[Resenha] Todas as Cores do Céu – Amita Trasi

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Capa do livro. Uma parede azul-esverdeada manchada no canto. Linhas brancas formam uma moldura de aspecto indiano na lateal da parede, no lado esquerda, uma moldura indiana na parede, e no lado direito um quadro com uma figura semelhante a Krishna
Capa do livro. Uma parede azul-esverdeada manchada no canto. Linhas brancas formam uma moldura de aspecto indiano na lateal da parede, no lado esquerda, uma moldura indiana na parede, e no lado direito um quadro com uma figura semelhante a Krishna

Mukta e Tara não parecem ter muito em comum. Um sistema de castas que ainda persiste, apesar da proibição, as separa e condena uma delas, desde o nascimento, a um vida como prostituta. Em Todas as Cores do Céu, da autora indiana Amita Trasi, acompanhamos uma comovente história de amizade, esperança e sofrimento.

A amizade apesar das diferenças

Mukta vive com sua mãe e avó num casebre humilde em uma pequena comunidade no interior da Índia. Elas são de uma família de servas da deusa hindu Yellamma (devadasis). Mukta não entende muito bem o que isso significa quando, aos 10 anos, é levada a participar do ritual que a tornaria uma devadasi. A partir desse momento, ela se casa com a deusa e fica a “disposição” para se deitar com qualquer homem da vila.

Tara vive em Mumbai com seus pais em um apartamento de classe média e leva uma vida tranquila de criança nos anos 1980. Seu pai era um homem generoso que abrigava crianças órfãs e abandonadas com frequência, até que fossem encontrados locais adequados para que vivessem. Certa vez, em uma visita a sua aldeia natal, traz consigo uma menina que acaba vivendo com eles por vários anos.

Assim a vida de Mukta e Tara se conecta. E é nesse momento que começa uma amizade forte e duradoura, apesar de marcada pela diferença de classes entre as duas. Ambas crescem juntas e criam uma conexão que irá durar por toda a vida, mesmo após muitos anos de separação.

Porém, é interessante observar como cada uma delas enxerga aquela relação. A narração através dos dois pontos de vista é muito rica nesse sentido e nos mostra como cada um percebe a realidade que elas compartilham.

A culpa e a esperança

Após alguns anos vivendo no apartamento e trabalhando para a família de Tara, Mukta é sequestrada e desaparece. Pouco tempo depois, Tara e seu pai se mudam para os EUA e se passam muitos anos até que ela retorne a Índia.

Quando esse retorno acontece, Tara passa então a procurar por Mukta. Durante sua busca vamos conhecendo mais de sua vida antes e depois de mudança para o EUA. Em paralelo, pelo ponto de vista de Mukta, ficamos sabendo o que aconteceu com ela após o sequestro.

A autora nos mostra de uma forma admirável o contraste entre as suas realidades. E, principalmente, nos faz perceber como as lembranças que elas tem do tempo que compartilharam na infância as influenciam até a vida adulta. Lembranças que apoiam a esperança de uma e despertam a culpa de outra.

É tocante e emocionante a forma como são narradas as diferentes adversidades que cada uma passa durante os anos que ficam separadas. Durante essas as narrativas vemos temas importantes, porém pesados, como tráfico de mulheres e prostituição, a tradição das castas na Índia, luto, depressão e o sentimento de deslocamento dos imigrantes.

Deve haver algo sobre a dor, sobre o modo como nos toca tão profundamente,que, às vezes, não conseguimos voltar a ser quem éramos.

Mas cuidado com gatilhos…

Lendo a sinopse, já é possível imaginar que esse é um livro que trata de temas que podem ser gatilhos para muitas pessoas. Mas acho importante deixar o aviso que temas como violência sexual de mulheres e crianças, depressão e suicídio aparecem durante a narrativa.

Em praticamente todos os casos, não são situações com narrativas muito gráficas. A autora descreve de forma responsável os momentos mais delicados da história. Porém, é necessário ter cuidado, no caso de pessoas que tem sensibilidade a esses temas.

Enfim, Todas as Cores do Céu é um livro bem escrito, com uma estrutura narrativa que nos envolve e torna difícil parar de ler, uma vez que você se apega às personagens. Tara e Mukta tem suas personalidades muito bem construídas, são tridimensionais e, por esse motivo, imperfeitas. Sendo assim, é uma leitura que recomendo fortemente (mas talvez não seja uma leitura recomendada para fazer durante a TPM, pois o risco de crise de choro é alta hehe).

Nota

Cinco selos cabulosos. A maior nota do site.
Cinco selos cabulosos. A maior nota do site.

 

 

 

 

Garanta a sua cópia de Todas as Cores do Céu e boa leitura!

Ficha Técnica

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Nome: Todas as cores do céu
Autor: Amita Trasi
Tradução: Caroline Chang
Edição: 1ª
Editora: Harper Collins
Ano: 2019
Páginas: 384
ISBN: 8595084076
Sinopse: Aos dez anos, Mukta é forçada a seguir um ritual de sua casta, que, essencialmente, a torna uma prostituta. Para salvá-la deste horrível destino, um homem a resgata e lhe dá um lar. Tara, filha dele, cria um laço especial com a criança recém-chegada — um vínculo digno de irmãs. A amizade sofre um baque definitivo, entretanto, quando Mukta é sequestrada.

Anos depois, vivendo nos Estados Unidos, Tara retorna à Índia para encontrar a amiga que, ao que tudo indica, foi submetida novamente à prostituição. Mas a extrema pobreza em Bombaim se mostra uma realidade mais difícil do que Tara consegue suportar. Relato emocionante e realista da Índia contemporânea, Todas as cores do céu mostra como o sistema de castas explora os mais fracos, e como o amor nos faz buscar a reparação para nossos atos mais horríveis, vencendo barreiras impenetráveis.