História Zero, assim como em Reconhecimento de Padrões e Território Fantasma, explora o lado mais sombrio do marketing e o cenário conturbado do pós-11 de setembro e da crise global de 2008.
A nova meta do ambicioso Hubertus Bigend é controlar o fornecimento de uniformes militares nos Estados Unidos e se valer da crescente influência desse estilo no mercado mainstream. Para tanto, ele busca aliciar o criador anônimo de uma obscura e desejada marca de roupas que virou febre entre consumidores do mundo inteiro.
A ex-roqueira e jornalista Hollis Henry está praticamente falida. A contragosto, ela aceita a proposta do bilionário belga para rastrear e identificar o misterioso designer. Nessa missão, Hollis contará com a ajuda de Milgrim, um tradutor ex-viciado em drogas cuja drástica reabilitação fora bancada pelo próprio Bigend. Mas o trabalho de ambos chama a atenção de concorrentes indesejados, dando início a uma delirante perseguição que acaba envolvendo um agente do governo norte-americano, o intrépido namorado de Hollis e até mesmo o ex-baterista de sua antiga banda.
Eu nunca havia lido William Gibson, mas pelo fato de já estar com um belíssimo exemplar de Neuromancer em mãos, que será resenhado em breve, achava que toda produção do autor se passava no universo do Cyber Punk. Ledo engano. A chamado Trilogia Blue Ant, composta pelos livros Reconhecimento de Padrões, Território Fantasma e História Zero, todos lançados pela Aleph, tem uma pegada bem diferente.
Apesar de ser um trilogia, os livros podem ser lidos separadamente sem problema algum, tanto que eu li História Zero sem ler os demais e entendi perfeitamente a história. O estilo desses livros é um ficção especulativa nos tempos atuais, envolvendo empresas de marketing e espionagem industrial, com bastante envolvimento de tecnologia, é claro, o que trás para o livro um pouco da estética Cyber Punk, como não podia deixar de ser.
O estilo de escrita do Gibson é bastante ágil e bem viajado. Em partes, me lembrou um pouco o andamento e ritmo da narrativa de Snow Crash de Neal Stepheson, que resenhei aqui. Ele também revela pouquíssimo, não explica os acontecimento bizarros, mas as peças do quebra cabeças vão se montando com o tempo, e esse modo de condução de narrativa me agrada muito.
A trama gira em torno da Blue Ant, uma enigmática empresa de marketing/moda dirigida por Hubertus Bigend, que contrata a ex-roqueira e jornalista de arte Hollis Henry para encontrar o estilista responsável por uma misteriosa marca de roupas chamada Gabriel Hounds. Outro personagem importante é Milgrim, um ex-viciado em drogas que tem uma excelente capacidade de obervação, que Hubertus usa para ações de espionagem.
Até ai a trama trás elementos bem diferentes do que comumente eu li nesse tipo de livros, e apesar de gerar estranhamento, também causa grande curiosidade e te impele a continuar lendo para descobrir mais. Um problema que tive é que devido a essa temática de moda, Gibson descreve muito o que as pessoas estão vestindo, com nomes de marcas que para mim não significam nada. Pode ser que outras pessoas conheçam, mas eu não tinha ideia do que ele queria dizer com aquilo. O livro é altamente descritivo, tanto de ambientes quanto de objetos, e o autor é um tanto obcecado por marcas e grifes, não só de roupas, o que é um tanto cansativo.
Mas meu maior problema com o livro é a virada que a trama sofre de determinado ponto em diante. Já estamos centenas de páginas na história, com os personagens bem definidos e a busca pela criadora da Gabriel Hounds, quando, subitamente, essa trama parece perder a importância e é sobrepujada por outra muito maior. Hollis, que aparecia sempre como a co-protagonista, junto com Milgrim, fica um tanto quanto sem rumo, e outro personagem assume a dianteira dos acontecimentos.
Hollis tem um ex-namorado que faz saltos com wingsuit, e que se machuca gravemente. O problema é que quando ele aparece de verdade na história, ele se revela, misteriosamente, muito mais um espião top de linha do que um atleta. Ele toma a frente da operação de Bigend e resolve tudo, com vários contatos influentes e recursos tecnológicos de ponta. Isso me incomodou muito. Num determinado momento, o próprio namorado diz que tudo poderia ter dado errado se Hollis não tivesse se envolvido, pois ele não teria aparecido.
E é exatamente essa sensação que fica, Hollis não serviu de nada na trama maior, foi um mero acessório para trazer o verdadeiro salvador do dia. A trama que foi colocada como a central por centenas de páginas some, a estilista da Gabriel Hounds até conversa com Hollis, mas isso não tem efeito nenhum na história. Fiquei feliz de ver um mulher num papel principal, especialmente uma tão forte e decidida, e vê-la ser colocada de lado desse modo foi bem chato.
Enfim, esse foi o grande ponto falho do livro para mim, o namorado virou um grande deus ex-machina, pois foi introduzido como um atleta e surgiu como um agente especial quando foi necessário, e tomou o lugar dela, reduzindo a personagem a um mero acessório. Isso aliado às descrições exaustivas derrubaram a nota que dei ao livro, mas ainda assim recomendo a leitura a você que queria ler algo totalmente diferente em termos de temática, com influência Cyber Punk, espionagem, ação e leitura bastante dinâmica.
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Editora: Aleph
Autor: William Gibson
Origem: Estrangeira
Título original: Zero History
Ano: 2015
Número de páginas: 504
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