A Nuvem é o segundo livro da trilogia Scythe, escrita por Neal Shusterman. Este texto contém spoilers do primeiro livro, O Ceifador, cuja resenha está disponível aqui no site.
Todos os problemas do mundo foram resolvidos pela Nimbo-Cúmulo, inclusive a morte. Um ser humano só não pode ser revivido se seu corpo for totalmente queimado ou não sobrar pedaços disponíveis para serem reconstruídos. Para que a Terra não fique superpovoada, os Ceifadores decidem quem deve morrer de verdade. Cada Ceifador tem um método para escolher quem morre e, também, formas preferidas de matar. E sendo humanos com tamanho poder, é claro que muitos se corrompem.
Citra acabou seu período de aprendizagem e agora é a Ceifadora Anastásia. A nova integrante da Ceifa já começou a mexer nas estruturas desta organização quando escolheu este nome de patrona. Pupila do ético Ceifador Faraday e da sábia Ceifadora Curie, Anastásia tem ideias muito claras a respeito da responsabilidade de escolher que vidas tirar. Ela é adepta dos nobres valores dos fundadores da Ceifa e logo se torna um modelo para os novos Ceifadores e uma ameaça para aqueles que abusam do poder.
Rowan passou por uma aprendizagem brutal nas mãos do Ceifador Goddard, o que quase custou sua própria personalidade. Após conseguir fugir do Conclave, Rowan assumiu como missão pessoal eliminar aqueles que corrompem os ideais da Ceifa. O problema é que a cada dia, aumenta o número de Ceifadores que compartilham das ideias de seu antigo mentor.
Enquanto a Ceifa fica cada vez mais dividida, a Nimbo-Cúmulo só pode observar e de certa forma lamentar, já que esta Inteligência Artificial não pode interferir oficialmente nos assuntos da Ceifa. Oficialmente. Fato que acrescenta ótimas personagens e situações neste livro.
Comecei a reconhecer algo na humanidade que era efêmero e difícil de quantificar, mas definitivamente existia. Em termos simples, ela tinha necessidade de ser má.
Reflexões de um “deus”
O primeiro livro trazia partes dos diários dos Ceifadores que nos permitiam conhecer mais a fundo alguns personagens. Neste volume, temos acesso a uma espécie de diário da Nimbo-Cúmulo, a nuvem de dados evoluída que controla o mundo. Com isso, temos um olhar de fora da humanidade, o que permite reflexões sobre a natureza humana como a aparente necessidade que alguns indivíduos possuem de serem transgressores.
Vidas Longas, Porém Inúteis
Uma sensação que permeia todo o livro é de que a vida sem propósito perde o valor. Algumas pessoas se jogam de prédios só pela emoção da queda, pois sabem que serão revividas logo em seguida. As pessoas não sentem dor, não sabem o que significa encontrar algo defeituoso no seu dia a dia.
As profissões são inúteis, não existe evolução do conhecimento, pois todos os problemas foram resolvidos pela Nuvem. Todo o conhecimento humano está lá guardado, mas as pessoas nem ao menos acessam informações relevantes. Até o sentido de família se perdeu, pois muitas pessoas se rejuvenescem e criam famílias novas de tempos em tempos, deixando de lado até os filhos anteriores. Enfim, a imortalidade trouxe apatia e descaso com a vida.
É bom?
É incrível! Shusterman conseguiu escrever um segundo volume ainda melhor do que o já excelente primeiro. Os problemas dos protagonistas se tornaram maiores e novos bons personagens foram introduzidos. A trama se desenrola de forma ágil e tudo que é abordado se mostra relevante. O livro me manteve presa na história e me deixou chocada com suas reviravoltas.
Enfim, A Nuvem é um livro que além de entreter e ser bem escrito, faz o leitor refletir sobre o que dá sentido à vida e sobre o impacto no mundo das decisões de quem detém o poder.
Nota
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Ficha Técnica
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Título: A nuvem
Autor: Neal Shusterman
Tradução: Guilherme Miranda
Editora: Seguinte
Ano: 2018
Páginas: 496
ISBN: 978-8555340543
Sinopse: Em um mundo perfeito em que a humanidade venceu a morte, tudo é regulado pela incorruptível Nimbo-Cúmulo, uma evolução da nuvem de dados. Mas a perfeição não se aplica aos ceifadores, os humanos responsáveis por controlar o crescimento populacional. Quem é morto por eles não pode ser revivido, e seus critérios para matar parecem cada vez mais imorais. Até a chegada do ceifador Lúcifer, que promete eliminar todos os que não seguem os mandamentos da Ceifa. E como a Nimbo-Cúmulo não pode interferir nas questões dos ceifadores, resta a ela observar.
Enquanto isso, Citra e Rowan também estão preocupados com o destino da Ceifa. Um ano depois de terem sido escolhidos como aprendizes, os dois acreditam que podem melhorar a instituição de maneiras diferentes. Citra pretende inspirar jovens ceifadores ao matar com compaixão e piedade, enquanto Rowan assume uma nova identidade e passa a investigar ceifadores corruptos. Mas talvez as mudanças da Ceifa dependam mais da Nimbo-Cúmulo do que deles. Será que a nuvem irá quebrar suas regras e intervir, ou apenas verá seu mundo perfeito desmoronar?
