[Resenha] Quando os mortos falam – Cláudia Lemes

Capa do livro. Na metade inferiro, a visão aérea dos prédios de uma cidade metropolitana, na metade superior parte de um rosto feminino, mostrando apenas do nariz para baixo, tendo um lado escondido em sombras. Toda as imagens estão em tom vermelho. Em primeiro plano o título do livro e o nome da autora, em branco.
Capa do livro. Na metade inferiro, a visão aérea dos prédios de uma cidade metropolitana, na metade superior parte de um rosto feminino, mostrando apenas do nariz para baixo, tendo um lado escondido em sombras. Toda as imagens estão em tom vermelho. Em primeiro plano o título do livro e o nome da autora, em branco.

Em um texto é comum elogiar as descrições capazes de transportam o leitor para um ambiente diferente da realidade. Diálogos rápidos que fazem os leitores avançar pelas páginas, sem deixar de conhecer a personalidade dos personagens, garantem boas notas dos críticos. Cada um desses elementos podem ser apontados na obra de Claudia Lemes. Entretanto, Quando os Mortos Falam destaca-se pela voz.

Uma voz

Não refiro-me àquela voz literária que autores buscam (apesar de estar presente em todo o texto). Através do narrar palavras são transformadas em vozes. É algo que vai muito além de bons diálogos ou boa caracterização de personagens. A voz de Verena, uma mulher que carrega um peso insuportável gerado por uma perda irreparável, é nítida. Um timbre que transmite uma vontade incessante de obter uma única resposta. Ela é firme, direta e cheia de energia. Avança e tenta, tenta, tenta e…cansa. O não se conformar com a impossibilidade de obter uma conclusão para a perda pesa dentro da personagem. Nesse ponto o dramático toma forma em um falar exausto. Um cansaço que gera impacto e emociona quando a protagonista despeja fraquezas misturadas a uma vontade de persistir. Fiquei tão apegado, torci pela felicidade de Verena.

A maior parte da narrativa é conduzida por diálogos e fluxos de consciência. Elementos caracterizados pela conversa que um personagem tem consigo e com os outros. Tendo esta base a autora brilha ao criar não só uma voz para Verena como também para os demais personagens. Ela junto com Caio (melhor amigo) conduzem a narrativa e cada um possui um núcleo.

Marcante em diversos sentidos

A ex-policial divide o protagonismo com o investigador Caio. Ele tem uma voz calma, insegura e ao mesmo tempo amiga. A eterna parceira, amiga e praticamente irmã do investigador tem uma voz forte. É incrível como a autora consegue transmitir um tom de voz de alguém somente com as palavras. Sabe quando você entra em uma sala e tem um monte de gente conversando? Você quer encontrar alguém. Olha para um lado, para outro… para, espera e a voz dessa pessoa destaca-se no meio da algazarra. A voz de Verena tem essa característica e torna-se facilmente reconhecível durante o texto. Este elemento somado a uma carga dramática feita com paciência e sensibilidade fazem a personagem ser marcante.

O gênero policial

O falar substitui as descrições que estão presentes, mas são pontuais.  Ao ler pensamentos e escutar as vozes pude imaginar cada um dos personagens. Isso é o suficiente para conduzir o leitor por uma narrativa cheia de investigação? A autora brilha mais uma vez. Sinto que Claudia Lemes tem os tropos do gênero policial na palma da mão. Com este conhecimento não é criado atalhos. Em vez disso a narrativa é simplificada. Não existe textos enormes para explicar métodos de investigação, a autora poupa o leitor de detalhes enfadonhos e não levanta uma lista enorme de suspeitos para alongar a tensão. Tudo que uma boa história policial precisa está no texto e é passado de forma simplificada, gerando um bom ritmo e criando curiosidade.

Bom uso das referências

Investigar os assassinatos cometidos por um maníaco é algo pesado. Sendo assim, é mais que rotineiro ver obras com um tom policial ganharem uma atmosfera de terror. A obra Quando os Mortos Falam não segue uma crescente até a narrativa ser ocupada com o terror. Há uma alternância onde a autora sabe usar referências cinematográficas como um elemento fundamental para a trama e não um recurso para agradar fãs. Esmiuçar mais este pronto me aproximaria de uma maneira perigosa de um spoiler. Sem comprometer a sua experiência digo que duas críticas sociais chamaram a minha atenção. Uma é densa e instiga o leitor a refletir como um lar abusivo cria monstros.  A outra é sutil, quase uma piscada para quem está lendo (se eu der mais detalhes estragará a sua experiência).

Nota

3 selos cabulosos e meio
3 selos cabulosos e meio

Garanta a sua cópia de “Quando os mortos falam”!

Ficha Técnica

Título: Quando os mortos falam
Autora: Cláudia Lemes
Edição:
Editora: AVEC
Páginas: 240
Ano: 2021
ISBN: 9786586099867
Sinopse: Verena Castro pediu exoneração do cargo de investigadora na DHPP quando sua filha mais nova foi assassinada. Quatro anos depois, sua vida toma um rumo inesperado quando recebe o telefonema de um médium, indicando um corpo e sua localização.

Envolvida na investigação de forma clandestina com a ajuda do melhor amigo, Caio, Verena logo descobre que há um maníaco na cidade de São Paulo, replicando as cenas de homicídio mais perturbadoras dos filmes clássicos de horror – e a próxima vítima pode ser alguém que ela ama.