Por Andrey Lehnemann
Quando comecei a usar a internet, eu tinha uns 9 anos. Antes, a Enciclopédia ainda era a principal fonte de pesquisa, o Google não existia e o mais próximo de uma ferramenta de buscas era o “Cadê?”. Da mesma forma, eu possuía uma falta de ânsia pelo acesso, que é inerente nos dias de hoje. Para viver, hoje em dia, necessitamos estar conectados em meia dúzia de redes sociais. Mas, por outro lado, a descontrolada indigência por informação fez com que sites crescessem; que pessoas ganhassem voz; que pudéssemos ter diferentes pontos de vistas sobre fatos que sempre tivemos análises divergentes do monopólio midiático. Nunca se escreveu tanto no país. Com pessoas, sejam jornalistas ou adolescentes com hormônios à flor da pele, expondo os seus sentimentos e opiniões sobre basicamente tudo. Se isso é bom ou ruim, ou até que ponto as parcialidades políticas acabaram influenciando a nossa busca por informações, aí é outros quinhentos.
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Coutinho acrescentava algo atemporal à multiplicidade de vozes: “a necessidade de ser ouvido é a necessidade humana mais profunda. Ser ouvido é ser legitimado”.
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O excelente The Intercept recentemente publicou uma reportagem de Jeremy Scahill e Ryan Devereaux que indica uma pergunta importante: a que custo chegou a contraespionagem americana? As informações são assustadoras. Segundo o tal do livro de regras para considerar alguém um terrorista e um risco ao país não será mais necessário provas concretas e contundentes. Não será indispensável um julgamento. Qualquer rumor poderá lhe levar para a tal lista. Americano ou estrangeiro. Culpado até que se prove o contrário, como disseram alguns. Lembrei-me de uma fala de Arquivo X em que Mulder dizia para Scully: “quando o custo humano se torna alto demais para se construir uma máquina melhor?”. Tudo em nome da falsa segurança.
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Dizem que o amor é entendido pelo tempo, mas nunca vi alguém o entendendo, após dar uma consultada no relógio. Machado dizia que o coração é o relógio da vida, se você não o consulta, naturalmente acaba andando fora do tempo. Mas suponho que ele estava apenas sendo galanteador. Após uma consulta ao seu coração, claro.