O ser humano é muito complexo para ser resumido. Entretanto, se tivesse que resumir Octavia E. Butler em uma palavra, essa palavra seria: Luta. É disso que trata Kindred: Laços de Sangue.
Um Sonho, Um Sucesso.
Kindred: Laços de Sangue é o meu primeiro contato com a autora. Uma mulher negra que me fez lembrar a cantora Ivone Lara escrevendo ficção científica. Alias, essa obra, esse sonho, esse sucesso de vendas vai muito além disso. Um livro que é praticamente um experimento cientifico sobre racismo.
Dana é casada com Kevin, tem uma vida comum e faz uma viagem no tempo para a época da escravidão. Nesse novo “mundo” vê um menino, Tom Weylin, se afogando em um rio. Uma simples premissa, que para a autora é o suficiente para contar uma história e mostrar o racismo. Não temos discursos, análises, dados, estatísticas e nem nada desse tipo. No texto, em que se encontra mais coração do que palavras, vemos a sobrevivência. Sim, sobreviver. Nessa obra de arte essa insistência em se manter vivo não está só ligado a lutar e a se opor. Há luta, há revolta e uma contestação por parte da personagem principal e isso cativa. Entretanto, sobreviver não é só isso. A obra me conquistou por essas escolhas que fornecem mais a sensação de realidade do que de ficção.
Octavia ou Dana viveu com aquelas pessoas?
Durante todo o texto a autora está colada na protagonista. A narração é tão viva que por muito tempo durante a leitura pensei que se tratava de um relato de Octavia. Há momentos em que o texto mostra o que é sentido na pele. E, em outros, parece que a autora e o leitor estão sentados conversando.
Nos excelentes diálogos embarcamos no ritmo, somos transportados para outra época e é passado tristeza, violência, conflito e esperança. Da boca de um personagem saiu uma das cenas mais violentas que vi na arte. Se você tem algum gatilho com cenas violentas, tome cuidado.
Dana e Kevin recebem marcas profundas desse ir ao passado. E, principalmente Dana, deixa marcas em uma fazenda escravocrata. Há tantos personagens com várias camadas de histórias. Eles interagem de maneiras distintas ao contexto que são inseridos, as personalidades são bem definidas e quase todos querem algo da protagonista.
E a Ficção Científica?
Ela existe e é bem feita. Não há cientistas com jalecos brancos em frente de uma máquina enorme ou fazendo cálculos em uma lousa. Porém, as regras estão bem estabelecidas e são acompanhadas de um toque genial: estão entrelaçadas na relação de Dana com Tom Weylin.
Nas primeiras páginas me perguntei:
E se eu fosse mandado para a época da escravidão? Como iria me comportar? O que iria fazer diante do inconcebível atrás do inconcebível? O livro, por ser tão verossímil, provoca essas questões.
Depois que terminei de ler nem pensei mais em mim e só consegui pensar em como muita coisa precisa mudar. Mas ainda bem que alguma coisa mudou.
Leia Ficção Científica e história em uma obra única.
O Sonho de uma escritora
A edição da editora Morro Branco dá um presente para o leitor nas últimas do livro e conta um pouco sobre o sonho de Octavia E. Butler.
Nota
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Ficha Técnica
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Nome: Kindred: Laços de Sangue
Autor: Octavia E. Butler
Tradução: Carolina Caires Coelho
Edição: 1º
Editora: Morro Branco
Ano: 2017
Páginas: 432
ISBN: 9788592795191
Sinopse: MAIS DE MEIO MILHÃO DE CÓPIAS VENDIDAS NO MUNDO.
Em seu vigésimo sexto aniversário, Dana e seu marido estão de mudança para um novo apartamento. Em meio a pilhas de livros e caixas abertas, ela começa a se sentir tonta e cai de joelhos, nauseada. Então, o mundo se despedaça.
Dana repentinamente se encontra à beira de uma floresta, próxima a um rio. Uma criança está se afogando e ela corre para salvá-la. Mas, assim que arrasta o menino para fora da água, vê-se diante do cano de uma antiga espingarda. Em um piscar de olhos, ela está de volta a seu novo apartamento, completamente encharcada. É a experiência mais aterrorizante de sua vida… até acontecer de novo. E de novo.
Quanto mais tempo passa no século XIX, numa Maryland pré-Guerra Civil – um lugar perigoso para uma mulher negra –, mais consciente Dana fica de que sua vida pode acabar antes mesmo de ter começado.
“Impossível terminar de ler Kindred sem se sentir mudado. É uma obra de arte dilaceradora, com muito a dizer sobre o amor, o ódio, a escravidão e os dilemas raciais, ontem e hoje” – Los Angeles Herald-Examiner