Moby Dick sempre me assustou. Era só eu ficar animado para ler que já ouvia: “Muito denso!” “Cheio de detalhes”. “Não é um livro fácil”. “Você vai demorar para ler”. “É uma obra que combina com a sua época, não com hoje em dia”.
Hoje em dia é possível encontrar alguém que nunca tenha ido ao mar?
E é possível se deparar com alguém que não conhece Moby Dick?
Namorei por muito tempo aquela edição definitiva da Cosac&Naify. Namorei, me apaixonei, só que a leitura não aconteceu. Pois é, será que o navio simplesmente passou?
Um tempo atrás, um grande amigo me emprestou a HQ Moby Dick, do grande artista Chabouté publicada pelo Pipoca e Nanquim. Leio quadrinhos e mangás, mas nunca pesquisei essa arte a fundo. Entretanto, ao virar da última página da HQ em questão, constatei: Chabouté sabe usufruir ao máximo da mídia quadrinho.
Um quadro vale mais que mil palavras
É apresentado como protagonista Ismael. E no traço, principalmente os que desenham os seus olhos, é possível ver uma tentativa do garoto esconder o seu medo em relação ao que pode acontecer em uma embarcação cujo o objetivo é perseguir a Baleia Branca. Aproveito para dizer que toda a trama não está fundamentada na “aventura” de perseguir a baleia e sim na obsessão do capitão Ahab. No prosseguir da obra, vemos a loucura do capitão aumentar. Ela evolui, cresce e você não consegue imaginar qual será o seu próximo ato para demonstrar o seu ódio pela baleia ou a sua vontade de caçá-la.
Não conhecemos a fundo todos os personagens do navio nessa adaptação. Porém, vemos o medo deles ganhando formar na arte de Chabouté. Até mesmo no contraído Ismael vemos evolução. Antes o seu medo era caracterizado por “O que vai acontecer?”. Depois, ele pode ser resumido em “O que está acontecendo precisa parar”. Nos traços temos identidade e através deles vemos um cenário sempre desgastado, homens sérios, brutos e presos em suas próprias crenças. Fui tão impactado pelo arte sequencial, que em um momento pude sentir o movimentar do navio. E o artista só precisou de quadrinhos, um cômodo, personagens e uma lamparina para transmitir essa sensação.
Indo muito além da própria mídia
É fácil só elogiar o traço. A HQ não vive só de desenho, ela possui literatura. Vemos a literatura nos excelentes diálogos que transmitem personalidade e impacto, nas frases escolhidas a dedo em cada começo de capítulo e na narrativa, onde o autor conduz com maestria o crescer da loucura de Ahab com a sensação de proximidade com a Baleia.
Confesso que a vontade de ler a edição da Cosac & Naify retornou. Voltou porque quero ler novamente a HQ depois de viver a experiência do livro.
Se essa obra um dia cair em suas mãos, não leia com pressa e aproveite cada uma das páginas. Todos os clássicos devem ser tratados da mesma forma que Chabouté trata Moby Dick.
NOTA
Garanta seu exemplar no link abaixo e boa leitura!
Ficha Técnica
Nome: Moby Dick
Autor: Christophe Chabouté
Tradução: Pedro Bouça
Edição: 1º
Editora: Pipoca & Nanquim
Ano: 2017
Páginas: 256
ISBN: 9788593695025
Sinopse: Moby Dick é um verdadeiro triunfo do premiado artista francês Christophe Chabouté, aclamada como a mais impressionante adaptação desse clássico da literatura para os quadrinhos. A epopeia do obcecado capitão Ahab em busca do cachalote branco é recontada de forma magistral pelas mãos de um mestre, que optou por conservar o texto original de Herman Melville, transformando-o numa primorosa narrativa gráfica. Prepare-se para a emocionante caçada à maior das criaturas do mar, ao lado do narrador Ismael, do misterioso aborígene Queequeg e de uma tripulação que oferece o próprio sangue para seu capitão em troca da promessa de glória e ouro, sem saber que, na verdade, o que os aguarda é a desgraça e o infortúnio!