Paraíso Perdido (HQ) – John Milton

Como se conectar a um clássico? Anos de estudo em literatura, transportar a mente para o século passado ou um guia com ampla formação acadêmica parecem alternativas não muito práticas. Arte e adaptação se unem em uma HQ da DarkSide, ilustrada por Pablo Auladell, para entregar uma bela forma de se conectar com o clássico Paraíso Perdido de John Milton.

Você já viu esse nome e nunca vai esquecê-lo

Temos como protagonista Lúcifer, e, em nossa cultura marcada pelo cristianismo, esse nome é de senso comum. O autor não reinventou a saga do anjo caído e não fez uma metáfora moderna sobre o que ele representa. Nessa HQ, Pablo Auladell, transforma em arte toda ascensão e queda de Satã. Se o leitor se restringir ao roteiro verá toda a bela construção do protagonista, onde são mostrados a origem do seu maior desejo, a personalidade que alterna entre a sedução e covardia, todas as suas fases e a sua jornada. Mas, isso é uma fração do todo.

Como tratar as palavras?

Nessa obra uma frase é capaz de transmitir milênios de história, reflexão e uma espécie de conhecimento universal. É um texto que não só narra, vai além, combinando a poesia com um tom que lembra o declamar. Isso não torna a narrativa empolada ou de difícil compreensão porque tudo é feito de forma natural. E são escolhidos momentos pontuais para usar frases curtas, facilitando a leitura.

Um só local pode reunir tantos quadros?

Um texto forte, que é auxiliado por quadros. Sim, quadros. Cada página parece literalmente uma galeria. Falta em mim conhecimentos em arte para elogiar os tons e o estilo utilizado pelo artista. O que me chamou atenção (e é fácil de explicar) é a capacidade do autor em criar os retratos do inferno. Vi um mundo vasto. Por muitas vezes olhei para uma daquelas paisagens e pensei: “Um homem pode caminhar para sempre nessas terras e mesmo assim não encontrará o seu fim”. Não é só no macro que a arte visual ganha destaque. No micro, no aproximar dos rostos, parece que os personagens/modelos estão olhando para o leitor. Várias vezes me perdi olhando para eles enquanto tentava adivinhar o que pensavam.

É a visão bíblica adaptada para os quadrinhos?

Digo que não. Há pinceladas do autor e um olhar diferenciado em relação a Deus, a Miguel, a Adão e alguns pontos (as pinceladas são maiores ao se retratar de Deus). O interessante é que o autor imprime a sua marca/olhar com sutileza; é uma piscada para o leitor.

Poderia continuar e dizer sobre o ritmo que é rápido, porém, o leitor sente a necessidade de apreciar cada página. De como o autor trabalha bem e de forma simples não só o metafórico como também o poético. Valeria a pena citar uma grande batalha e de como dois elementos surpreendem o leitor, fazendo-o refletir sobre o mundo atual. Quanto mais se pensa em Paraíso Perdido mais elogios surgem.

Quem gosta de clássicos, de poesia, de pintura, de quadrinho, de uma boa história, de um bom texto… quem gosta de todas essas formas de arte ou só de uma delas terá um belo motivo de se conectar ao Paraíso Perdido, uma obra clássica de John Milton.

Trabalho bem feito deve ser elogiado e apreciado. Todas as obras que atravessam o tempo deveriam ser tratadas como essa edição da DarkSide.

Nota

5 selos cabulosos

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Ficha Técnica

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Nome: Paraíso Perdido
Autor: John Milton – Pablo Auladell
Tradução: Érico Assis
Edição:
Editora: DarkSide Nooks
Ano: 2018
Páginas: 320
ISBN: 9788594541062
Sinopse: Um clássico da literatura mundial adaptado pela primeira vez em uma graphic novel única e essencial. Há 350 anos, o conflito entre Deus e Satã narrado em Paraíso Perdido, obra-prima de John Milton, virou um marco na literatura. Seus dez mil versos sobre a criação do mundo, a tentação e o desejo por redenção receberam reconhecimento instantâneo e serviram de inspiração para peças de teatro, músicas, pinturas e livros, ecoando na obra de mestres como Mary Shelley, C.S. Lewis, Philip Pullman e Neil Gaiman. Agora, a obra colossal foi reimaginada pelo premiado ilustrador espanhol Pablo Auladell. Com seu traço sombrio, quase desolado, o tributo captura o lirismo de Milton para quem ainda não teve o prazer de ler os cantos originais. Ao mesmo tempo, complementa a experiência do leitor, dando ainda mais vida ao texto. A graphic novel inspirada na grande obra de Milton chega para fazer parte da linha DarkSide Graphic Novel numa edição que deixaria Adão em apuros, com capa dura, bordas douradas e todo aquele cuidado que os fãs já esperam — e merecem. Chegou a hora da redenção.