Eu gosto de boas histórias. Mais do que isso, nos últimos anos aprendi gostar de boas histórias com personagens femininas fortes e que quebram padrões, nos surpreendendo em suas próprias construções narrativas. Dentro daquelas linhas, independente de quem são, elas são personagens que nos libertam de ideias fechadas e normalmente nos faz sentir com intensidade, coisa que toda boa arte tem que fazer. Falar de “Bom dia, Verônica“, a partir disso, é no mínimo divertido, pois o livro me envolveu e me surpreendeu de maneiras que confesso que eu não esperava (inclusive é por isso que demorei vários anos para tirar ele da estante e depositar a chance).
Das páginas pra Netflix mais próxima de você
Antes de começar, quero já adiantar que “Bom Dia, Verônica” é um livro do gênero romance policial e que trabalha vários conteúdos sensíveis como estupro, sequestro, assassinato, necrofilia, violência doméstica, abuso de substâncias e suicídio. Tudo isso está na obra e, se alguma dessas coisas te não fizer bem ou for um gatilho para você, por favor, vá ler outro livro. Existem inúmeros outros conteúdos incríveis por aí, dentro (inclusive) do próprio catálogo da editora Darkside Books.
Por falar em Darkside, sim! Esse livro é um livro nacional, diretamente lançado pela editora mais tenebrosa e sombria que temos hoje. Existem duas edições disponíveis no mercado, sendo que a mais nova tem uma capa branca com um “V” na frente e uma pata de animal o cortando, e a antiga tem um tom de roxo com imagens mais sombrias e escuras. Dependendo da edição que você pegar você saberá de coisas diferentes, como quem é Andrea Killmore, a escritora do livro.
Bom, eu vou te contar: a primeira edição foi lançada em 2016 e assinada por Andrea. O curioso disso é ver na contra capa interna que Andrea é uma escritora que não quer se identificar, mais do que isso: faz parte do seu contrato não ter sua identidade revelada. Seguindo a editora, Andrea fez isso pois já trabalhou dentro de delegacias em casos criminais e prefere manter seu anonimato para proteção de sua identidade. Uau! A Darkside sabe mesmo criar um clima de curiosidade e não contar, hein?! Mas, agora uma pesquisa já te mostra quem são os responsáveis pela história: Raphael Montes e Ilana Casoy.
O que acontece é que, depois do grande sucesso do livro, a Netflix assinou um contrato com a Caveirinha e comprou os direitos para transformar esse livro em uma série nacional. A série está agora parada, por causa da pandemia, mas já teve elenco divulgado, além de outras informações. Os protagonistas são Tainá Müller no papel de Verônica Torres, Camila Morgado (do filme “Olga”, lembra?) no papel de Janete e Eduardo Moscovis (o eterno Petrúquio de “O Cravo e a Rosa”) no papel de Brandão, esposo de Janete. A direção é de José Henrique Fonseca e o roteiro para a TV é do próprio Raphael (já conhecido como autor de livros nacionais de terror), Ilana (também conhecida como escritora de livros de histórias reais de crime), Gustavo Bragança, Davi Kolb e Carol Garcia. Só resta agora esperar.
Indo pra dentro da caixa
Apresentada agora a situação da adaptação de “Bom Dia, Verônica”, vamos falar sobre o que o livro se trata. Como eu já disse, o livro é um romance policial cheio de temas pesados e sórdidos.
No romance acompanhamos Verônica Torres, secretária de uma delegacia, mãe de dois filhos e mulher ambiciosa que no mesmo dia presencia um suicídio de uma vítima na delegacia e recebe uma ligação de uma mulher chamada Janete que diz que seu marido mata mulheres e vai matá-la. Depois desses dois acontecimentos (ô dia puxado no escritório!), Verônica decide agir por conta própria para descobrir quem causou o suicídio de Marta e proteger Janete de seu marido Brandão. O problema é que Brandão é um homem dominador e também faz parte da força policial e mais: Verônica não tem permissão para fazer investigações.
Como cada escolha é uma sentença, acompanhamos no livro a narrativa das duas mulheres: Verônica e Janete. Enquanto uma decide que vai resolver tudo, a hora busca sair de um problema do qual ela não se colocou e não sabe como lidar. O ritmo vai ficando cada vez mais insano conforme conhecemos a intimidade dessas duas mulheres, suas angústias e, principalmente, seus segredos.
Ah… Verônica!
O que mais me surpreendeu nesse livro são as personagens femininas, personagens humanas, complexas e completas. Essa característica é muito presente nas obras de Gillian Flynn, a autora de Garota Exemplar e Objetos Cortantes. Já o ritmo da narrativa me fez me lembrar da rainha do cianureto: Agatha Christie, que nos seduz com suas histórias cujos detalhes se encaixam.
É um livro curto, pouco mais de 250 páginas, mas é capaz de nos fazer sentir raiva, angústia, desprezo e até nojo de vários personagens em várias situações. Ao final, sai com com raiva e desprezo por todo mundo, sem exceção, mas não sem motivo.
Como nem tudo são flores, como se diz, algo que me incomodou por demais, foi a justificativa pelo qual o serial killer age. Embora os principais elementos estejam lá, colocar isso vinculado a uma cultura historicamente desprezada e já considerada como estranha e descartável em nosso país é algo que mais contribui para o preconceito e ódio. Infelizmente, não posso deixar isso passar: há uma infinidade de motivos, por que aquela? Além de ser desrespeitoso, não se encaixa no próprio desenvolvimento dos personagens e não ficou claro o suficiente que a pessoa era ruim por causa dos abusos, e não por causa da cultura do qual o abusador enfrentou. Ou seja, não faz sentido.
Apesar disso, fiquei muito feliz quando gravei um episódio do Horrorlândia sobre o livro junto com o Will. Saber da série me deixa animada, espero que mais livros nacionais sejam transformados em filmes ou séries. Já está na hora da Netflix investir mais na nossa produção nacional.
E você, já leu “Bom dia, Verônica”?
Nota
Garanta a sua cópia de Bom dia, Verônica e boa leitura!
Ficha Técnica
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Nome: Bom dia, Verônica
Autores: Andrea Killmore, Raphael Montes, Ilana Casoy
Editora: Darkside Books
Ano: 2016
Páginas: 256
ISBN: 9788594540171
Sinopse: Em “Bom dia, Verônica”, acompanhamos a secretária da polícia Verônica Torres, que, na mesma semana, presencia de forma chocante o suicídio de uma jovem e recebe uma ligação anônima de uma mulher desesperada clamando por sua vida. Com sua habilidade e sua determinação, ela vê a oportunidade que sempre quis para mostrar sua competência investigativa e decide mergulhar sozinha nos dois casos. No entanto, essas investigações teoricamente simples se tornam verdadeiros redemoinhos e colocam Verônica diante do lado mais sombrio do homem, em que um mundo perverso e irreal precisa ser confrontado.
Andrea Killmore compõe thrillers como os grandes mestres, e sua experiência de vida confere uma autenticidade que poucas vezes encontramos em suspenses policiais, vibrante e cruel — como a realidade.