceção de Tania – irmã, todos mudaram de nome: o pai passou a se chamar Pedro; Mania, Marieta; Leia – irmã, Elisa; e Chaya, Clarice. Pedro passou a trabalhar com Rabin, já um próspero comerciante.
Clarice Lispector começou a escrever logo que aprendeu a ler, na cidade do Recife, onde passou parte da infância. Falava vários idiomas, entre eles o francês e inglês. Cresceu ouvindo no âmbito domiciliar o idioma materno, o iídiche.

Foi hospitalizada pouco tempo depois da publicação do romance A Hora da Estrela com câncer inoperável no ovário, diagnóstico desconhecido por ela. Faleceu no dia 9 de dezembro de 1977, um dia antes de seu 57° aniversário. Foi sepultada no Cemitério Israelita do Caju, no Rio de Janeiro, em 11 de dezembro de 1977.

Nota

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Ficha Técnica

Nome: Perto do Coração Selvagem
Autor: Clarice Lispector
Edição:
Editora: Folha de S.Paulo
Ano: 2017
Páginas: 176
ISBN: 9788579493317
Sinopse: “Perto do Coração Selvagem”, romance de estreia de Clarice Lispector, assombrou leitores e críticos logo após sua publicação, em 1943. Tendo uma voz narrativa que ora incorpora o mundo interior da protagonista Joana, ora a contempla de fora, o livro alterna dois tempos: a infância, na qual a personagem interroga seres e coisas, e um presente intemporal como a eternidade, em que as vicissitudes de um casamento que jamais representou uma ilusão resumem os outros pequenos desastres que reconduzem a personagem a sua inadequação primordial.

Com uma escrita tateante, sonâmbula, Clarice Lispector não recapitula de modo linear as vivências de Joana (como a morte do pai ou a separação do marido, visto desde sempre como um estranho), mas flagra o instante em que cada experiência ou cada encontro eclode com seu enigmático significado, apresentando-se como via de acesso ao “selvagem coração da vida” – conforme a frase de Joyce que, por sugestão do escritor Lúcio Cardoso, Clarice Lispector utilizou na epígrafe e no título desse livro que inaugura uma das obras mais inovadoras da literatura brasileira.

Macunaíma – Mário de Andrade

Recorte da capa do livro. Um desenho quase abstrato, com um fundo rosa e uma área verde semelhante a uma planta, na frente uma faixa vermelha em ondas.
Recorte da capa do livro. Um desenho quase abstrato, com um fundo rosa e uma área verde semelhante a uma planta, na frente uma faixa vermelha em ondas.

Publicado em 1928, Macunaíma: o herói sem nenhum caráter é, por alguns, considerado o romance modernista de maior expressão. Neste livro, a narrativa fantástica e a realista caminham lado a lado. O livro narra desde o estranho nascimento até a morte do herói, cujo nome estampa a capa, que ao longo do livro abandona sua pequena aldeia indígena para se aventurar na desconhecida e perigosa cidade metropolitana de São Paulo. Entre alguns dos acontecimentos mais memoráveis do livro, temos:

        • Macunaíma se envolver sexualmente com esposa do seu irmão;
        • Se deparar e fugir do Curupira;
        • Se lavar em uma poça onde deixa de ser negro para se tornar um (príncipe, segundo as palavras do livro) branco;
        • Fazer macumba contra seu inimigo (o Gigante);
        • Enfrentar e derrotar o Mapinguari.

Faço menção a esses acontecimentos polêmicos, pois, na época em que foi publicado, Macunaíma foi recebido de maneira nada agradável pelo conservadorismo reinante na época (bem como aconteceu com os demais modernistas). Temáticas sexuais, culturais e raciais trespassam o livro, como acontece com poucos da época, e por isso é considerado uma publicação tão polêmica. A ousadia de Mário de Andrade, inclusive, não está restrita somente aos temas que trata em sua obra, mas também na escolha do registro, da linguagem, que, para além da coloquialidade, também abarca termos indígenas, ditos populares, gírias da época e neologismos (algo também nada comum para época, nem mesmo para hoje em dia e, talvez, alguns leitores tenham a impressão de ser uma linguagem inverossímil, cartunesca, teatral, e é tudo verdade). A dimensão inventiva de Macunaíma é o que o faz um dos maiores romances da literatura brasileira.

Experiência de leitura

Durante o último ano do ensino médio, meu professor de língua portuguesa trabalhou o filme Macunaíma (1969), produzido durante o período da ditadura militar de 64. Esse detalhe histórico faz com que a adaptação do livro homônimo, escrito por Mário de Andrade, seja a peça de humor escrachado de maior sutileza que já vi. Assistir e debater esse filme me motivou a ler o livro e ainda acredito que adaptações possam estimular a leitura da obra original, como aconteceu comigo. Então, talvez seja um bom passo começar por elas.

Macunaíma tem por mérito a satirização da procura de um herói nacional, que abarcasse características tipicamente brasileiras. Mário de Andrade escolheu as piores, conscientemente, e, apesar do grande trabalho de exposição da diversidade cultural do nosso país (que é, ainda assim, incompleta, insatisfatória, mas, imagino, ter sido o melhor que ele pôde fazer), seu principal objetivo foi o de desvirtuar a figura de um suposto herói nacional.

É um livro crítico em todos os aspectos, desde os temas tabus até mesmo a linguagem e os personagens. Certos capítulos, como o famoso “Carta pras icamiabas”, o autor mete o dedo tão fundo na ferida de alguns, que o leitor pode sentir a dor em si mesmo. No trecho a que me refiro, nosso herói de origem indígena tece uma longa crítica à linguagem oral e a linguagem escrita do português brasileiro são diferentes, sendo a escrita propositalmente pomposa, enfeitada, talvez, como sugerido, pela procura de uma (inexistente, quem sabe?) erudição daquele que escreve.

Como dito antes, a linguagem coloquial que é constante durante todo livro, foi rechaçada por parte da crítica da época. Esses mesmos ficaram exaltados pelas perversões presentes no romance, que são (apesar de veladas) grande coisa para época e nem tanto para os dias atuais (ou não, já que temos uma onda conservadora).

Macunaíma e as contradições da literatura

Imagino que a literatura, ainda hoje, seja exigida demais por um certo conservadorismos dos seus leitores (principalmente os que se consideram eruditos e acabam por ser tolos elitistas). Por estes, as transgressões não serão, imagino, bem vistas (sejam ou não transgressões válidas, pois não se trata de fazer juízo de valor dos limites de um texto). O fato é que a literatura não costuma se acovardar perante a crítica e acredito que ela siga assim, ainda mais nos tempos que temos vividos.

Aqui nosso herói não tem caráter, pode ser lido como antiético e imoral, mas também pode ser lido como indignado e revolucionário. Como todo bom livro, é extremamente polissêmico e infinitas leituras podem ser feitas. Mas, reitero, na minha opinião, o legado de Macunaíma é contra os heróis nacionais, contra os salvadores puritanos que a elite tem buscado há tempos e que jamais encontrará.

Nota

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Ficha Técnica

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Nome: Macunaíma, o herói sem nenhum caráter
Autor: Mário de Andrade
Edição:
Editora: Penguin Companhia
Ano: 2016
Páginas: 240
ISBN: 9788582850411

Sinopse: Mário de Andrade publicou Macunaíma em 1928. O livro foi um acontecimento. Debochado e intensamente brasileiro – ainda que muito pouco ou nada nacionalista -, este romance é ainda hoje um dos textos fundamentais do nosso Modernismo. E continua a influenciar as mais diversas manifestações artísticas. Nascido nas profundezas da Amazônia, o herói de Mário de Andrade é cheio de contradições – assim como o país que lhe serve de berço. É adoravelmente mentiroso, safado, preguiçoso e boca-suja. Suas peripécias vêm embaladas numa linguagem rapsódica e inventiva, um marco das pesquisas de seu autor em torno de uma identidade linguística brasileira.

Maresi – Maria Turtschaninoff

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Capa do livro, com fundo vermelho, com moldura dourada, o nome da autora no topo, e o texto:
Capa do livro, com fundo vermelho, com moldura dourada, o nome da autora no topo, e o texto: "As Crônicas da Abadia Vermelha", na base, ambos em dourado. No centro, letras estilisadas e emolduradas, cada uma em um quadrado, formam o titulo: "Maresi".

Maresi é o primeiro volume da série “As Crônicas da Abadia Vermelha”, prevista para ser uma trilogia da escritora Maria Turtschaninoff. A edição brasileira foi lançada pela editora Morro Branco, com tradução de Lilia Loman e Pasi Loman. Por Maresi, a autora recebeu o Finlandia Junir Prize e o Swedish YLE Literatyra Prize, e o texto será adaptado para o cinema pela Film4 (informações retiradas da orelha do livro).

Resumo

Quando Maresi chegou à ilha da Menos, depois do inverno da fome, não acreditava realmente na existência da Abadia Vermelha. Mas o lugar existe, ele é real, e assim como as outras garotas que moram na Abadia, se tornou um lugar seguro para ela. Meninas vão para a Abadia por diferentes motivos, algumas porque seus familiares querem que elas tenham boa educação, outras por que suas famílias são muito pobres e não conseguem sustentá-las, algumas por terem alguma doença ou deficiência e outras são fugitivas de terras onde mulheres não podem saber ou dizer nada. Independente do qual motivo levou uma garota até a ilha, na abadia ela encontra um lar, um lugar seguro, um centro de aprendizado e uma irmandade onde todas se ajudam. Uma ilha onde homens não podem entrar e onde as mulheres se sentem seguras sob a proteção da Deusa e da Primeira Madre tem sua paz abalada após a chegada de Jai, que além de cabelos emaranhados, cicatrizes e roupas sujas, trás os perigos dos quais ela fugiu em sua terra natal.

 

“É difícil escrever sobre a morte, mas não há desculpa para não fazê-lo”

A história é apresentada pelo ponto de vista de Maresi , que está escrevendo sobre o que aconteceu na ilha e na Abadia após a chegada de Jai. Em sua narrativa, somos apresentadas às outras noviças e irmãs que compõem essa comunidade, onde mulheres convivem juntas e se ajudam mutuamente, sem a necessidade da presença masculina, exceto para transações comerciais que são realizadas no cais. No texto também é apresentada a mitologia da criação da Abadia, com a vinda das sete irmãs fundadoras e de como a Deusa as protegeu de antigos ataques dos homens. A crença na Deusa em suas diferentes facetas (a Donzela, que representa o início e a fertilizada, a Mãe com sua maturidade e cuidado e a Velha com o fim do ciclo e o conhecimento que vem com a morte) é o que dá o toque fantástico para ao texto, ele é apenas mais um elemento na construção da obra. Em suas quase 200 páginas, Turtschaninoff apresenta histórias de medo, superação e sororidade, mostrando que mulheres podem fazer qualquer coisa, e que a união dessa irmandade é o que as tornam mais fortes.

Maresi é um texto de leitura simples, mas nem por isso apresenta uma história rasa. A sutileza da obra de Turtschaninoff está justamente em apresentar diferentes personagens, de diferentes idades e origens, como a vida dessas mulheres é afetada por fatores externos, e como apesar de suas histórias e medos individuais, elas conseguem se juntar como uma irmandade para o crescimento de todas.

Um detalhe que eu gosto muito é da “câmara do tesouro”, que é a biblioteca da abadia, lugar que abriga o conhecimento trazido pelas primeiras irmãs, e que foi crescendo com o relato das novas irmãs. Maresi é que batiza a biblioteca de câmara do tesouro, pois para ela, quem não sabia que existiam tantos livros no mundo antes de chegar a abadia e para outras que viviam em uma sociedade onde as mulheres não podem estudar, conhecimento se torna o maior dos tesouro.

 

Nota:

4 SELOS CABULOSOS

 

Ficha Técnica

Nome: Maresi (As Crônicas da Abadia Vermelha, #1)
Autor: Maria Turtschaninoff
Edição: 1ª
Tradução: Lilia Loman e Pasi Loman
Editora: Morro Branco
Ano: 2018
Páginas: 200
ISBN: 9788592795276
Resumo: Uma história sobre amizade e sobrevivência, magia e encantamento, beleza e terror.

Maresi chegou à Abadia Vermelha quando tinha 13 anos, durante o Inverno da Fome. Antes disso, só ouvira rumores e fábulas sobre o lugar. Em um mundo onde garotas são proibidas de estudar ou seguir seus próprios sonhos, uma ilha habitada apenas por mulheres soava como uma fantasia incrível. Agora Maresi vive ali e sabe que é real. Ela está segura.

Tudo muda quando Jai, com seus cabelos emaranhados, cicatrizes e roupas sujas, chega em um navio. Ela fugia da crueldade e dos perigos escondidos em sua terra natal – mas os homens que a perseguem não vão parar por nada, até encontrá-la.

Agora as mulheres e meninas da Abadia Vermelha terão que usar seus poderes e conhecimento ancestral para combater as forças que desejam destruí-las. E Maresi, assombrada por seus próprios pesadelos, deve confrontar seus mais profundos e terríveis medos.

 

Mensageira da Sorte – Fernanda Nia

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Montagem da capa do livro. No fundo uma ilustração de um céu noturno com estrelas e nuvens, em primeiro plano, o texto em fonte estilizada:
Montagem da capa do livro. No fundo uma ilustração de um céu noturno com estrelas e nuvens, em primeiro plano, o texto em fonte estilizada: "Mensageira da Sorte" de Fernanda Nia

Cassandra Lira, ou Sam, estava chegando no seu novo apartamento em pleno feriado de Carnaval no Rio de Janeiro, quando se vê presa no meio de uma confusão causada pelos protestos contra a AlCorp – empresa responsável pela venda de remédios no Brasil e fonte de abuso de poder e corrupção. Ao tentar ajudar uma mulher que levou m tiro, Sam acaba se tornando uma Mensageira da Sorte substituta e passa a trabalhar para o Departamento de Correção da Sorte.

Sua primeira missão é ajudar o novo vizinho, Leandro, um Youtuber que procura descobrir os segredos da AlCorp. Assim, Sam se vê presa entre sua vida normal de estudante, o novo trabalho em uma instituição extranatural e o jogo de poder da multinacional mais poderosa do país.

Fernanda Nia cria em seu livro de estreia uma história divertida, criativa e que apesar dos elementos fantásticos, passa muita veracidade, afinal, qual departamento público não é cheio de burocracia?

Departamento da Sorte

Sam não tem muita escolha a não ser acreditar que se tornou uma funcionária temporária do Departamento da Sorte de um dos setores da cidade do Rio de Janeiro. Ela se convence disso ao acordar todos os dias sabendo qual mensagem deve passar para que alguma pessoa que ela nunca viu na vida, possa ter um pouco de sorte. Ou muita sorte!

Apesar de parecer confuso ao se ler a sinopse, o funcionamento e a explicação sobre o DCS é muito orgânica e interessante. A instituição é cheia de burocracias, o que torna tudo mais crível, e temos vislumbres de outras instituições extranaturais, que me deixaram curiosa. Se Fernanda Nia quiser investir em uma série com esse tema, estou lá para ler tudo.

Porém, apesar da premissa partir da nova condição de Sam, o verdadeiro foco da história são os protestos contra a AlCorp. Mesmo tentando permanecer longe da violência que esses protestos trazem, Sam é levada à trama que envolve essa corporação e toda a corrupção que vem junto. É inegável a inspiração dos Protestos de 2013 que aconteceram por todo o Brasil. A autora conseguiu passar para as páginas todo clima de insatisfação e desejo de mudança que tomou conta do país naqueles dias, trazendo uma reivindicação imaginária, mas que tem como base a mesma: fim do abuso de poder.

De relance, reparei que os P3 não eram os únicos oficiais no protesto. Havia também alguns grupos de policiais da força pública, militares e até municipais. […]. Pareciam esperar alguma ordem para agir.

Rezei para que não fosse a de se juntarem à briga contra nós.

Então me esqueci deles completamente quando um protestante cruzou o nosso caminho erguendo um sabre de luz sobre a cabeça.

Juro. Para. Vocês.

Mensageira da Sorte (Substituta)

Cassandra, que prefere ser chamada de Sam, foi uma protagonista da qual gostei bastante. A garota só quer paz na vida, mas é jogada nesse novo mundo e ainda tem que lidar com uma cidade praticamente em guerra. Seus pensamentos são bem divertidos e sarcásticos, sendo uma personagem muito verdadeira. Apesar de madura para seus 17 anos, ela ainda vai ter algumas atitudes de qualquer pessoa com essa idade. E um ponto interessante é que diferente de alguns outros livros Jovem Adulto, nesse os pais da protagonista não são esquecidos na fila do pão.

Para quem não gosta muito de romance pode ficar tranquilo, pois em Mensageira da Sorte é algo leve e está longe de ser o foco. Não existe o instalove e a aproximação de Sam e Leandro é bem construída. Em um primeiro momento saber que o garoto é youtuber parece um pouco forçado, mas casa muito bem com toda a história.

Mas é bom?

Sim! Fiquei surpresa com o quanto a história me envolveu e cativou. Adorei a escrita da Fernanda Nia, é fluida, engraçada e tem ótimas tiradas. Mas não é um livro perfeito. Como disse antes, o foco não está no Departamento. Apesar de toda a questão de ser uma mensageira ser muito importante, a trama que envolve a AlCorp é o verdadeiro cerne e acredito que isso deveria ser deixado mais explícito na sinopse. Já vi algumas pessoas que se decepcionaram um pouco porque esperavam outra coisa. Além disso, o livro tem uma barriguinha. Em determinado momento, só queremos que a história ande, mas continua voltando para questões que já foram debatidas. Pode cansar um pouco.

Mas a leitura é muito fluida, a edição da Plataforma21 é super confortável, com uma letra bem grande (míopes como eu vibram) e tem uma capa linda. Além disso, a descrição que a Fernanda Nia traz do Rio de Janeiro, especialmente do bairro Lagoinha, me fizeram ter muita vontade de visitar todos os locais mostrados.

Nota

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Ficha Técnica

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Nome: Mensageira da Sorte
Autor: Fernanda Nia
Edição:
Editora: Plataforma21
Ano: 2017
Páginas: 424
ISBN:
  9788592783822
Sinopse: A SORTE É IMPREVISÍVEL.

Em pleno Carnaval carioca, durante uma confusão em um protesto contra a AlCorp – uma corporação que controla o preço dos alimentos e medicamentos no país – Cassandra Lira, ou Sam, passa a ser uma mensageira temporária no Departamento de Correção de Sorte (DCS), uma organização extranatural secreta incumbida de nivelar o azar na vida das pessoas.

Para manter esse equilíbrio, os mensageiros devem distribuir presságios de sorte ou azar para alguns escolhidos. O primeiro “cliente” de Sam é justamente o seu vizinho e colega de classe, Leandro. O garoto é um youtuber em ascensão e a ajuda dela, na forma de uma mensagem sobre nada menos que paçocas, impulsiona Leandro a fazer um vídeo que o levará para o auge da fama. O que Sam não sabe é que o rapaz também é um ávido participante dos protestos contra os abusos da AlCorp, comprometido a expô-los em seu canal, independentemente dos riscos que possa correr, e a garota se vê obrigada a usar a sorte do DCS para protegê-lo.

Black Hole – Charles Burns

Recorte da capa da HQ. Desenho em preto e branco, com o fundo em preto, parte do rosto de uma pessoa de cabelos curtos e mostrando os dentes. Plantas ocupam as laterais da imagem. Em primeiro plano uma faixa vermelha horizontal atravessa a imagem, nela está, em branco, o logo da DarkSide Books, o título
Recorte da capa da HQ. Desenho em preto e branco, com o fundo em preto, parte do rosto de uma pessoa de cabelos curtos e mostrando os dentes. Plantas ocupam as laterais da imagem. Em primeiro plano uma faixa vermelha horizontal atravessa a imagem, nela está, em branco, o logo da DarkSide Books, o título "Black Hole" e o nome do autor. A faixa cobre os olhos do personagem da imagem.

As Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) muitas vezes estão escondidas dentro do corpo, esperando para serem descobertas e ocultadas pela sociedade. E se DST gerassem uma mutação? Uma marca evidente no corpo. Esse é o panorama da HQ Black Hole, obra premiada do artista Charles Burns.

Mergulhar ou não mergulhar?

Temos como cenário uma cidade típica do interior dos Estados Unidos e o que sobrou da era Hippie se tornou o meio cultural de muitos jovens em um colégio. Em um primeiro momento, pensei que a obra tivesse como alvo adolescentes, um publico que sempre está a procura de uma identidade. Mas como conseguir identidade mergulhado em insegurança e medo? Depois que me fiz essa pergunta durante a leitura percebi que o “Buraco Negro” (Black Hole) pode ser visitado por qualquer um.

Viver um amor, fugir da solidão, tentar apagar a carência ou medo marcam os personagens dessa obra. Temos Rob, Keith, Eliza e a Cris. De todos esses personagens quem mais me marcou foi a Cris. Você sente a personagem viva. O autor fez um trabalho minucioso em mostrar como essa adolescente está perdida. Ele acha um caminho; um trajeto que a ingenuidade da adolescência acredita que resolve tudo. O autor é delicado, preciso e escolhe momentos-chave no decorrer da obra em que Cris simplesmente confessa o que há dentro de si. O seu choro e suas palavras pesam e a ligação se torna forte com o leitor.

Querer ler mais de uma vez

Engraçado, sinto que o ideal seria ler essa HQ quatro vezes. Uma com olhar totalmente em Cris, outro em Rob, depois Keith e por fim Eliza. Cada um deles é muito humano/quebrado e é difícil mergulhar em todos eles de uma vez só. E esses garotos e garotas estão cercados pelo o quê? Volto a citar a mutação sexualmente transmitida que pode ser descrita com uma única palavra: bizarro. Para mim, o bizarro estava sempre atrelado a um monstro que tem escamas dos pés a cabeça, com o rosto desfigurado, cortes pelo corpo e tudo mais. Charles Burns faz diferente. O autor precisa somente de um detalhe para gerar desconforto. A HQ sabe conduzir o leitor e o artista aos poucos faz o bizarro se tornar comum, corriqueiro… até o momento que ele te choca novamente.

Além dos quadros

Características técnicas também devem ser elogiadas. O traço carrega personalidade e combina com toda a atmosfera sinistra, há uma narração em primeira pessoa que te aproxima da obra e os diálogos transmitem muito mais do que palavras. Sempre quando penso em cenário a primeira imagem que vem na minha cabeça é de algo grande. Charles Burns não segue por esse caminho e cria cenários cheios de significado dentro de uma barraca ou em um canto próximo de uma janela.

Fui sugado para esse Buraco Negro e vou aproveitar para fazer um relato pessoal. Muitas atitudes de alguns personagem são impensadas e a minha cabeça julgou:

“Que irresponsável”.

Fui conduzido, fui sugado, senti a dor dos personagens, notei o contexto social e refleti:

“Quando eu era adolescente, não pensei em fazer o mesmo?”

Como adolescentes quebrados, uma mutação que exemplifica o bizarro e uma atmosfera sinistra formam uma HQ premiada que demorou 10 anos para ser concluída?

Leia, obtenha a resposta.

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Ficha Técnica

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Autor: Charles Burns
Tradução: Daniel Pellizzari
Edição:
Editora: DarkSide Books
Ano: 2017
Páginas: 368
ISBN: 9788594540515
Sinopse: Terror existencialista em preto e branco.
Vencedor do Eisner Award de Melhor Álbum de 2006 e de nada menos que nove Harvey Awards e outros dois Ignatz Awards, além do prêmio Les Essentiels d’Angoulême (2007), Black Hole é a mais importante graphic novel de Charles Burns. Publicada de forma seriada durante uma década, foi reunida em 2005 para aclamação mundial e reforçou o lugar do artista como o mestre dos quadrinhos independentes de horror. Agora, orgulhosamente inaugura a publicação de clássicos dos quadrinhos pela DarkSide Graphic Novel.

Black Hole se passa nos arredores de Seattle, extremo noroeste dos Estados Unidos, em meados da década de 1970, quando uma praga inominável e traiçoeira se alastra entre os adolescentes locais através do contato sexual e parece não poupar ninguém. Ela se manifesta de maneira diferente em cada um dos infectados — enquanto alguns apresentam apenas manchas na pele, algo sutil e fácil de ocultar, outros se transformam em grotescas aberrações, vagas lembranças do que foram um dia. E uma vez que você foi contaminado, não há mais volta. Para estes seres monstruosos, não há alternativa além do auto-exílio em acampamentos precários, na floresta que circunda a região. Conforme vamos nos familiarizando com os diversos protagonistas da história — garotos e garotas que foram infectados, outros que não foram e aqueles que estão prestes a ser —, o clima de horror, delírio e insanidade toma conta dos adolescentes.

Ela e o seu gato – Makoto Shinkai e Tsubasa Yamagushi

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Recorte da capa do mangá. Desenho de uma parede com parte de uma janela em tons azulados e uma cortina clara. Em primeiro plano o titulo:
Recorte da capa do mangá. Desenho de uma parede com parte de uma janela em tons azulados e uma cortina clara. Em primeiro plano o titulo: "Ela e o seu gato", abaixo o texto: "História: Makoro Shinkai" e "Arte: Tsubasa Yamaguchi"

O mangá Ela e seu gato tem história de Makoto Shinkai e arte de Tsubasa Yamaguchi. A história é contada em volume único, dividido em quatro capítulos, cada um correspondendo a uma das estações do ano.

O início da história ocorre na primavera, quando a garota encontra Chobi abandonado, em um dia de chuva, e o leva para casa. A partir de então, ele recebe o nome e passa a ser o gato dela, convivendo com as inseguranças, tristezas e alegrias de sua dona.

Um ponto de vista peculiar…

A trama é narrada do ponto de vista de Chobi. Por isso, não descobrimos, ao longo do mangá, o nome da garota. É sobre o olhar do felino que conhecemos a personagem e tentamos entender seus dilemas.

O gatinho apresenta sua dona como alguém a quem ele ama muito e a considera quase como uma namorada. Seu carinho por ela fica logo evidente e sob esse olhar amoroso e preocupado, conhecemos a história da garota, que percebemos ser alguém com problemas de relacionamento com a mãe e que está enfrentando dificuldades com a rotina de trabalho e a pressão social por namorar.

Um herói felino

Apesar de Chobi, como gato, não entender exatamente o que incomoda a humana, ele percebe suas tristezas e frustrações. Por isso, se solidariza e tenta consolá-la ao longo da história.

O bichano é uma fonte de afeto e aconchego que ajuda a menina a passar por suas dificuldades. Como não pode falar, o animal tenta demonstrar seu sentimento por meio das ações. Assim, ele funciona como um guardião de sua dona.

Uma partezinha da vida real

Ela e o seu gato é classificado como Slice of life, então ele demonstra um recorte da realidade, focando no cotidiano. Por isso, a história não apresenta nenhuma grande reviravolta, nem acontecimentos super marcantes. Ainda assim, acompanhamos momentos decisivos dos personagens e podemos nos identificar com as situações vividas pela dona de Chobi.

O ano vivenciado pela personagem tem muitas dificuldades e Chobi é uma espécie de “salvação”, algo que dá o apoio necessário a sua humana para que ela continue em frente. É justamente por isso que a história é cativante: podemos facilmente nos enxergar na personagem humana, cheia de dificuldades na vida. E também podemos identificar em Chobi os nossos próprios bichos de estimação ou outras válvulas de escape.

O traçado delicado de Ela e o seu gato

A parte estética do mangá é muito delicada, os desenhos carregam suavidade e detalhes que tornam a experiência de leitura ainda mais bacana. Aliás, muito do que está ocorrendo com a dona de Chobi só pode ser compreendido por nós, leitores, quando observamos os detalhes da ilustração.

Dessa forma, o texto e a imagem do quadrinho se completam, sem redundâncias e trabalhando em conjunto para a construção da trama.

Miados finais…

Ela e o seu gato é um mangá agridoce, que apresenta o cotidiano sob um ponto de vista diferente. A história conduz seu leitor para o interior de uma vida comum e dos motivos que pode haver para torná-la significativa. Muitas vezes, é nos pequenos detalhes que encontramos alegria.

Com belas ilustrações que conversam muito bem com o texto, o mangá é rápido de ler e deixa uma sensação de identificação ao seu final. Pode ser que a leitura seja mais significativa para quem tem gatos em casa (e outros animais de estimação também), pois é mais fácil de estabelecer empatia com a história.

Em todo o caso, para quem busca uma leitura gostosa e rápida, em um livro de volume único, esse pode ser um excelente título!

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FICHA TÉCNICA

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Nome: Ela e o seu gato
Autor: Makoto Shinkai e Tsubasa Yamagachi
Edição:
Tradução:Karen Kazumi Hayashida
Editora: Essência
Ano: 2019
Páginas: 200
ISBN: 8583622345
Resumo: “Era um dia de chuva, no começo da primavera. Eu fui acolhido por ela.”

Um gato e uma garota que mora sozinha se conhecem na primavera… ao viver sozinha, ela aprende a alegria e a solidão de ser independente, enquanto o gato, que recebeu o nome de Chobi, descobre a existência do mundo através dessa garota. O tempo desses dois passa lentamente, mas a severidade do mundo acaba por alcançá-la…

O Sr. Pip – Lloyd Jones

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Recorte da capa do livro, com o céu azul ao fundo, no topo o título, em branco,
Recorte da capa do livro, com o céu azul ao fundo, no topo o título, em branco, "O Sr. Pip". Abaixo, em azul, o nome do autor: "Lloyd Jones"

“Peça ao sr. Dickens para consertar o gerador”, pede a mãe da narradora. À primeira vista, parece se referir a um homônimo, talvez um parente do escritor inglês. Só que não é o caso no romance O Sr. Pip.

Matilda é uma menina que vive um período difícil da história de seu país, no início dos anos 1990. Há uma guerra civil em curso e os professores foram embora da ilha onde ela mora.
As crianças ficam sem aula e a escola é tomada pelas trepadeiras. Até que o único morador branco que restou, o sr. Watts (apelidado de Olho Arregalado ou Popeye, no filme), se oferece para ensinar os meninos e meninas que restaram – os que não morreram nem fugiram do conflito, nem se juntaram aos rebeldes.

O primeiro dia é de faxina – e ao final do dia, ele diz aos alunos, de idades variadas, que os apresentará “ao sr. Dickens”. As crianças se entreolham, imaginando onde está esse outro homem branco que eles não conhecem – e contam a novidade aos pais, que por sua vez enviam pedidos similares ao da mãe da narradora.

No dia seguinte, a turma descobre que o tão esperado homem branco desconhecido é na verdade um escritor, e não alguém com recursos materiais ou capacidade técnica para resolver seus problemas imediatos.

O conhecimento do mundo através da literatura em O Sr. Pip

A classe, a princípio, se sente decepcionada por não ver o professor improvisado acompanhado de outro homem branco. Olham pelas janelas, esperando vê-lo surgir a qualquer momento.

Mas o que o misterioso professor oferece a essas crianças é muito mais valioso do que que qualquer recurso material que porventura alguém desconhecido poderia trazer: um meio de estimular sua imaginação através da leitura de uma obra literária e a consequente descoberta de um mundo além daquela ilha.

Capítulo a capítulo, a classe convive com o personagem principal da obra Grandes Esperanças, de Charles Dickens. E para alguns alunos, como Matilda, Pip torna-se um amigo com quem se pode dividir o dia a dia, ampliar os sonhos e concepções do mundo.

A dialética entre o desconhecido e o tradicional

O alvoroço causado pela proposta pedagógica do Sr. Watts faz com que a comunidade se mobilize e leve para a sala de aula as visões de mundo dos adultos da ilha, por mais simplórias que pareçam. São histórias sobre sobrevivência, religiosidade e sexualidade, transmitidas de maneiras peculiares em O Sr. Pip.

O embate inicial se dá em torno do conflito entre Dolores, mãe da personagem principal, e o professor. O conflito surge entre a visão religiosa e a literária, quando a mãe proclama a realidade da existência de Deus e do Diabo, enquanto o mestre faz o mesmo com os personagens da história. Watts, no entanto, tem uma outra compreensão da materialidade daqueles que defende.

Em certa ocasião, pede às crianças que digam para si mesmas seus nomes. Qual o propósito disso? Muito mais tarde, a personagem/narradora irá descobrir que essa sensação é similar à que um autor sente quando procura a “voz” de seu personagem.

As relações aluno-professor

Além da descoberta da literatura e do mundo por meio dela, O S. Pip se trata de uma relação muito especial: a de aluno e professor. Explicada na obra de Joseph Campbell, O herói de mil faces, o encontro entre ambos faz parte da jornada do herói.

Vemos isso em Sociedade dos Poetas Mortos e em Os Escritores da Liberdade   em relação a professores que usam obras literárias para ampliar a visão de mundo de seus alunos, por mais ignorantes que sejam ou mais isolados que estejam.

Eurocentrismo

Há um ponto, entretanto, a se levantar. Quando pensamos em cultura no Brasil, levamos em consideração uma visão eurocêntrica, com tendência estadunidense na atualidade. Ao pensarmos em cinema, por exemplo, a primeira coisa que nos vem à cabeça é o cinema de Hollywood, a premiação do Oscar, os atores de língua inglesa.

Quantos de nós prestamos atenção no nosso próprio cinema, e em festivais e premiações como os de Berlim, Cannes, Gramado?

Se olharmos para o que é considerado “literatura universal”, veja a concentração de obras anglófonas nessa categoria a partir do século 16, e muito mais aceleradamente a partir do século 19.

Será que não há culturas e obras dignas de serem conhecidas, de autores africanos, asiáticos e americanos de outros idiomas?

E isso nos leva à citação de abertura. O enredo se passa na região da Papua Nova Guiné, no Pacífico Sul, próximo da Austrália. Quanto da cultura nativa dessas ilhas não se perdeu com a colonização? E torna-se justificável o desconhecimento por parte das crianças e de seus pais de quem fosse Charles Dickens.

Entretanto, em O Sr. Pip vemos com Dolores, a mãe de Matilda, o quanto a cultura judaico-cristã se inseriu na comunidade local e substituiu o sistema de crenças originalmente existente. Se não houve genocídio físico, em certa medida, houve genocídio cultural.

Exploração, violência e paralelos com o período colonial brasileiro

A história se passa no início dos anos noventa e a região vive da exploração do cobre, capitaneada pelos brancos, que se vão após o início do conflito. Os “inconfidentes” da região são apelidados de rambos por Matilda, apesar de não passarem de garotos maltrapilhos que têm uma pausa da guerrilha em um momento em que invadem a aldeia e têm a oportunidade de ouvir histórias.

Seus adversários, os “peles vermelhas”, são os que têm mais recursos – helicópteros, por exemplo – e colocam a aldeia – e o sr. Watts – em saia justa quando o exemplar de Grandes Esperanças desaparece.

O abandono da ilha pelos brancos e o isolamento militar dela lembram, em certa medida, a decadência do período mineiro no Brasil e o consequente abandono do Estado de Minas entre o final do século 18 e começo do século 20.

A escassez de recursos levou a um aumento da religiosidade e uma tendência ao isolamento, contrastado pelas aulas de Popeye, que levava as crianças a sonharem com um mundo diferente.

E, em certa medida, há um personagem comparável a Tiradentes. Não na mitologia que se criou em torno dele no início do período republicano, mas como bode expiatório.

O poder que um livro exerce

Na jornada de Eli (O Livro de Eli, Denzel Washington), ele se depara com Carnegie (Gary Oldman), que reconhece o poder que a obra que o mensageiro leva tem em suas palavras. E tenta tomá-lo para si, pois sabe que o tipo de conhecimento que aquele livro contém lhe dará poder sobre os demais.

As maiores obras, se tiverem um guia adequado, poderão empoderar quem as lê, tirando vendas que nem sabíamos que tínhamos. Algumas podem não nos fazer atravessar madrugadas, nem nos agradar à primeira vista, mas podem reverberar pelas nossas vidas de maneiras inesperadas.

O Sr. Pip é um livro que nos convida a ler outro livro, no caso, Grandes Esperanças, de Charles Dickens. E a descobrir como e porquê afetou tão intensamente a vida da narradora e de seu mestre. Você conhece outras obras que mencionam livros, que os levaram a ler esses textos citados? Coloque nos comentários.

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Ficha Técnica

O Sr. PipNão esqueça de adicionar ao seu Skoob

Nome: O Sr. Pip
Autor: Lloyd Jones
Edição:
Tradução: Léa Vivieros de Castro
Editora: Rocco
Ano: 2007
Páginas: 272
ISBN: 9788532522436
Resumo:Ambientado na Papua Nova Guiné nos anos de 1990, em plena guerra civil, o romance, contado sob a perspectiva de Matilda, de 13 anos, mostra como um personagem de um dos grandes escritores do século XIX, Charles Dickens, é capaz de mudar a vida da jovem e de toda a sua comunidade, na ilha de Bougainville.

Isolados por um bloqueio político, econômico e militar, os habitantes da ilha vivem com dificuldades e privações. A sorte de todos só mudaria quando o único homem branco que restara na aldeia decide reabrir a esquecida e também única escola do local, iniciando a leitura do clássico de Dickens Grandes esperanças. O impacto das aventuras do protagonista do livro, conhecido pelo apelido de Sr. Pip (nome do personagem principal na obra de Charles Dickens), ilumina de grandes esperanças Matilda e a gente de sua aldeia, sobrevivendo até ao inferno provocado pela guerra.

Covil de Livros 117 – Ruff Ghanor Vol III

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Vitrine do podcast Covil de Livros. No primeiro plano, recorte da capa do livro
Vitrine do podcast Covil de Livros. No primeiro plano, recorte da capa do livro "A Lenda de Ruff Ghanor Volume III" mostrando a imagem de um guerreiro com seu martelo de batalha. Na lateral direita, faixa vertical escrito "Podcast Covil de Livros" e o número da edição: 117

Bem-vindos, amigos, ao Covil de Livros! Hoje Basso e Edu recebem o capitão Ace Barros (site Multiverso X) para discutir a continuação das A Lenda de Ruff Ghanor Volume III: O Melhor Amigo do Homem! O livro foi escrito por Leonel Caldela e publicado pela NerdBooks (selo do site Jovem Nerd), sendo o terceiro volume da história.

Agora já maduro e com alguns anos de reinado, Ruff Ghanor continua sua saga para tentar apaziguar os deuses e tornar o mundo “verde e bom”. Mas forças sinistras estão dispostas a se opor ao nosso herói… Já que toda essa história começou nos episódios especiais de RPG do Nerdcast, nada mais justo que fazer podcast analisando os livros agora! Lembrando que o episódio está recheado de SPOILERS. Leia o livro antes de escutá-lo (ou ouça mesmo assim se você não liga para isso). Este é o terceiro volume da série A Lenda de Ruff Ghanor e existem podcasts do Covil comentando os 2 primeiros livros. Recomendamos que escutem estes episódios antes para saber de toda a história e não ficar perdido (e também porque eles são bons e merecem serem ouvidos hahahah)

Atenção!

Para ouvir basta apertar o botão PLAY abaixo ou clique em DOWNLOAD (clique com o botão direito do mouse no link e escolha a opção Salvar Destino Como para salvar o episódio no seu pc). Obrigado por ouvir ao Covil de Livros.

Seja padrinho, madrinha, patrão, patroa, colega e companhia boa!

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Sonetos de Amor & Desamor – Ivan Pinheiro Machado

Recorte da capa do livro, fundo preto, com o texto
Recorte da capa do livro, fundo preto, com o texto "Coleção 96 Páginas" no topo, no centro, o título: Sonetos de Amor & Desamor. Na base uma parte de uma estátua.

Antes de falar de Sonetos de Amor & Desamor, permita-me, leitor, fazer uma digressão necessária.

Nem só de poesia vive o homem, mas vive de poesia também. Certa vez Jean-Paul Sartre escreveu: “O mundo pode passar muito bem sem a literatura. Mas pode passar ainda melhor sem o homem

A literatura e a poesia podem, de fato, não parecer importantes para algumas pessoas, mas a poética, a ficção, as histórias, essas coisas são parte da essência humana. Sem ela, talvez, sequer sejamos humanos.

O livro de poemas

Amor e desamor são dois dos temas mais caros à produção poética desde que ela existe, não à toa os jovens poetas começam escrevendo versos de (des)amor. Sonetos de Amor & Desamor, confesso, me interessou como introdução geral a essa vertente poética, quem sabe a mais (ou uma das) importante(s). O livro passeia por diversos autores de língua portuguesa, desde Camões e Florbela Espanca à Machado de Assis e Marta de Mesquita da Câmara.

A antologia é organizada por Ivan Pinheiro Machado, que já organizou outras para a L&PM, e também assina um curto texto de apresentação desta edição. Sonetos de Amor & Desamor é, justamente, um apanhado de alguns poemas presentes nos livros, anteriormente, organizados por Ivan Pinheiro Machado.

Para quem deseja conhecer muitos autores consagrados de uma só, descobrir com quais tem mais afinidade literária, este livro é uma ótima pedida. A partir de alguns poemas, que você (eu) acredita se destacar, vai acabar chegando em outros mais do mesmo autor, ao menos essa foi minha experiência.

A ressalva do método

Contudo, vale dizer (apesar dessa ser a proposta do livro): tenho uma ressalva quanto à repetição da forma soneto. Novamente, ressalto, é a proposta do livro, eu entendo, afinal é (talvez) a forma consagrada da poesia. De qualquer forma, é menos uma crítica e mais uma ressalva mesmo. O fato de ser uma série de sonetos enfileirados, pode ser exaustivo para alguns leitores. Se, assim como eu fiz inicialmente, você se propõe a lê-los de uma só vez, em uma sentada ou, ainda, se lê três, quatro (minha experiência) de uma só vez, acaba sendo uma leitura rasa, repetitiva, etc. O problema é que, graças à métrica, rimas, tudo se torna monótono, repetitivo, talvez enfadonho.

Argumento que, Sonetos de Amor & Desamor, seja um livro de consulta, ou daqueles que lemos aos poucos, em doses homeopáticas. Podemos ir marcando trechos e páginas e voltarmos, futuramente, seja depois de dias ou até mesmo semanas. Estendo esse método de leitura a todo livro de poemas, pois nos ajuda a refletir, relendo, reinterpretando, se atendo mais calmamente a cada palavra (talvez seja até mesmo um bom método para leitura de prosa, quem sabe?).

Quando terminei a primeira leitura, já fui relendo do início ao fim, fazendo marcações, pois não tive uma compreensão suficiente de diversos poemas do livro. Pela linguagem carregada, vários me soaram pesados na primeira leitura, mas, nesse segundo round, muita coisa se esclarece por si só, se apresenta de maneira menos hermética. É o tipo de leitura que considero ter um bom valor a todos os leitores (que estejam afim, pois o mais legal da literatura é sua liberdade quase irrestrita).

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Ficha Técnica

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Nome: Sonetos de Amor & Desamor

Organizador: Ivan Pinheiro Machado
Edição:
Editora: L&PM
Ano: 2016
Páginas: 96
ISBN: 9788525428592
Sinopse:  O amor em todas as suas facetas, inclusive a do desamor, sempre inspirou os mais belos versos da língua portuguesa. Este pequeno volume reúne preciosidades da obra lírica de grandes autores como Olavo Bilac, Florbela Espanca, Basílio da Gama, Cláudio Manuel da Costa, Luís de Camões, Machado de Assis, Castro Alves, Augusto dos Anjos, que souberam, como poucos, celebrar o amor e chorar o desamor.

O Auto da Maga Josefa – Paola Siviero

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Em primeiro plano, recorte da capa do livro, com fundo vermelho e o titulo:
Em primeiro plano, recorte da capa do livro, com fundo vermelho e o titulo: "O Auto da Maga Josefa", na base, o nome da autora Paola Siviero. No fundo parte de um desenho de animal semelhante a asno, em traço de estilo xilogravura nordestina.

Toninho cresceu em uma família de caçadores de seres sobrenaturais e foi treinado desde criança para encontrar criaturas que procuram fazer mal a seres humanos e eliminá-las. Lembra certa série? Lembra sim. Mas as semelhanças de O Auto da Maga Josefa param nessa premissa.

Supernatural Nordestino

Quando soube desse livro logo imaginei que a caracterização da região Nordeste fosse ficar ruim, talvez ofensiva, mesmo sem intenção. Ao começar a leitura realmente estava achando exagerado, até perceber que além de se passar no interior, a trama acontece ali por volta da década de 1950. Parei para refletir e percebi que na verdade estava muito bem caracterizado: a autora conseguiu transmitir não apenas o modo de falar, mas também os costumes dos diferentes estados. Fica aqui minha solidariedade ao Toninho por ninguém entender o porquê de não ser muito chegado à tapioca.

Mas vamos à trama de O Auto da Maga Josefa. Toninho estava em uma de suas andanças, tentando exorcizar um demônio que constantemente fugia para possuir outros corpos, até topar com Josefa, uma maga. Neste mundo, as magas são filhas do próprio demônio com uma mulher humana e que graças a isso possuem longevidade e poderes mágicos, mas já nascem com a alma condenada ao inferno.

Os dois se unem para expulsar esse demônio e, ainda que desconfiados um com o outro, resolvem começar uma parceria para acabar com outras criaturas que assolam a região.

A partir daí temos um caso diferente por capítulo, deixando o livro com cara de coletânea de contos, sendo sua ligação o desenvolvimento do companheirismo entre Toninho e Josefa. Assim, a história melhora a cada capítulo, trazendo diferentes criaturas, mistérios e bom humor.

O mistério que permeia o livro todo é o que Josefa realmente deseja. Afinal, ela é poderosa o bastante para não precisar da ajuda de um humano. Vamos descobrindo pistas sobre isso ao longo da história, enquanto os dois protagonistas constroem sua amizade. Mas para mim o melhor do livro são os casos em si. Paola Siviero trouxe criaturas de diversas culturas, apresentando explicações criativas para justificar a presença de certas criaturas no interior nordestino como vampiros e lobisomens.

Mas é bom?

É muito bom! É divertido, criativo e diferente.

Para quem já leu ou não se importar com spoilers, o pessoal do Covil de Livros fez um podcast sobre O Auto da Maga Josefa, que aliás foi por onde conheci.

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Ficha Técnica

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Nome: O Auto da Maga Josefa
Autor: Paola Siviero
Editora: Dame Blanche
Ano: 2018
Páginas: 250                                          ISBN: B07GSGWFMC
Sinopse: Toda lenda tem raízes na realidade e Toninho sabe disso melhor do que ninguém – a seca é apenas uma das muitas maldições que assolam o Agreste. Fantasmas, vampiros e gigantes não assustam esse jovem caçador de demônios, mas ele se surpreende ao conhecer a misteriosa Josefa, que também percorre as estradas áridas do Nordeste atrás de criaturas malignas. As intenções da maga em lutar contra os seres de outro mundo talvez sejam obscuras, mas a jornada ao seu lado certamente será uma aventura inesquecível…

Terminal 9 – Conto

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Desenho em computação gráfica do interior de um quarto no estilo de comodos espaciais, uma cama de solteiro com dois travesseiros e um lençol caindo, algumas fotos coladas na parede logo ao lado, e uma janela que mostra uma paisagem com prédios futuristicos e montanhas ao fundo.
Desenho em computação gráfica do interior de um quarto no estilo de comodos espaciais, uma cama de solteiro com dois travesseiros e um lençol caindo, algumas fotos coladas na parede logo ao lado, e uma janela que mostra uma paisagem com prédios futuristicos e montanhas ao fundo.

Sobre os ombros, Larsson estudou a garota na fila de embarque.Tinha traços delicados, embora os cabelos estivessem pintados de branco e os lábios se destacassem com um roxo tão reluzente quanto neon. Desviou o olhar quando ela notou seu súbito interesse.

“Alguma coisa aconteceu”, pensou. “Era para ele já ter aparecido.”

Projetores passavam uma propaganda de adesivos de nicotina, onde uma ruiva com uma roupa preta colada ao corpo os exibia no pescoço. Larsson preferia fumar da maneira tradicional, mas isso passara a ser proibido devido ao excesso de poluição no ar. Uma grande piada, no final das contas, visto que não havia como monitorar todos os lugares e, nos becos mais escuros, ninguém se importava com as regras.

Os seguranças do espaçoporto se aproximavam, portando bastões atordoadores. Sem pressa, percorriam as fileiras do saguão de embarque, escolhendo aleatoriamente pessoas para serem revistadas.

— Você! — um segurança apontou para Larsson. — Venha até aqui.

Contrariado, saiu da fila. Tinha deixado a arma na moto. Não correria o risco de tê-la confiscada por um prazo indeterminado — o porte de arma era restrito, afinal, um disparo indevido em algum ponto da redoma poderia despressurizar o setor.

— Qual o motivo da viagem?

— Negócios — Larsson respondeu.

— Não vai mais voltar à Lua?

— É claro que vou. Meu visto na Terra só se estende por quatro semanas.

— Me mostre o passaporte.

— Está no bolso.

— Sem movimentos bruscos — o segurança segurou firme o bastão como se Larsson tivesse a intenção de atacá-lo.

— Na verdade, vou lhe mostrar um documento que… — parou de falar ao avistar o alvo atravessando o saguão. Deu-se conta que ele escaparia pelo portão de embarque VIP e não seria capaz de persegui-lo ali.

Larsson agiu instintivamente. Afastou-se do bastão do segurança e pressionou um ponto específico em seu pescoço. O homem perdeu os sentidos e desabou no chão. No mesmo instante, um grito de mulher fez com que perdesse o foco no alvo.

Três seguranças cercavam a garota. Um deles deu-lhe uma descarga elétrica com o bastão na perna. Pareciam se divertir com a situação. A maioria das pessoas não estava impressionada com aquela atitude. O espaçoporto era área da Federação e tinha regras próprias.

— Não façam isso! — Larsson pegou-se dizendo.

A garota aproveitou a distração para fugir. O segurança mais próximo puxou a arma, mas Larsson o nocauteou com um soco. Desarmou os outros dois em questão de segundos e foi atrás dela.

— Espere!

Ela era ágil, ultrapassava os obstáculos com uma habilidade fora do comum. Larsson não conseguia se aproximar. Resolveu então tomar um atalho. Só havia um ponto de saída no espaçoporto. Esperou, mas ela não apareceu. Logo se viu sob a mira dos seguranças. Deu um passo para trás com os braços no ar.

— Já estou fora da jurisdição de vocês. A propósito, sou da Polícia Lunar.

O distintivo brilhava na palma da sua mão.

 

***

 

— O que você estava pensando? — gritou Tudor.

Larsson ficou em silêncio. Era o melhor modo de agir com seu chefe. Se ficasse calado, talvez o velho não pegasse tão pesado com ele.

— Em primeiro lugar. O espaçoporto é zona dos terráqueos. Não está sob nossa alçada. Em segundo lugar, não agredimos pessoas sem motivo. Estou com várias denúncias aqui que…

— Mas eles…

Tudor ergueu a mão num gesto autoritário.

— Não terminei. Não há justificativa para o que você fez. Além de ter deixado escapar o suspeito.

— Estou suspenso?

— O que acha?

Larsson jogou o distintivo na mesa.

— A sua arma também.

Saiu da sala, batendo de propósito a porta do chefe. Apostava que vários dos seus colegas de trabalho tinham ouvido os gritos da discussão. Antes de deixar a delegacia, Galder, seu antigo parceiro, veio até ele.

— Foi tão ruim quanto penso que foi?

— Pior. Conseguiu o que lhe pedi?

— O cara está no Bar do Dock. Tenha cuidado, ele é perigoso.

— É? Eu também.

Larsson deixou Galder com seus temores e seguiu de moto até o Distrito 5. Não havia muito trânsito, as pessoas optavam por transportes públicos à noite. Fazia tempo que não ia àquele bar. Da última vez, ele não fora muito bem recepcionado. Puxou o capuz antes de chegar ao estabelecimento. Não queria ser reconhecido, por ora. Havia um porteiro marciano na entrada. Um maço de cigarros e teve a passagem garantida.

Encontrou o homem em um reservado, bebendo algum whisky barato. Ele fez cara de poucos amigos, claramente não querendo ser interrompido.

— Preciso de uma informação, Kron.

— Está com tanta vontade de morrer?

— Resposta errada.

Larsson golpeou o peito do homem com dois dedos e se sentou.

— Não consigo me mover. O que fez comigo?

— Pontos de pressão. Uma técnica que aprendi. Se cooperar, faço você voltar a se mexer. Quero encontrar uma pessoa. Uma garota de estatura baixa, cabelos brancos e…

— Você também?

Larsson puxou Kron pela jaqueta.

— O que quer dizer com isso?

— Costello está atrás da garota. Está pagando uma boa recompensa para quem localizá-la. Se eu soubesse o paradeiro dela, estaria rico agora… Aonde você vai? Vai me deixar assim?

— Vai melhorar dentro de alguns minutos – Larsson deu as costas e rumou para fora do bar.

Mesmo sendo um fantasma, Costello era o homem mais poderoso do submundo. “No que aquela mulher está metida?”, refletiu, ao subir na moto.

Um movimento despertou o seu interesse. Penetrou na penumbra do beco com cautela, mas foi rendido por uma faca no pescoço. Aquela garota era mesmo sorrateira.

— Estava à sua procura — ele falou.

— Por que me ajudou?

— Não gosto de verem ameaçar uma mulher indefesa.

— Não sou tão indefesa assim, detetive Larsson.

— Estava me seguindo? — esboçou um sorriso.

A garota concordou com a cabeça.

— Fiquei sabendo que pisou no calo do Costello. Sempre achei que ele fosse uma espécie de lenda. Ninguém jamais o viu e, se viu, não viveu para contar a história.

— Ele é real. Conheço bem o rosto dele.

— Por isso estava fugindo?

— Não, foi porque roubei os seus planos.

— Se incomoda de abaixar essa faca?

— Vai tentar alguma coisa contra mim?

— Só quero conversar. Pode me dizer o seu nome?

Ela retirou a faca, mas a manteve em mãos.

— Allana.

— Teve sorte de escapar do espaçoporto.

— Teria mesmo se tivesse conseguido fugir para a Terra. Aqueles seguranças estão na folha de pagamento de Costello. Ninguém deixa a Lua sem a permissão dele.

— Ele pode ser perigoso, mas não é tão poderoso assim.

— Você não faz ideia. Acreditaria na minha palavra se o conhecesse.

Larsson voltou-se para dois sujeitos que pararam na entrada do beco.

— Dêem o fora! — falou. Depois fitou Allana nos olhos. — Você disse planos? O que pode ser tão importante para colocarem uma recompensa pela sua cabeça?

— Costello pretende assassinar um importante político terráqueo. Nos planos constam detalhes do atentado e o itinerário do alvo.

Larsson cofiou a barba rala do queixo. Checaria depois se algum político da Terra visitaria a Lua nos próximos dias ou semanas. Não era tão incomum assim.

— Só uma coisa não se encaixa.

— O quê? — ela quis saber. Seus lábios cintilavam na escuridão.

— Como conseguiu esses planos?

— Foi muito fácil. Costello é meu pai.

 

***

 

“Devo estar louco em seguir com isso”, avaliou Larsson ao estacionar a moto. Allana puxou o binóculo e fiscalizou o lugar. Depois, passou para ele. Ao longe, dentro de uma cratera, era possível ver a instalação de perfuração e expansão.

Allana indicou um galpão de teto baixo. Lugar perfeito para um covil. Estavam tão afastados do centro que demoraram horas para chegar. Tiveram que percorrer caminhos sinuosos, estradas que Larsson jamais pensou existir. Já era dia, apesar de a cidade ser sempre iluminada. O sol não atravessava as redomas de proteção, então os lunares viviam dias perpétuos. Havia apenas um controle de intensidade de luz, o que possibilitava identificar quando anoitecia.

— Não conheço esse lugar.

— Aqui é o Terminal 9. É um dos pontos de expansão, mas não está mapeado. Costello não está preocupado em expandir. Ele está escavando, criando no subsolo uma cidade dentro de outra cidade.

— Como é possível um gângster dirigir esse centro de expansão?

— Já lhe disse para não subestimá-lo. Ele é uma pessoa pública, muito influente na prefeitura.

— Você ainda não me falou o verdadeiro nome dele.

— Saber irá colocá-lo em perigo.

— Estou acostumado. Vai me dizer ou não?

Allana hesitou por um instante, estudando a determinação do detetive.

— Ness Volmann — disse, por fim.

— O vice-prefeito? E o que ele ganha ao assassinar esse político terráqueo?

— Não sei.

Larsson voltou-se novamente para o terminal.

— São presidiários? — observou dezenas de pessoas saindo de um prédio e entrando no galpão. Todas vestiam as roupas amarelas do sistema penal. — Eles deveriam estar nas prisões de Marte, não aqui. Como nunca soubemos disso?

— A cidade está crescendo, detetive. Você sabe bem que a força policial não dá conta dos incidentes que ocorrem no centro e nas periferias, lutando dia a dia para impedir a disseminação do caos. Não é mais possível estender os olhares para todas as direções. Todos estão ocupados demais para sequer prestar atenção ao que acontece a duzentos quilômetros de distância do centro.

Larsson franziu a testa.

— É só descer por aquela rampa de acesso. Há alguns pontos com escadas que levam diretamente ao subsolo… O que foi?

O detetive se encaminhava lentamente para a moto. Ao se virar, disse:

— Eu sei farejar uma armadilha.

A garota foi mais rápida do que Larsson esperava. Acertou seu joelho, tirando o seu equilíbrio. Outro chute lhe atingiu a barriga e ele se retorceu, sem fôlego, no chão.

— Estou ficando velho — resmungou, buscando a arma na bota.

— Procurando isso?

Antes que pudesse pensar como ela havia tomado a sua arma, um veículo parou na estrada. Dois brutamontes desceram, escoltando um homem calvo. Não estava com a farda oficial da prefeitura, mas Larsson reconheceu imediatamente o rosto.

— Volmann — cuspiu no chão. — Vai passar o final dos seus dias quebrando pedras em Marte.

O vice-prefeito riu da afronta.

 

***

 

A água no rosto o despertou.

— Olhe para mim!

Larsson não identificou o interlocutor. Ainda estava atordoado,  mas o soco no estômago reavivou seus sentidos. Era um dos brutamontes. O detetive estava amarrado a uma cadeira e o vice-prefeito o observava. Allana permanecia indiferente ao seu lado.

Depois de um novo golpe, ouviu a voz de Volmann:

— Pode parar, Vox. Acho que o detetive Larsson vai prestar mais atenção agora em nossas palavras.

— Ele não parece estar intimidado — a garota falou.

— O que querem de mim?

Volmann se avizinhou e disse próximo ao ouvido de Larsson:

— Baruk Von Nitz. Por que você o estava vigiando?

— Assunto policial.

Desta vez, foi o próprio Volmann quem lhe golpeou.

— Podemos continuar por horas e horas, detetive. Vai chegar um momento que você vai implorar para contar.

— É melhor cooperar — aconselhou a garota.

Larsson analisou a situação e resolveu ceder. Não havia motivos para guardar segredo quanto a Nitz.

— Ele é suspeito do assassinato de pelo menos três mulheres. — A expressão de Volmann se suavizou. — Estava de olho nele há duas semanas, mas Nitz desapareceu. Obtive depois a informação, pela controladoria de registros de embarque, que deixaria a Lua.

— Entendo — Volmann assentiu.

— Não vou deixar que mate um dos políticos da Terra.

— Você acredita mesmo que eu teria algum interesse nisso? Acha que Allana é mesmo minha filha? — riu o vice-prefeito. — Ela executou bem o seu trabalho. Agora vamos dar uma volta pelo Terminal 9.

Os brutamontes escoltaram Larsson enquanto se aprofundavam por corredores, cada vez mais para o subsolo. A técnica de pressão do detetive não surtiria efeito contra a força bruta daqueles capangas. Mesmo se os derrotasse, ainda teria que lidar com Allana. Seguiu, assim, os passos do vice-prefeito, que se vangloriava da construção.

— Vou lhe apresentar um amigo — disse, batendo na porta.

O detetive não acreditou nos seus olhos.

— Como é possível?

Aquela pessoa era idêntica a ele.

— Milagres da cirurgia plástica — Allana respondeu. — Já troquei de rosto três vezes. Estamos de olho em você faz tempo, estudando todos seus movimentos.

— O que esperam se passando por mim?

— Instaurar uma nova ordem, é claro — Volmann falou com entusiasmo. — Depois que o chefe de polícia for morto na própria sala pelo seu sósia, convencerei o prefeito a criar uma milícia especial comandada por mim. Sou um visionário, detetive.

— Seu plano não vai dar certo.

Um dos brutamontes o ergueu pelo pescoço. Larsson resistiu à pressão do aperto até ficar sem ar e desmaiar.

 

***

 

Encontrava-se agora numa sala lacrada. Uma janela circular reforçada mostrava a superfície da Lua. Sempre desejara viajar pelo espaço, desbravar outros planetas. Se tivesse nascido na Terra haveria a oportunidade de se alistar na Academia da ONU e se tornar um dos tripulantes das naves exploratórias. Um sonho de criança que se perdera no tempo.

— Gostou da vista? — era a voz de Allana. Vinha de outro lugar, possivelmente da sala ao lado.

Larsson sabia o que aconteceria. Aquele era o lugar em que Volmann despejava suas vítimas. A porta se abriria e ele seria lançado na superfície.

— Você me enganou desde o princípio.

— Dei o nome real de Costello para que confiasse em mim — ela explicou. — Não se recrimine tanto.

— Na verdade, tenho que lhe agradecer. Eu sabia que Nitz tinha ligações com Costello. Só foi questão de ver onde essa insistência de persegui-lo me levava. A força-tarefa da polícia já deve estar tomando os setores do império de Costello. Desculpe, mas acho que enganei todos vocês.

A porta pressurizada se abriu com um chiado. Allana avançou com a faca na mão.

— Sabíamos até mesmo do infiltrado na polícia — ele continuou. — Só faltava descobrir a localização do Terminal 9 e a identidade de Costello.

A faca dela mirava o coração, mas ele bloqueou o ataque. A lâmina rasgou a carne e chegou a atravessar o braço. Com a proximidade, a guarda dela ficou exposta. O detetive a atingiu em um ponto abaixo da costela esquerda. Allana recuou, aturdida. Um fio de sangue escorreu pelo seu nariz. Ela levou a mão ao pescoço, sem ar. Quando ficou inconsciente, Larsson reativou sua respiração. Esperava que a garota não tivesse sequelas depois daquele golpe, mas não havia como saber até ela acordar.

Rasgou um pedaço do tecido da calça e improvisou um torniquete. Minutos depois, Tudor apareceu na porta.

— Galder era o informante, como você suspeitava.

— Prenderam todos?

— Toda a gangue. O prefeito não vai acreditar quando descobrir que Volmann estava por trás de tudo.

— Avise pelo rádio para procurarem um sujeito idêntico a mim. Torça para que ele não tenha escapado. Não quero minha foto estampada em todos os muros da cidade.

O chefe de polícia concordou.

— Mais uma coisa, Tudor. Preciso de férias.

— Férias? Certo, vou lhe dar dois dias.

— Dois dias? Prefiro sangrar aqui até a morte.

— Não posso deixar que faça isso. O prefeito vai querer cumprimentá-lo pessoalmente. Mas não se preocupe. Vou chamar um médico antes que morra — disse Tudor, saindo da sala.

Larsson observou o espaço mais uma vez, encostado no aço frio. As estrelas estavam mais brilhantes que nunca. Fechou os olhos, sentindo-se cansado e vazio por dentro. Uma garrafa de whisky resolveria seu problema até o próximo caso. Sempre resolvia.


Rafael F. Faiani é escritor, engenheiro e cinéfilo. Nasceu no dia da mentira em Cravinhos, estado de São Paulo. Apesar de não ser mentiroso, inventa histórias o tempo todo. Tem contos espalhados pela Internet e em antologias no Brasil e Portugal.

Star Wars: A Trilogia – George Lucas e Outros

Recorte da capa do livro. Fundo preto com uma mancha branca pontilhada indistinguivel à direita. À esquerda um selo dourado, dentro do selo, no topo em preto, o texto:
Recorte da capa do livro. Fundo preto com uma mancha branca pontilhada indistinguivel à direita. À esquerda um selo dourado, dentro do selo, no topo em preto, o texto: "Especial Edition". Na base do selo, em preto, o nome da editora Darkside. No centro do selo, em fundo preto, o título: "Star Wars A Trilogia", na fonte oficial da marca.

Há várias maneiras de se enxergar Star Wars. A luta de um império contra rebeldes, um garoto vindo do nada que foi muito além dos seus sonhos e por aí vai. Depois de ler Star Wars: A Trilogia da Dark Side tive outra conclusão:

Há muitas galáxias e em cada pedacinho delas você pode viver uma aventura.

É diferente do filme?

No inicio da leitura desta linda edição, eu insistia em fazer um check-list na minha cabeça:

  • Isso tem no filme?
  • Não lembro exatamente dessa cena…
  • Será que terei que assistir a trilogia clássica outra vez?

Parei, respirei e decidi encarar o livro como um livro. A partir desse momento tudo se transformou. O ritmo aventureiro e cheio de bons diálogos começou a me conduzir. Os filmes foram deixados de lado e senti que estava vivendo algo totalmente novo. C3PO passou a ser muito mais engraçado, Tatooine e outros cenários foram ganhando vida e a personalidade cheia de expectativa de Luke me conquistou. Esses “novos” momentos, esse desbravar do livro sem se preocupar com a mídia cinema já vale a experiência por si só. Mas a Star Wars: A Trilogia vai além.

Uma escolha foi feita

Nessa adaptação o autor escolheu alguns aspectos para usar de forma pesada a sua mão de escritor. E tenho que dizer que fez a escolha certa. Em todo livro é criada uma atmosfera densa e pesada envolvendo Darth Vader. Me ajeitava no sofá e apertava o livro com mais força sempre que o vilão aparecia. Esse mesmo esmero também é adotado nas batalhas com sabre de luz. Não temos lutas rápidas e cheias de pirotecnia. O autor sabe criar tensão e novamente prende o leitor em uma atmosfera única. Parece que toda a galáxia se apaga e só há dois homens, e dois sabres.
A experiência vivida.

Essa leitura acabou me obrigando a enxergar a franquia com mais calma. O “roteiro” é muito bem feito. O treinamento de Luke ganhou um significado mais profundo. Pude enxergar a importância de se manter parado, não reativo. Não se mover sempre está relacionado a servir e não atacar. Atitudes simples que levam ao lado da luz e não ao lado negro. Vendo agora parece óbvio. Quando vi o filme não notei isso. Se você ler a obra pode ter esses descobrimentos. Tive mais destas sacadas com Han Solo, C3PO e Darth Vader.

A literatura é usada nas coisas grandes e nas pequenas. O autor precisa de poucas frases para dar mais vida para Wedge Antilles, para mostrar a importância de Mon Mothma e Almirante Ackbar. Há momentos que o autor está sem nenhuma amarra e usa a personalidade de Lando Calrissian para brincar com a narração. Achei isso criativo e o narrador ganhou mais vida.

Sempre existirá um lado negro

Em algumas batalhas, principalmente nas espaciais, a sensação de urgência, o ritmo frenético e todo o panorama são transmitidos e mostrados. Infelizmente isso não se mantém em todos os momentos de Star Wars: A Trilogia. Em algumas batalhas com vários personagens fiquei perdido: eu não conseguia me situar na cena criada. Pensava que o personagem estava em um canto e ele estava em outro. E perguntas do tipo “Como ele chegou ali?” surgiam na minha cabeça. Essa mesma pontuação pode ser feita em relação as descrições. Criaturas são bem descritas e foi fácil imaginá-las. Naves e veículos, em sua maioria, possuem só o nome e nenhum tipo de descrição. Isso não interfere de nenhuma maneira na experiência (já vi as naves e veículos nos filmes e recorri as lembranças).

Aquela sensação transmitida ao assistir os filmes pela primeira vez é praticamente impossível de ser replicada. Acredito que os idealizadores desse livro sabem disso e fizeram uma outra experiência. Vale muito a pena consumir toda a identidade e a mitologia de Star Wars através das palavras.

Aventure-se. Explore essa franquia através dos livros.

Nota

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Ficha Técnica

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Nome: Star Wars: A Trilogia
Autor: George Lucas, Donald F. Glut e James Kahn (Adaptação)
Tradução: Antonio Tibau (Episódio IV), Alexandre Matias (Episódio V), Érika Lessa e Peterso Rissatti (Episódio VI)
Edição:
Editora: DarkSide Books
Ano: 2014
Páginas: 528
ISBN: 9788566636260
Sinopse: A saga que atravessou o espaço e inúmeras gerações de fãs retorna ao público brasileiro em grande estilo. As histórias clássicas de Luke Skywalker, Han Solo, Princesa Leia, Mestre Yoda e Darth Vader ganham as páginas luxuosas de Star Wars, A Trilogia. A obra reúne os romances inspirados nos três primeiros filmes do universo fantástico criado por George Lucas: Uma Nova Esperança, O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi. Os três títulos chegaram a ser lançados no Brasil, sendo o último deles em 1983. Mas esta é a primeira vez que a trilogia completa é editada em nosso país num único volume, em capa dura. O acabamento segue o padrão quase psicopata de qualidade da editora DarkSide.

Boteco dos Versados 17 – A Espada do Destino

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Vitrine do episódio, tem uma coluna na esquerda, com a logo do Boteco dos Versados acima, a logo do Leitor Cabuloso no centro e o número do episódio, 17, abaixo. Em destaque, um recorte da capa do livro A Espada do Destino, uma mulher branca de cabelos negros e olhos cor de violeta vestindo preto está centralizada, um gavião negro repousa em um dos seus braços, e a frente está destacado o nome do livro.
Vitrine do episódio, tem uma coluna na esquerda, com a logo do Boteco dos Versados acima, a logo do Leitor Cabuloso no centro e o número do episódio, 17, abaixo. Em destaque, um recorte da capa do livro A Espada do Destino, uma mulher branca de cabelos negros e olhos cor de violeta vestindo preto está centralizada, um gavião negro repousa em um dos seus braços, e a frente está destacado o nome do livro.

E aí, chefia, seja bem-vindo ao Boteco dos Versados!

Hoje falaremos do livro A Espada do Destino, o segundo livro da saga do bruxo Geralt de Rivia, do escritor polonês Andrzej Sapkowski.

Assim como O Último Desejo, esse livro é um compilado de contos que visam apresentar novos elementos desse universo fantástico criado pelo autor.

Através desses seis contos, conheceremos muito mais sobre o cenário de The Witcher e nos aprofundaremos nas relações dos personagens.

Dragões, sereias, anões, ananicos e muitos conflitos ético-morais aguardam nosso protagonista nessa obra.

 

Para esse episódio, nossos hosts recebem:

O Capitão Ace Barros do Multiverso X.

Iuri Antonio, o jornalista fake,

JJ Manrique, que pedimos desculpas pelo áudio desde já.

 

Leia a resenha de A Espada do Destino lá no Multiverso X.

Ouça o episódio do Multiverso X sobre a Saga do Bruxo Geralt de Rivia.

Aliás, se gostou do episódio, então venha falar conosco! Portanto, assine o nosso FEED e siga as redes sociais do Leitor Cabuloso para ficar sabendo de mais notícias do mundo dos leitores.

Primordialmente, não se esqueça de seguir o Boteco nas redes sociais: @botecoversados

Então, deixe seu comentário dizendo o que achou do livro e do podcast. Se puder, ajude o programa ser conhecido por mais pessoas divulgando nas suas redes sociais. Isso não custa nada para você, mas faz uma imensa diferença para nós! Vamos espalhar amizades e livros por aí!

O Bom Partido – Curtis Sittenfeld

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Recorte da capa do livro, um fundo vermelho claro, com duas alianças entrelaçadas. No topo, o nome da autora Curtis Sittenfeld, no centro, o título: O Bom Partido. Na base, a frase:
Recorte da capa do livro, um fundo vermelho claro, com duas alianças entrelaçadas. No topo, o nome da autora Curtis Sittenfeld, no centro, o título: O Bom Partido. Na base, a frase: "Uma versão moderna e emocinante do clássico Orgulho e Preconceito". Tudo em letra cursiva.

É uma verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro e muito rico precisa de uma esposa, principalmente se há dois anos esse homem participou de um reality show chamado O Bom Partido, que tem como objetivo encontrar o par ideal para o solteiro cobiçado da temporada. Quando Chip Bingley chega a Cincinnati para trabalhar como médico no pronto-socorro, a senhora Bennet tem toda certeza que ele é um marido em potencial para uma de suas filhas, afinal, não é sempre que se conhece um herdeiro que apareceu na televisão, se formou em Harvard, e acima de tudo, está solteiro.

Resumo

As irmãs Bennet continuam solteiras, e essa é a grande preocupação de sua mãe, afinal Jane, a mais velha das filhas, está para fazer 40 anos, e por mais que ela seja uma mulher independente que mora sozinha em Nova York e é instrutora de Yoga continua solteira, assim como Liz, que tem trinta e oito e aparentemente nenhum relacionamento por estar ocupada demais escrevendo para a revista feminina Rímel. Mary, que está em seu terceiro mestrado a distância e que passa maior parte do dia trancada em seu quarto na mansão estilo Tudor que o senhor Bennet herdou dos pais, e onde moram suas outras filhas, Kitty e Lydia, jovens bonitas e que passam seu tempo no crossfit ou pintando as unhas.

Apesar de todas as qualidades das jovens Bennet elas continuam sem marido, mas a chegada do doutor Chip Bingley à Cincinnat pode resolver a situação. Solteiro, bonito, simpático, e por que não, rico, está evidente que o doutor e Jane se interessam um pelo outro, mesmo que Liz e o amigo de Chip, o neurocirurgião Fitzwilliam Darcy, não tenham tido a mesma sorte. Na verdade, Liz o achou tremendamente orgulhoso, assim como Caroline, irmã de Chip. Mas, como as primeiras impressões, mesmo sendo as que ficam, não são necessariamente as corretas, Liz vai descobrir que os preconceitos podem cair por terra quando conhecemos as pessoas, ou não.

Porque clássico é clássico, mas pode ser atualizado.

Uma versão moderna de “Orgulho e Preconceito”, de Jane Austen, O bom partido apresenta as irmãs Bennet no século XXI e os conflitos que as mulheres enfrentam nos tempos atuais. Se agora elas se preocupam com carreira, estudos, independência financeira e realização pessoal, ainda se deparam com a cobrança de ter um relacionamento, cuidar da aparência, filhos e o prazo de validade de seus ovários (duzentos anos se passaram e nem evoluímos tanto assim).

A boa surpresa é que a história não fica limitada à Liz, sim, o ponto de vista ainda é o dela, e é pela lente dela que nos vemos os outros personagens, mas todas as irmãs Bennet tem seus atrativos, deixando de ser apenas figurante para a Lizzie mostras o quanto é mais inteligente do que as outras, e a inclusão de personagens diversificados dão mais assuntos para a trama, mostrando os diferentes tipos de preconceito, e que, apesar de todos nós os possuímos, precisamos estar abertos para nos surpreendermos.

Nota

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Ficha Técnica

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Nome: O Bom Partido
Autor: Curtis Sittenfeld
Edição:
Tradução: Alexandre Barbosa de Souza
Editora: Essência
Ano: 2019
Páginas: 319
ISBN: 9788542215571
Resumo: Uma versão moderna e emocionante do clássico Orgulho e preconceito. Uma versão da família Bennet – e de Mr. Darcy – como você nunca viu antes. Liz trabalha como escritora em uma revista e, assim como Jane, sua irmã mais velha instrutora de yoga, mora em Nova York. Preocupadas com os recentes problemas de saúde do pai, elas voltam à cidade onde nasceram para ajudar – e acabam descobrindo que tanto a bela casa em que cresceram quanto sua família estão desmoronando.
As irmãs mais novas Kitty e Lydia estão ocupadas demais com seus treinos de CrossFit e dietas para arranjar empregos. Mary, a irmã do meio, está fazendo seu terceiro mestrado à distância e quase não sai do quarto, exceto para suas aventuras misteriosas nas noites de terça. E a Sra. Bennet só pensa em uma coisa: como casar suas filhas, especialmente com o aniversário de quarenta anos de Jane se aproximando. Até que chega à cidade o cobiçado médico Chip Bingley, famoso por ter participado do reality show Bom Partido.
Em um churrasco de Quatro de Julho, Chip e Jane se interessam imediatamente um pelo outro, mas seu amigo neurocirurgião Fitzwilliam Darcy não tem a mesma sorte com Liz.
Primeiras impressões, porém, podem estar erradas.

Um lugar para todos – Thrity Umrigar

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Um lugar para todos, de Thrity Umrigar, é um romance construído a partir das histórias de vários personagens, todos moradores do edifício Wadia, localizado em Bombaim. O acontecimento central da trama é o casamento de Mehernosh Kanga, o jovem filho do morador mais bem-sucedido do prédio e que cresceu em contato com todos os seus moradores. A festa, seus preparativos e rituais, conduzem os moradores a diferentes reflexões sobre suas vidas por meio de lembranças.

Múltiplas tramas

O livro não apresenta muita ação, sendo que a maior parte do seu desenvolvimento acontece no plano da memória. Cada personagem é conduzido a rever sua vida, por conta do casamento. Rusi Bilimoria relembra sua expectativa de fazer sucesso nos negócios, frustrada, assim como seu casamento. Dosamai, a viúva fofoqueira do prédio, vê-se lembrando do marido, do filho e das amarguras que lhe foram impostas com um casamento arranjado que impossibilitou seus sonhados estudos.

A cada capítulo, o interior de um personagem é explorado. Alegrias, tristezas, arrependimentos… Cada trama é única ao ser desnudada para o leitor.

Um retrato de Bombaim

O livro também é um retrato da transformação sofrida por Bombaim com a sua modernização. As mudanças da cidade acompanham as lembranças dos personagens, que veem com alguma nostalgia o passado da cidade.
No plano presente, a obra também expõe a diferença entre as classes sociais da cidade, num acontecimento inesperado em meio ao festejo de casamento. O ocorrido desperta, mais no leitor do que nos personagens, um olhar para o triste ciclo de pobreza e de dependência social de cidades urbanizadas e superpopulosas.

Além disso, o enredo apresenta muitos elementos culturais da cidade de Bombaim. Costumes, religião, preconceitos, uma série de elementos culturais próprios dos moradores da cidade é retratada.

Pouca ação numa escrita delicada

O livro não desenvolve muitos acontecimentos, muita ação alucinante. Como acompanhamos a vida de pessoas distintas a partir da memória, as cenas descritas são intercaladas por reflexões, então esta não é uma obra de leitura muito rápida.

Ainda assim, Um lugar para todos é um livro gostoso de ler e em nenhum momento se torna maçante. Isso porque somos conquistados pelas diversas personalidades transcritas e queremos descobrir como irão se desenrolar as situações de cada uma.

A escrita de Umrigar carrega sensibilidade na medida, para emocionar e movimentar a leitura sem transformá-la em um dramalhão. A linguagem é direta, simples de compreender. Nem mesmo os termos mantidos no idioma parse, falado pelos personagens, atrapalha a leitura, pois são facilmente identificáveis pelo contexto.

Uma obra sobre a vida real

Como todo o romance se volta para o interior e o psicológico dos personagens, essa é uma obra intimista, em que facilmente nos identificamos com os sentimentos descritos. Torcemos pelos personagens, queremos que seus projetos deem certo, esperamos que suas vidas sigam caminhos de felicidade. Não acontece para todos e nisso, essa obra é muito fiel à realidade.

Assim como os moradores do Wadia, começamos a vida na juventude recheados de sonhos e projetos, amores e expectativas. Ao longo da vida, nem tudo funciona como gostaríamos e muitas vezes precisamos lidar com o fracasso ou a infelicidade. Isso, no entanto, não deve ser motivo para desistências.

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Ficha Técnica

Título: Um lugar para todos
Autora: Thrity Umrigar
Edição:
Editora: Nova Fronteira
Ano: 2008
Páginas: 298
ISBN: 978-85-209-2192-0
Sinopse: No casamento de um jovem morador de um prédio de classe média em Bombaim, homens e mulheres dessa comunidade ímpar se reúnem e recordam sua juventude, refletindo sobre as mudanças que os anos trouxeram. As vidas desses parses que cresceram juntos no edifício Wadia são reveladas em toda a sua complexa humanidade: a decadência de Adi Patel devida ao alcoolismo, a língua afiada da fofoqueira Dosamai, a traição e a dor-de-cotovelo de Soli Contractor. Testemunha de tudo isso, Rusi Bilimoria, um empresário desiludido, luta para encontrar o sentido da própria vida e manter unida uma comunidade prestes a se fragmentar.

Um lugar para todos é uma obra que demonstra a pluralidade humana e a realidade de uma cidade e de pessoas em transformação. É uma leitura que mexe com a percepção do leitor sobre a vida!

Falha Crítica 248 – Uncharted!!!

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No lado direito, uma coluna de fundo preto com o texto: Podcast Falha Critica, abaixo em fundo vermelho, o número 248. No lado esquerdo, um homem de frente, cabisbaixo e segurando uma arma, no fundo, uma motagem com um templo, uma caveira e a mão esquerda de alguem, todos encobertos por névoas, e um anel visto de perto.
No lado direito, uma coluna de fundo preto com o texto: Podcast Falha Critica, abaixo em fundo vermelho, o número 248. No lado esquerdo, um homem de frente, cabisbaixo e segurando uma arma, no fundo, uma motagem com um templo, uma caveira e a mão esquerda de alguem, todos encobertos por névoas, e um anel visto de perto.

Bem vindos jovens desbravadores e saqueadores de tesouros perdidos!!!

Se preparem pra muito amor, muita gente rasgando seda, e falando sobre essa série de jogos tão amada por todo Sonista que se preze e todos os fãs de jogos com um minimo de bom senso, sim, Edu e Rick, sentam na frente de seus computadores pra falar sobre essa que é a melhor série de jogos já feita nesse mundão velho dos deuses!

Sim, eles vão falar de Uncharted (caso o título não seja obvio! Então, se preparem pra ouvir tudo da saga de Nate Drake, Elena Fisher e Victor “Sully” Sullivan (além de todos os outros amigos que não vou citar aqui se não isso seria um textão maior que aqueles famosos do Facebook, mas que serão citados com muito amor e carinho no podcast!)

E sim, os meninos abordam tudo no podcast da série principal, falam do Uncharted: Drake’s Fortune, Uncharted 2: Among Thieves, Uncharted 3: Drake’s Deception, Uncharted 4: A Thief’s End e Uncharted: The Lost Legacy (que meio que não é bem da série principal, por não ter numero, mas segue a história, e a gente ama a Chloe e lide com isso), não tem como abordar tudo pois a série tem livros, quadrinhos, e jogos de outras mídias (celular e PSPs da vida) e futuramente filmes (além de um fã-filme maravilhoso, lindo, fofo e tudo de bom, que provavelmente é melhor do que o filme que vem por ai, duvida? Então assista ele clicando AQUI)!

Então, coloquem seus fones de ouvido, entrem em uma cidade perdida e divirtam-se!!!

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