O Poder, de Naomi Alderman, explora de forma muito inteligente o erro de pensar soluções simples para problemas complexos. A obra, lançada pelo selo Minotauro da Editora Planeta e com tradução de Rogério Galindo, é ambientada em um futuro próximo em que as mulheres desenvolveram a capacidade de dar choques em outras pessoas. Sob o ponto de vista de quatro personagens (e, eventualmente, outros também têm capítulos dedicados a si), vamos acompanhando as mudanças que essa descoberta causam nas estruturas de poder.
Um dos aspectos mais interessantes do livro é observar como as mudanças vão se construindo aos poucos: incidentes isolados, mudanças de comportamento das pessoas, medo do desconhecido. O obra faz uma contagem regressiva para um “grande momento” em que tudo vai se transformar e as mudanças constantes de pontos de vista vão criando a expectativa para o momento em que todas as narrativas vão se unir em um grande clímax.
Reflexões sobre nosso modo de vida
Nessa jornada da descoberta do poder das mulheres, dois fatores se destacam e enriquecem a narrativa. Um deles é a capacidade de meninas mais jovens despertarem o poder nas mais velhas, como se as lembrassem do que sempre esteve ali, como se descobrir esse poder fosse um destino natural de todas as mulheres. Um outro ponto interessante é que o primeiro levante de mulheres acontece em um país onde as mulheres são privadas dos direitos mais mais básicos, o que contribui para que torçamos pelo sucesso delas, afinal, seria uma forma de acabar com a opressão.
O grande ponto de virada do livro é a constatação de que a simples alternância de quem está no poder não traz mudanças significativas, apenas troca quem exerce o papel de opressor e oprimido. Isso vai ficando cada vez mais evidente conforme as mulheres vão tomando para si espaços que antes eram ocupados pelos homens, mas sem mudanças na estrutura de organização da sociedade; há apenas a reprodução do que já tinha sido feito antes, continuando aberto o espaço para o autoritarismo, a manipulação e a subjugação do outro.
Todas essas reflexões que O Poder causa criam grande expectativa para o desfecho da história. O livro é muito eficiente em pavimentar o caminho para a grande mudança que virá, mas perde força quando entrega um final corrido e pouco trabalho. A sensação, ao final da leitura, é de que a trajetória foi muito interessante, mas não há recompensa ao se chegar ao final. A autora poderia ter dividido melhor os capítulos de forma a trabalhar com mais calma o momento em que tudo mudou.
Bons livros são aqueles que se utilizam de temas caros a nós e os exploram de forma a gerar reflexão. A lição que O Poder deixou para mim é a de que uma mudança significativa na sociedade só acontecerá quando for repensada toda a estrutura sobre a qual ela é organizada. Temos um longo caminho pela frente para tornar isso possível.
Nota
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Ficha Técnica:
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Nome: O Poder
Autora: Naomi Alderman
Tradução: Rogério Galindo
Edição: 1ª
Editora: Planeta (selo Minotauro)
Ano: 2018
Páginas: 368
ISBN: 9788542212976
Sinopse: O que você faria se tivesse o poder em suas mãos?
“Jogos vorazes encontra O conto da aia.” (COSMOPOLITAN)
Em um futuro próximo, as mulheres desenvolvem um estranho poder: elas se tornam capazes de eletrocutar outras pessoas, infligindo dores terríveis… até a morte. De repente, os homens se dão conta de que não estão mais no controle do mundo.
“Um olhar fascinante no que o mundo poderia ter se tornado se o sexismo dos últimos milênios tivesse tomado rumos diferentes. Engenhoso… merece ser lido por todas as mulheres (e, claro, por todos os homens).” (THE TIMES)
“O poder é uma leitura explosiva.” (FINANCIAL TIMES)
“Um romance envolvente, que nos obriga a encarar uma distopia que já existe… e que está entre nós há séculos.” (MICHAEL SCHAUB, NPR)