O Filho de Mil Homens – Valter Hugo Mãe

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Recorte da capa do livro. Sobre um fundo esverdeado, um desenho de um homem de perfil, com barba a fazer, e uma mancha rosa que sai da altura de seu pescoço até a extremidade da capa. O desenho é em traço rosa, fino, extremamente simples e sem preenchimento, apenas o contorno. No canto inferior esquerdo, o título, em amarelo:
Recorte da capa do livro. Sobre um fundo esverdeado, um desenho de um homem de perfil, com barba a fazer, e uma mancha rosa que sai da altura de seu pescoço até a extremidade da capa. O desenho é em traço rosa, fino, extremamente simples e sem preenchimento, apenas o contorno. No canto inferior esquerdo, o título, em amarelo: "O filho de mil homens"

O Filho de Mil Homens é um romance escrito por Valter Hugo Mãe, premiado autor português. O livro conta a história de Crisóstomo, um pescador que não teve sucesso no amor e deseja muito um filho. Ele acaba encontrando Camilo, um rapaz órfão que perdeu recentemente o avô, com quem vivia. Em seguida, Camilo sugere que ele encontre uma esposa, para completar sua felicidade… Assim, aos poucos, o livro constrói uma teia entre personagens ímpares, todos eles enjeitados, de alguma forma, e que acabam entrelaçados numa espécie de família.

Enredo simples

A trama central da história não envolve muitas reviravoltas e é relativamente simples. O brilho do livro está em como a narração é feita, retomando as trajetórias dos personagens e fazendo com que se conectem ao longo da história.

Por isso, muitos capítulos fazem saltos para falar sobre a vida de um personagem em especial, antes que sejam retomados os acontecimentos “atuais” da história. O que dá força à narrativa é justamente a construção desses personagens.

Protagonistas humanos

A narrativa apresenta protagonistas inusitados. Os personagens são excluídos socialmente por diversos motivos, como nanismo e homossexualidade, por exemplo.

A trama apresenta o interior deles, suas angústias e desejos. Comum em todos é a vontade de pertencer a algum lugar, de ser aceito e amado.

Eles também sofrem com situações de humilhação e segregação por suas características e, por isso, passam por muitos momentos de questionamento. Porém, no final das contas, encontram uma forma de serem felizes sendo exatamente quem são.

O fato é que por terem essas características, suas emoções e inseguranças apresentadas na história (e, no caso de alguns deles, até preconceitos e desconfortos) os personagens de O Filho de Mil Homens são extremamente humanos, pessoas muito verossímeis, que parece ser possível encontrar na rua.

Linguagem poética

Não só os protagonistas são inusitados nessa obra, mas também a linguagem. Valter Hugo Mãe consegue construir um livro inteiramente poético, carregado de belas frases e o faz sem rebuscamentos: é possível compreender com alguma facilidade as metáforas e construções do texto. Ao mesmo tempo, a beleza simples e concisa da escrita deixa o leitor maravilhado.

Também chama a atenção o fato de o autor não construir diálogos, mas incorporá-los ao texto. Isso contribui para a leitura fluir mais rápido, pois parece não haver pausas entre ações, pensamentos e falas, o que compõe um ritmo único para a narrativa.

“Perguntou-lhe: que é esse ar desconfiado. O rapaz respondeu: sono. Um sono desconfiado, perguntou outra vez o pescador. Ando cá a pensar, disse o Camilo. Em quê. Nas pessoas. No que dizem. No que dizem e no que é verdade. Por vezes é diferente. Pode não ser mentira, mas apenas uma maneira diferente de acreditar” (P. 117).

Emoções que transbordam da página

Valter Hugo Mãe tem um talento absurdo para criar narrativas que fazem o leitor se colocar na pele dos personagens e não é diferente com O filho de mil homens.

A união da linguagem poética às personalidades cativantes dos protagonistas torna muito fácil criar empatia. Por isso, o leitor sente junto com os personagens.

“O Crisóstomo explicava que o amor era uma atitude. Uma predisposição natural para se ser a favor de outrem. É isso o amor. Uma predisposição natural para se favorecer alguém. Ser, sem sequer se pensar, por outra pessoa. Isso dava também para as variações estranhas do amor. O miúdo perguntava se havia quem amasse por crime, por maldade. Alguém amar por maldade, repetia. O pai achava que talvez não. A maldade tinha de ser o contrário de amar” (P. 122).

Leitura transformadora

Ler O Filho de Mil Homens é fazer uma pequena jornada emocional e reflexiva por caminhos poéticos. O livro mostra, de uma forma quase bela, as dificuldades da vida e como podemos achar caminhos para ultrapassá-las.

Não é possível sair dessa leitura sem alguma modificação – no olhar, sentir ou pensar o mundo. Então, esse é o tipo de obra que todo mundo deveria ler, principalmente nos nossos dias de tanta ignorância e mesquinharia. São livros transformadores que nos constroem enquanto seres humanos empáticos e sensíveis aos problemas dos outros. Por isso, vale a pena investir nessa leitura e se deliciar com a poesia e com essa história simples, mas repleta de significados!

Nota

5 selos cabulosos

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Ficha Técnica

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Título: O filho de mil homens
Autor: Valter Hugo Mãe
Edição: 1
Editora: Biblioteca Azul
ISBN: 9788525062536
Ano: 2016
Páginas: 224
Sinopse: A edição de O filho de mil homens traz novo projeto gráfico e prefácio de Alberto Manguel. Quinto romance do escritor no Brasil, o livro reflete sobre o prazer do amor incondicional, que o ser humano parece buscar para preencher o que lhe falta.
Pescador que vive em um vilarejo litorâneo, Crisóstomo, ao chegar aos 40 anos, sofre com o fato de não ter tido um filho e sai em sua busca. Desejava um herdeiro que pudesse, além de lhe aplacar a solidão, ser testemunha do que ele próprio se tornou, com as alegrias e tristezas de sua trajetória. A todas as fantasias patriarcais contidas na obra, Mãe contrapõe, segundo Manguel no prefácio, “outra mais nobre e concretizável: a fantasia de um filho de mil seres humanos, tanto homens como mulheres. A essa definição correspondemos todos”.