[Coluna] Noite de Extremos

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Correndo após uma festa junina infantil, fui assim bem rapidinho, colocar o carro na estrada para cuidar do Tirando da Letra dessa semana.

O show em SP era muito importante e sinto que me preparei para ele pelos últimos 23 anos, como lembrou em um português muito carregado o guitarrista, desde quando a banda esteve por aqui pela última vez. Depois disso a banda já acabou, reformou, trocou de baterista 2 vezes, mas manteve sua personalidade e técnica inalteradas. A turnê em andamento apresenta seu melhor, e mais bem sucedido, disco em aniversário de 25 anos de lançamento, incluindo no repertório todas as suas músicas e é isso que eu pretendo contar para vocês. Um pouco da música, um pouco da letra, um pouco do show e um pouco da emoção de estar lá. Para vocês hoje trago mais que palavras: Pornograffitti do Extreme.

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O show começou com um pequeno atraso de 10 minutos, tempo aproveitado pela galera para ir em um crescendo de ansiedade, gritos, palmas e mostras de ansiedade em geral. O público era variado e se encontravam representantes de diferentes tribos e idades. A entrada da banda é matadora com um triturador sonoro e solos de guitarra voando por todo o palco. O refrão preciso dava a tônica da noite em um trocadilho difícil de ser traduzido.

“Everybody’s decadancin’ / Dancing to the decadence / dancing to the deca… dance.”

A dinâmica da noite estava estabelecida e a banda ganhou o jogo já nos primeiros minutos. Dali para frente o disco aniversariante seria tocado na ordem da gravação e a platéia dançaria, decadentemente, por toda a noite.  O show seguiu com a também pesada e agitada “Lil Jack Horny” (algo como “Joãozinho Tarado” em tradução livre).

Com a platéia ganha se seguiram músicas como “When I’m President” (“You can be anything in the world today / Something like a preacher, a teacher / A baseball player / Those kind of things I just don’t care / I want to represent the USA“) e criando um novo estilo musical como em “Get The Funk Out“.  Acredito que essa música junto com “Epic” do Faith No More, “Give it Away” do Red Hot Chilli Peppers e “Elvis is Dead / Cult of Personality” do Living Colour (todas mais ou menos da mesma época) deram origem ao movimento do Funk Metal que acabou evoluindo (sei que chamar de evolução nesse caso é controverso, mas aqui nesse caso é só o que veio depois) para o Nu Metal.  Várias dessas bandas devem aparecer por aqui no Tirando da Letra no futuro.  Nesse momento o baixo de Pat Badger brilha ainda mais com a clássica levada criada para essa música.

Chega o grande momento da noite, baixista e baterista se retiram cadeiras e violão são trazidos ao palco.  Lado a lado Gary e Nuno entoam aquela que, certamente, é a música mais conhecida da banda “More Than Words“.

Por mais que antes eu tenha pensado, racionalmente, que essa música não representa a banda e seu som, é inevitável não se emocionar com a interpretação dos dois no palco e todo o HSBC cantando em uníssono a letra do começo ao fim.  Mais que palavras, todo um clima de cumplicidade entre a banda e o público surge.  Tudo bem, esa música era jogo ganho, mas eu nunca imaginaria o que vi ou senti cantando essa música junto com todo mundo e a banda.  O nível de carisma de Gary é monstruoso!  Junte a isso Nuno conversando naturalmente em português, ainda que carregado de sotaque, e a empatia já ia longe, o show se tornou uma festa entre amigos… e só estava começando!!!

Platéia ganha, a pressão do grande hit já tirado do caminho, segue o jogo que tem muita coisa para acontecer e como fã eu já sabia disso.  Money canta a devoção ao dinheiro de maneira fortemente sarcástica como no refrão “Money, My personal saviour / Money, A material lust / Money, Life’s only treasure / Money, In God we trust” e It’s a Monster voltam a pegada rock com os solos de guitarra incendiando a platéia.

A música título Pornograffitti canta a erotização da sociedade com muito groove.  A arte do disco remete fortemente a isso também e a edição de luxo, lançada recentemente, por ocasião do aniversário do disco apresenta ainda arte adicional. “All I see is pornograffitti / All I hear pornograffitti / See no, hear no / All I speak pornograffitti All I fear pornograffitti / Speak no evil”.

Mais uma breve interrupção e Nuno senta ao teclado, o que pode ter surpreendido parte da platéia, fato comentado pelo vocalista.  Para o momento mais aguardado por mim e para surpresa de parte da platéia, Nuno começa com um solo de teclado e é seguido, na sequência, pela banda para uma balada ainda mais bonita que “More Than Words”:  “When I First Kissed You” é uma balada completa, no nível das melhores gravações do Frank Sinatra, mencionado humildemente na música (“I was shaking / You were breathtaking / Like the, Empire State / My voice was so far / Not quite Sinatra / Singing songs, so great”).  Sou obrigado a discordar…   Baixo upright e banda tocando toda junta no palco, da bateria à interpretação, é excelente como se isso fosse realmente a pegada da banda, e a de Gary, em especial, se supera.

De volta ao rock, distorção a toda, Suzi (Wants Her All Day What?) toma o palco novamente.  Na sequência a introdução instrumental “Flight of the Wounded Bumblebee” abre a “He-Man Woman Hater”.  Música sobre misoginia cantada de forma irônica, que é a tônica do disco temos um refrão (essa coluna parece toda sobre o show e refrões… de certa forma é) “Sooner or later / You’ll be a he man woman hater / It’s inevitable / And to become one / You’ve gotta really hate to love them  / He man woman hater”.

Nos aproximando do “primeiro final” temos mais duas baladas.  “Song For Loe” tem a pegada operística inspirada em Queen que daria a tônica do próximo disco (do qual gostaria de falar com mais calma no futuro por que… bem por que sim, certamente merece).  Ao som de um instrumental com ar de orquestra, mas executado apenas pela banda temos uma das aberturas mais impressionantes para uma música (e assim escapo de falar só dos refrões) “I lie awake with open eyes / My love just died / I’m cold inside / Can’t face the thought to be alone / All by myself on my own /
Love’s come and gone”.

Mas falando em refrão, nessa música o refrão, cheio de significado para os presentes era entoado por todos, banda e público, como se estivéssemos em volta de uma fogueira prometendo devoção eterna e nos vemos na próxima turnê (“All for one and one for all together / Singing a song for love / You and I are none without the other / Singing a song for love”).  A essa altura o baterista (Kevin Figueiredo) já havia deixado a bateria e tocava percussão a frente do palco junto com a banda.

Encerrando a primeira parte do show uma outra música, que é um pouco mais conhecida da época, “Hole Hearted”, bem apresentada com o apoio de um violão de 12 cordas.  Voltando aos refrões, o dessa música é espetacular:  “There´s a hole in my heart / That can only be filled by you / And this hole in my heart / Can´t be filled with the things I do / Hole hearted”.

E seguindo essa a despedida, com a única música do Pornograffitti até aqui, um cover de “Crazy Little Thing Called Love” do Queen, grande inspiração da banda.  Em turnês anteriores essa combinação não existia, mas “More Than Words” era misturada a “Love of My Life”, também do Queen.

Isso foi a primeira metade do show, e é por onde fico.  Depois voltaram para tocar músicas dos outros discos, mas que não vou falar hoje.  Só o que posso dizer para concluir a história é que ao fim do show, ninguém queria ir embora a banda permaneceu no palco por quase meia hora cumprimentando as pessoas, conversando, Gary foi carregado, Nuno e Pat sentaram calmamente na beira do palco.  Duas horas e meia depois de iniciado o show, todos se tratavam visivelmente como amigos que se encontraram em uma festa, e esse é o clima.  Já estou esperando a volta e que não sejam mais 23 anos por favor!!!

 

A coluna já tá gigante, tá no meio da madrugada e preciso ir trabalhar. =D

Mas certamente as letras do terceiro disco em si valem outra coluna dessas.  Talvez na próxima tour…

Enquanto isso, fico por aqui e me despeço dessa oportunidade de dividir com vocês uma das grandes noites músicas da minha vida.

Party on!  E não saiam do tom…

Rodrigo Fernandes