As palavras são inesgotáveis para quem vive da escrita. Sempre haverá algo para se falar. E hoje é um daqueles dias, que, apesar da infinitude das palavras, você não as acha. Elas se perderam de você. As danadinhas sumiram. E você ficou sozinho, outra vez. Nem com suas acompanhantes mais íntimas. Como deve ser a vida para alguém que é obrigado a viver sem elas? Alguém que é forçado por alguma condição física. Não metafórica. Uma pessoa que não é permitida a mexer um músculo para dar um pouco de si para o mundo? Que é isso, para mim, que o escritor preserva em sua vida: um pouco de si exposto na grafia simples de linhas que configuram uma expressão. A sua expressão. Hitchens divagava que se você tem um bom conteúdo oralmente, passar ao papel seus pensamentos é muito mais fácil. É difícil um bom escritor não saber falar em público, dizia ele. O escritor estava perdendo a voz, na ocasião. E, portanto, o seu lamento era muito maior e mais profundo que uma simples afirmação. A perda de sentidos é algo do que mais cruel pode acontecer ao ser humano: a prisão no corpo, que não o quer mais ali. Você não sente, raciocina pouco, não toca, não vive. Você sobrevive. Sem controle sobre si. Torna-se engessado. No sentido mais literal que há. É difícil saber como proceder quando algum conhecido é atingido por isso. Não existe chance de conceber a perda que essa pessoa teve. Imaginá-la, tampouco. Você apenas deve testemunhá-la, compreendê-la, torná-la o mais confortável possível e seguir em frente. Como? Adoraria saber a resposta, mas como vocês sabem, faltam-me palavras.
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Para meu avô, que hoje completa seis anos sem estar ao meu lado:
Ah, se nas palavras coubessem os meus sentimentos,
assim, imortalizando fragmentos de minha existência,
se soubesse categorizar a saudade,
Ah, eu ofereceria para você.
(Este autor).