Peguei o livro Senhor tempo bom, da Anna Martino, sem saber o que esperar da história. A sinopse é bem simples: Galileu é meteorologista, mas tem medo de chuva e está para enfrentar a maior tempestade de sua vida. Há muitas formas de abordar o tema — inusitado, por sinal — e o que a autora escolheu conseguiu me surpreender ao me divertir e emocionar ao mesmo tempo.
Uma das características mais marcantes das obras de Anna Martino — a qual eu admiro muito — é a capacidade que ela tem de criar personagens críveis: eles parecem pessoas que poderíamos encontrar na nossa vida (ou até lembrem alguém que conhecemos). O jeito de falar, a personalidade, a forma de narrar a história, tudo soa muito natural e faz com que a leitura flua sem nenhuma dificuldade.
Senhor tempo bom é uma história relativamente curta, mas que tem tantos elementos interessantes que parece que conhecemos aquelas personagens a nossa vida inteira. O texto da autora tem um humor que muito me agrada e torna prazeroso acompanhar a jornada daquele grupo de pessoas. Não só Galileu, mas seus colegas de laboratório Ruben, Estevão e Irene e o chefe Xavier são muito bem construídos e acrescentam à narrativa. Cada um tem personalidade própria e são de várias partes do Brasil, o que ajuda na diversidade de sotaques (que Anna soube usar muito bem).
Jeitinho brasileiro
A história se passa em São Paulo e tem a nossa cara. Gosto muito como a autora abordou o tão conhecido jeitinho brasileiro e nossa capacidade de fazer as mais diversas gambiarras para as coisas funcionarem. Usar dessa nossa característica só acrescenta profundidade à trama e ainda fica a crítica: quantos projetos universitários não funcionam na base do “jeitinho” porque não há investimentos o suficiente para garantir uma infraestrutura mínima?
E ainda tem a chuva. Afinal, não daria para uma história se passar na capital paulista sem falar dela, que é tão presente e traz tantos transtornos. Mais uma crítica necessária à falta de políticas públicas eficientes. Assim como na vida real, na história, quem sofre mais com as tempestades é a população pobre.
Uma viagem muito especial
Histórias que usam da viagem no tempo não são nenhuma novidade na literatura. Mas gostei da forma como a autora usou desse elemento para trazer sensibilidade e emoção à trama de Galileu. Onde ele vai parar, em que período e o que ele descobre são informações muito bem trabalhadas durante a narrativa e que nos prende até o fim para entender onde a história está nos levando.
A tempestade pela qual Galileu precisa passar é literal, mas também metafórica. À medida que conhecemos seus traumas e seu passado, as atitudes do personagem começam a fazer sentido e ele tem sua vida transformada por uma revelação. É interessante como ele, com a maturidade adquirida com os anos, ressignifica muitas de suas memórias da infância e passa a enxergar sua trajetória de uma outra maneira. De forma leve, o livro fala de família, solidão e pertencimento.
Senhor tempo bom é daqueles livros que te pegam de jeito e te prendem a cada página. É uma leitura rápida, mas marcante. Foi um prazer enfrentar essa tempestade com Galileu e seus colegas.
Nota
Garanta a sua cópia de Senhor Tempo Bom e boa leitura!
Ficha técnica
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Nome: Senhor Tempo Bom
Autora: Anna Martino
Edição: 1ª
Editora: Plutão Livros
Ano: 2020
Páginas: 72
ISBN: 9788554350109
Sinopse: Quanto tempo o tempo tem?
Galileu tem medo de chuva. Não chega a ser um problema tão grande assim, a não ser por um detalhe: ele é meteorologista — e está prestes a enfrentar a maior tempestade de sua vida, mas ainda nem sabe disso. Inaugurando a terceira onda da coleção Ziguezague, Senhor tempo bom é uma história inédita de Anna Martino.