Aladdin é um marco na minha infância. O carisma do gênio aliado às aventuras de um personagem cheio de heroísmo me conquistaram. Personagem divertido ao lado de um herói estava presente em várias obras que não são lembranças revividas pela minha nostalgia. Por que o fantástico mundo árabe da Disney persiste em me encantar? Ao ler O Castelo no Ar de Diana Wynne Jones pude entender a origem do meu fascínio.
Outra Cultura
Não vou dizer que a Disney nos anos 90, através de uma série animada e de um filme, fez um tratado cultural sobre os costumes de boa parte do Oriente Médio. Porém, ao ver o visual estético das animações pude conhecer um novo modo de se vestir, uma arquitetura diferente e o urbano sendo apenas um detalhe no meio do deserto. Tanto em Aladdin quanto em O Castelo no Ar há uma preocupação em mostrar os turbantes e os mantos em vez das calças e das camisas ocidentais.
Nas narrativas, a vestimenta é algo importante. Aladdin e Abdullah precisam ter uma roupa de gala para demonstrar que não estão dominados pela pobreza. E, nas duas histórias, um terno “padrão” comprado em uma loja de grife não resolve o problema. Um traje de gala parece ser uma roupa feita para um príncipe que somente uma pessoa pode usar. Este não seguir uma nobreza pré-estabelecida e se mostrar único, tanto em relação ao homem como também a mulher, é bem demonstrado nas duas obras.
Jasmine e Flor da Noite não seguem o padrão: vestido, coroa e colar de diamantes. Cada uma tem um estilo fino, belo e único. O mesmo pode-se dizer do momento em que Aladdin e Abdullah desejam se apresentar para as grandes paixões.
Um flerte com a vanguarda
As princesas devem ser destacadas. Há o clichê da donzela em perigo, porém, elas possuem desde o início um respeito pela própria cultura e uma curiosidade sobre o mundo fora dos palácios. Ambas são personagens do século passado, filhas de sultões e longe de serem submissas. Questionam não só os pais como também os pretendentes, bolam planos, se colocam em direção aos perigos e adoram fazer descobertas. Elas estão a frente do tempo e estimulam o empoderamento.
O árabe e o europeu
Nas duas histórias existem a figura de poder político e de poder mágico. Não existe uma relação entre elas como é comum nas fantasias clássicas medievais. Refiro-me aos reis que possuem à disposição um mago ou um estudioso do oculto. Em Aladdin, Jafar cumpre a tarefa de conselheiro do líder sem mostrar o conhecimento que possui sobre magia. Ao terminar de ler O Castelo no Ar, fica evidente a separação entre o sultão e o poder fantástico representado na figura dos Djinns. Ainda esmiuçando este ponto, na história pregressa escrita por Diana Wynne Jones, intitulada de O Castelo Animado, é nítido como o mago é uma figura associada ao poder político e não independente.
Vilões e heróis
Jafar e a figura ardilosa que envolve a vida de Abdullah possuem semelhanças que me fizeram refletir sobre diversos pontos. Antagonistas, malfeitores e os personagens vilanescos, nas obras ocidentais, costumam ser retratadas como figuras horrendas. É claro que existem as exceções, e, mesmo nelas, o belo tem uma conotação sedutora ou é colocado em conflito com a beleza “pura” do herói, com a simplicidade sem defeitos do inocente ou a bela imagem que irradia justiça de uma liderança. Na obra da Disney e de Diana Wyne Jones os vilões são exuberantes.
O sultão de Aladdin é um bufão atrapalhado. Em contrapartida, Jafar se porta com elegância, usa maquiagem e um traje elaborado com jóias. O sultão, a figura política criada em O Castelo no Ar, não é muito diferente da descrição do pai da Jasmine. E, da mesma forma que em Aladdin, o vilão criado pela autora inglesa é descrito de forma bela e facilmente arranca suspiros. Neste mesmo ponto podem ser inseridos os protagonistas. Ambos não seguem um padrão de beleza europeu, não são musculosos e não passam por uma transformação de embelezamento ou fortalecimento. Aceitam as fraquezas que possuem, são simples desde a essência e no lugar da força utilizam a esperteza.
Enxergar de forma diferente
Há mais uma semelhança entre as duas fantasias com temáticas árabes que contrasta com o padrão do fantástico ocidental. Por várias vezes, e, principalmente, em histórias mais juvenis, a noite é retratada como o palco preferido dos monstros e o período onde os medos dissolvem as amarras. Se você gostou do passeio de tapete entre Jasmine e Aladdin, onde é mostrado como a noite com as estrelas, o luar e o deserto são lindos. Então você vai adorar O Castelo no Ar. Aliás, em vários momentos a autora faz belas pinturas através da escrita tendo como inspiração as noites árabes.
Parecidas até o final
Tantas semelhanças. Neste momento eu poderia falar sobre o bom humor contido nas duas obras e a lição moral sobre generosidade. Porém, estas duas características estão presentes em muitas obras juvenis e antigamente era um padrão usá-las. Aladdin e O Castelo no Ar são tão parecidas em um momento chave próximo do final que qualquer palavra a mais dita por mim poderá estragar a experiência daqueles que não leram o livro ou não assistiram a animação e a série animada. Sei que é difícil encontrar algo parecido com o carisma do gênio da Disney, com o amor entre Jasmine e Aladdin e o humor peculiar do papagaio Iago. Entretanto, ler O Castelo Animado não só me fez ficar com saudade do grande sucesso da Disney como também me deixou curioso sobre fantasias árabes.
Leia o livro ou assista as animações. Você vai sorrir e refletir diante das semelhanças e poderá ser o começo de uma coleção de conhecimentos sobre a cultura árabe.