“É assim que eles pensam; pensam assim os cem mil Kantoreks! Juventude de ferro. Juventude? Não temos mais de vinte anos. Mas quanto a sermos jovens? Quanto à mocidade? Isso já acabou há muito tempo. Somos uns velhos”
Quem acompanha o CabulosoCast descobriu recentemente que tenho grande interesse pela Guerra. Não em causar a guerra ou dela participar, o interesse vem em saber como, por quê, o que pensavam? Discutindo essas dúvidas com Domenica ela me apresentou e emprestou esse livro.
Não é um livro sobre a Segunda Guerra, posso até arriscar que ele é sobre todas as guerras porque não veremos como sofreu o povo judeu ou o povo alemão, veremos o que se passa com o soldado, o que ele pensa, como ele age e o porquê. Remarque esteve na Primeira Guerra e soube passar as sensações para o papel com louvor.
Nele acompanhamos Paul, um menino soldado que foi para a guerra junto com seus colegas de sala, influenciados pelos pais e professores de que seriam heróis, porém o heroísmo passa longe dessa história. Ela mostra o horror da Guerra e as dúvidas dos soldados de que aquilo é realmente certo, realmente necessário.
“— É a primeira vez que diz alguma coisa certa Tjaden; Estado não é pátria… há, na verdade, uma diferença entre eles.
— No entanto estão ligados. Não pode haver pátria sem Estado.
— É verdade mas, pense um pouco; somos quase todos gente do povo. E, na França, a maioria também é gente do povo: operários, trabalhadores e pequenos empregados. Por que, então, deveria um serralheiro ou um sapateiro francês nos agredir? Não, são só os governos. Antes de vir para a guerra, nunca tinha visto um francês; e deve ter ocorrido o mesmo com a maioria dos franceses em relação a nós. Pediram sua opinião tanto quanto a nossa.
— Mas, então, pra que serve a guerra?
Kat dá de ombros:— Deve haver gente que tira proveito dela.”
O horror vem por conta de se perder a adolescência, a mocidade e se tornarem adultos, velhos tão repentinamente por causa de tudo o que passaram, de tudo o que viram. O livro narra com detalhes as mortes e seus horrores:
“Aqui e lá estão pendurados apenas farrapos de uniformes; mais adiante, colou-se uma massa sangrenta que já foram membros humanos. Vemos um corpo estendido com uma só perna […]. Está nu, a farda espalhada pela árvore. Faltam-lhe os dois braços, é como se tivessem sido desatarraxados. Descubro um deles que foi cair a uns vinte metros do corpo no meio do mato.”
Mas a guerra também tem sua beleza e é o companheirismo entre os soldados. Porque sem essa “beleza” só restaria a morte a loucura. Como Paul se sente sozinho sem os colegas por perto, mesmo quando ganha uma licença e vai para casa, ele sente-se deslocado, como se ali não fosse mais seu lugar, que a pessoa que gostava daqueles livros e dormia naquela cama fosse outra. São completamente unidos e a morte desses companheiros é a única que ainda pode abalá-los.
“Estas vozes são mais do que a minha vida, são mais do que o amor materno, mais do que o medo, são a coisa mais forte e protetora que há no mundo: são as vozes dos meus companheiros.”
É um livro pacifista que mostra o lado verdadeiro da guerra: o horrível, o despedaçado o sem heróis. São só homens, são só meninos e a cada dia que passa perdem um pedaço de si mesmos.
“A vida é simplesmente uma constante vigília contra as ameaças da morte; fez de nós animais, para dar-nos a arma terrível que é o instinto; embotou nossa sensibilidade, para que não nos aniquilássemos diante do horror que se apoderaria de nós, se tivéssemos o pensamento claro e consciente. Despertou em nós o sentimento de companheirismo, para que pudéssemos escapar do espectro da solidão; emprestou-nos a indiferença dos selvagens, a fim de que, apesar de tudo, sentíssemos de cada o positivo e o armazenássemos contra o ataque do Nada.”
NOTA:
Editora: L & PM Pocket
Autor: Erich Maria Remarque
Origem: Estrangeira
Título original: Im Westen Nitchs Neues
Ano: 2011
Número de páginas: 226
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