Estou precisando de algo assustador. E, não, não estou falando das últimas expectativas quanto as cadeiras ocupadas no congresso ou a adesão de pró-militares aos que marcham contra uma presidenta democraticamente eleita. A minha divagação é mais juvenil.
Não faz muito que não podia entrar em sites assustadores ou que revelavam tendências conspiratórias ou fantasmagóricas sem sentir um leve aperto. Hoje, a minha frustração quanto ao medo é proporcional ao número de páginas na internet que o tentam desvendar.
Posso imaginar que diagnosticar o terror como gênero favorito e analisar suas inúmeras faces através das décadas tenha sido um propulsor, tanto quanto a maturidade agnóstica, que chegou a partir dos 15, porém isto reproduz um leve infortúnio. Sou um adorador do sobrenatural, do medo e de sua essência primitiva, mas não recordo a última vez que me infantilizei diante de um fato inexplicável ou uma história contada ao redor do fogo.
Meu medo de hoje é a ausência num quarto escuro, o lado da cama vazio, a perda da luta contra a depressão, não encontrar a saída do bosque, tornar-me insensível. Acho que necessito de algo assustador. E que me traga de volta à época que ainda possuía imaginação.
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Da série “Musas”:
Seu nome embala os versos de uma música, mas sua beleza não descende de nenhuma canção da década de 80, não, tu não possui nada de poético. És brutal. Não é um verso, mas uma constatação, uma personagem bukowskiana, uma epígrafe. Você é a morte. O fim dos desejos mais primitivos. O futuro, não o passado. Sua pele flerta com seu nome, sua intensidade com sua impulsividade. És a conclusão consciente de outro, mas isto não fere sua essência; pelo contrário, amplia-lhe. Tão distante quanto a extinção, tão perto quanto a cobiça. A ausência dos sonhos, a perdição dos letargos. Única. Uma claridade num mundo obscuro. Centelha seu espírito nessas palavras, para elas me abraçarem neste meu culto, enquanto aguardo seu espectro em outra doce boca.