Fala Galera,
Chefe Domenica fez a encomenda dessa lista para comemorar o Dia do Cinema Nacional no dia 5 de Novembro e me levou, em um primeiro momento, a um brainstorming para lembrar de duplas filme/livro que podem ser encontrados no mercado nacional. Sempre fico com medo nessas listas, e tenho certeza que fiz de novo, de esquecer algo super relevante e que estava bem na cara. Pedradas nos comentários!
Apesar disso, o maior desafio ainda me aguardava. A própria comemoração é bem controversa.
Na internet é frequente encontrar a comemoração no dia 5 de Novembro. O motivo para isso varia e passa pelo nascimento do cineasta Paulo Cesar Saraceni nesta data em 1933 ou o aniversário de morte do cineasta Humberto Mauro nesta data em 1983. Temos ainda a versão de que a primeira gravação no Brasil teria sido realizada nessa data em 1907 (versão defendida no livro O Romance do Gato Preto em 1953 e adotada a partir de então). Já na década de 1970 descobriu-se que o italiano Alfonso Segreto, em 1898, gravou imagens da Baía de Guanabara. O Ancine contesta a data de 5 de novembro e adota o dia 19 de junho como a data oficial devido a produção do que seriam as primeiras imagens em solo brasileiro. Isso complica ainda mais quando descobrimos que o pernambucano José Roberto da Cunha Salles gravou em maio de 1897, ou seja um ano antes, Ancoradouro de Pescadores na Baía de Guanabara. José Roberto era sócio do irmão de Segreto.
Com toda essa confusão, como saber em que dia será comemorado, oficialmente =D, essa data tão importante ano que vem?! O que posso dizer é que estamos na internet, e com a internet vamos. Então aqui vai uma lista de sugestões para curtir a data com um bom filme que faz parte da história do cinema nacional e que tem livro! Pipoca numa mão, livro na outra, apaga a luz, acende a lanterna e se joga.
Quincas Berro D’Água (2010)
Direção de Sérgio Machado
Com Mariana Ximenes, Marieta Severo, Paulo José, Milton Gonçalves, Othon Bastos
A história de Quincas, “cidadão exemplar”, que a certa altura da vida larga tudo (reputação, trabalho, família) e se junta ao lado mais festivo de Salvador. Seus bares, companheiros de copo, meretrizes se tornam lar e família do personagem. A história se desenvolve na morte de Joaquim Soares da Cunha, o Quincas, com ambos os lados tentando reforçar suas características no cadáver e velório.
O livro lido ao fim da adolescência tinha deixado uma marca em mim. Por que alguém faria algo assim? O que ele procurava? O que ele encontrou na malandragem soteropolitana? O filme de 2010 trouxe tudo isso de volta com boa ambientação e uma excelente interpretação de Paulo José (a quem admiro não só pela sua arte, mas pela sua batalha pessoal) e outros grandes intérpretes envolvidos na produção.
Uma pérola do cinema nacional.
Livro: A Morte e A Morte de Quincas Berro Dágua (Jorge Amado)
Coisa mais linda – Histórias e Casos da Bossa Nova (2005)
Direção de Paulo Thiago
Com Nelson Motta
O documentário é baseado no livro de Ruy Castro contando as histórias da Bossa Nova se tornou um delicioso documentário pontuado por um de meus estilos musicais favoritos. Entrevistas com Roberto Menescal são o fio condutor de ambas as obras e, apesar de boa parte das histórias se repetirem com diferentes níveis de profundidade, existem histórias exclusivas em ambos os formatos. O filme conta ainda com um excelente trabalho de pesquisa que nos permitiu rever cenas de arquivo há muito perdidas.
Livro: Chega de saudade (Ruy Castro)
Xangô de Baker Street (2001)
Direção de Miguel Faria Junior
Com Joaquim de Almeida, Anthony O’Donnell, Maria de Medeiros, Claudia Abreu, Caco Ciocler
Em sua estréia nos romances, Jô Soares cria uma mistura improvável de personagens reais e fictícios nos surpreendendo até a última página com sua capacidade de concatenar suas histórias de maneira cuidadosa e quase verossímil. Entram aí Chiquinha Gonzaga, D. Pedro II, Sherlock Holmes, entre outros (se você tem a mania de ler a última página do livro, ou até a última frase, resista ao impulso nessa oportunidade para ganhar a surpresa de mais um personagem no último fôlego do livro). O filme, apesar de desfilar uma grande quantidade de clichês e estereótipos, funciona. O bom desenvolvimento da trama e o pitoresco Holmes retratado (como no livro) são minhas maiores lembranças da obra.
Livro: O Xangô de Barker Street (Jô Soares)
Carandiru (2003)
Direção de Hector Babenco
Com Wagner Moura, Luiz Carlos Vasconcelos, Milton Gonçalves, Ivan de Almeida, Ailton Graça, Caio Blat, Gero Camilo, Maria Luisa Mendonça, Rodrigo Santoro
Estas obras estão aqui como reconhecimento pela sua relevância e profundo impacto na sociedade, assim como as discussões que suscitou na época. O livro relata 10 anos de atendimento pelo médico no interior do presídio Carandiru retratando de forma crua e fiel o cotidiano da prisão e seus personagens. Por uma daquelas inexplicáveis coincidências nunca li ou vi Carandiru, o que leva qualquer coisa que eu escreva aqui irrelevante perto da obra. Corre lá e não faça como eu.
Livro: Estação Carandiru (Dráuzio Varella)
Tropa de Elite (2007)
Direção de José Padilha
Com Wagner Moura, Caio Junqueira, André Ramiro, Milhem Cortaz, Fernanda de Freitas, Fernanda Machado, Thelmo Fernandes, Maria Ribeiro
Com conteúdos muito diferentes, as duas obras tiveram grande repercussão.
O livro, lançado primeiro, traz o que seria uma narrativa fictícia mais próxima da realidade dos quartéis e soldados de elite do Rio de Janeiro. O filme, por força da linguagem traz uma adaptação que seria mais distante, mas não menos eloquente do BOPE, sua filosofia, potencial, poder e ação.
Uma obra impressionante em qualquer dos seus formatos e que marcou o cinema nacional.
Livro: Elite da Tropa (Luis Eduardo Soares, André Batista, Rodrigo Pimentel)
Nota: O filme teve ainda uma continuação de excelente qualidade entitulada “Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro”.
Mas antes de acabar a pipoca…
Antes de me despedir tenho que dar uma trapaceada leve (já tá virando hábito) e indicar um sexto filme que não faria sentido comentar no corpo da lista já que escrevi na coluna “Era uma vez rapidinho”, dedicada as obras e ao profundo impacto que tiveram em mim. Falo de Confissões de Adolescente que pode ser encontrado aqui.
Acho que é isso!
Muita coisa boa na lista que eu montei ficou de fora. Grandes chances de obras ainda maiores que as mencionadas terem ficado de fora por esquecimento, desconhecimento ou simples gosto pessoal. Afinal de contas, lista é isso mesmo e como mencionei acima, complementos, pedradas, reclamações só passar aí embaixo nos comentários. Nos vemos nos debates, guardem tochas e ancinhos.
Abraços,
Rodrigo Fernandes
Nota da editora: Nessa quinta-feira enquanto surgem novos filmes nas telonas aproveite e dê uma chance ao cinema nacional. Qual o seu favorito? Qual o seu indispensável? Supere aquele preconceito nato do brasileiro, não tenho dúvidas de que você vai se surpreender! Bom filme! Boa leitura!