[Coluna] Terror: uma literatura ainda underground

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Usando uma definição acadêmica, literatura underground seria, toda e qualquer obra literária que não é de conhecimento de um grande público, seguindo esse pensamento vemos que há muita coisa acontecendo no cenário literário que não é do conhecimento de todos.

Vamos fazer uma analogia rápida, comparado a literatura hoje no Brasil com a sinistra deep web. Deep Web é uma expressão em inglês que quer dizer “Internet Profunda”, na tradução literal para a língua portuguesa. É uma zona da internet constituída por um conjunto de sites, fóruns e comunidades que não podem ser detectados pelos tradicionais motores de busca, como o Google ou o Bing. Assim funciona com a literatura, temos uma incrível quantidade de novos autores que estão produzindo obras fantásticas mais que poucos têm acesso justamente por eles não estarem em evidência em grandes editoras. Então vamos submergir, e ver como estão alguns gêneros vistos por esse raciocínio.

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André Vianco

O terror, horror e suspense são como irmãos gêmeos siameses. Hoje a cena nacional é representada por André Vianco e seus vampiros, com um trabalho bacana, misturando a mitologia dos vampiros com o cotidiano brasileiro (como se já tivéssemos acostumados com os sangues sugas que andam de terno e gravata que trabalham em Brasília). Com diversos livros publicados, como Sementes no gelo e o recente A noite maldita, é um dos primeiros que vem a cabeça quando falamos desse tipo de literatura no país. Temos também outros nomes, como Eric Novello com o livro Neon Azul, porém como dito antes nossa intenção é ir além do que a  editoras nos oferece, é mostrar um submundo desconhecido e cheio de coisas novas para descobrir.

Maurício Caldeira
Maurício Caldeira

Recentemente tive acesso ao livro Visões Noturnas, um livro incrível composto por doze contos passados em uma cidade fictícia onde os personagem encontram o terror em suas vidas do jeito mais improvável, escrito pelo paulista Maurício Caldeira. Um livro pouco conhecido mais que representa muito bem o gênero e que sem duvida vai te fazer olhar em baixo da cama antes de dormi.

calafrios da noite
Capa de Calafrios da noite de Cesar Bravo

Uma das coisas que mais me chamou atenção foi o César Bravo, um autor super talentoso que tem todas as suas obras publicadas pela amazon.com, uma ferramenta utilizada por vários autores iniciantes para divulgar seus trabalhos em e-book. Com mais de 5 livros lançados, ele atrai o leitor de uma forma impressionante, que realmente chega a assustar. Não tenho o hábito de ler no computador, pelo fato de procrastinar pela web de forma louca, mas ele conseguiu fixar meus olhos na tela como se eu tivesse olhando para a medusa, comprei um de seus livros, e então comecei a ler e não consegui parar, realmente, é de um talento incrível, ele resgata aquelas sensações de cuidado ao andar no escuro a noite e cobrir a cabeça com o lençol ao ouvir um ruído, o livro em evidência seria o Calafrios da Noite. Particularmente sou um cara cheio de manias e paranoias cotidianas, uma coisa que ele aborda muito bem no decorrer de 15 contos, cada conto aborda o terror de uma forma diferente e genial, coisas banais como uma coceira irritante na perna ou uma ressaca de fim de semana, viram pesadelos insanos, juro que toda vez que eu tenho alguma dor sem causa lembro de um dos contos e bate um leve paranoia.

Batendo um papo rápido com o autor, ele falou da dificuldade em publicar no Brasil e um pouco sobre suas preferências e um conselho para os iniciantes:

Não temos um mercado sério. Você escreve, reescreve, revisa e quando tudo está maravilhosamente polido, ninguém quer ler. É terrível. As editoras ainda estão interessadas em talentos internacionais, vendas garantidas, se é que você me entende. Compreendo, é claro, que a editoração é um negócio, mas poxa… É preciso estar atento às novidades.

Quais escritores o influenciam?

Acho que todos eles. De pichadores de muros à Best Sellers, não tenho preconceitos. Mas gosto muito de ler terror — obviamente. Caras como Stephen King, Poe, Lovecraft, Clive Barker, Dean Koontz, Gaiman, Agatha Christie, Willian P. Blatty. Também leio Dan Brown, Paulo Coelho (leio mesmo) e autores novos que estão começando por aqui.

Um conselho para um escritor de começo de carreira:

Precisa ler muito, ler até seus olhos embaçarem. Depois, é preciso ter disciplina. Você precisa sentar sua bunda em uma cadeira e escrever todo santo dia. Como sempre digo, seu primeiro livro será um lixo, mas com o tempo você chegará naquele momento mágico onde não acredita no que acabou de escrever. Depois disso é muita perseverança. Não é fácil publicar no Brasil, sobretudo, em editoras tradicionais (eu ainda não consegui!). Você vai precisar cativar seu público, dar a ele o que ninguém dá e com sorte, terá algum reconhecimento.

E essa corrida maluca será o pedaço mais fantástico de sua vida, tenha fé nisso.

A cena no terror brasileiro ainda tem muito o que crescer e temos gente boa para isso, falta uma atenção maior das editoras. Então e isso, caro leitor, espero que após a leitura desse texto você que gosta do gênero corra para a internet para achar novidades. E o convite se estende a quem também não gosta de terror é uma ótima oportunidade de conhecer o gênero afinal de contas, nunca se sabe o que um livro desses pode te ensinar, vai que um dia você tem que se defender de uma criatura sobrenatural vinda do inferno para puxar seu pé? Enfim é isso, e não se esqueçam, ler é ter várias vidas em uma só vida.