Análise:
Como diria o crítico Pablo Villaça, do site Cinema em Cena, “a tarefa de uma análise é tornar o público mais exigente”, e, em consequência disso, melhorar a qualidade das obras – ou no caso das editoras, torná-las mais cuidadosas com os livros que exportam para o nosso mercado. Bom, não sou e nem me considero um crítico profissional, por isso darei minha opinião de consumidor.
Dean Koontz, para aqueles que não sabem, é o maior concorrente de Stephen King nos E.U.A. Diferente do “Rei do terror”, Koontz é mais objetivo e costuma amarrar as pontas soltas de suas tramas. Seus romances são escritos com paixão e a prosa poética tornou-se sua característica mais marcante, tendo me influenciado até mesmo em meus próprios trabalhos. Ele é o responsável por obras-primas do suspense sobrenatural como: Fantasmas, A casa do Mal, Lágrimas do dragão e o imbatível Do fundo dos seus olhos, todos publicados pela editora Record.
Infelizmente, em Seu coração me pertence, Dean Koontz erra a mão e erra feio!
O livro conta a história de Ryan Perry, um empresário da internet que tem de tudo: uma namorada maravilhosa, saúde perfeita, uma fortuna interminável, tudo aquilo que qualquer mortal poderia desejar… até ele descobrir que sofre de uma cardiopatia com origens hereditárias. Agora Ryan precisa de um transplante urgente ou vai acabar no cemitério. Diagnosticado com apenas um ano de vida, ele corre contra o tempo para achar um coração compatível. Premissa interessante, certo?
Errado.
O romance se foca na paranóia de Ryan, que acredita ter sido envenenado por conspiradores. O autor tenta explorar essa linha, mas acaba arrastando o livro sem mostrar nada interessante por quase 200 páginas. Uma vez realizado o transplante, Ryan começa a ser ameaçado por presentes misteriosos que chegam a sua casa com os dizeres: “Seu coração me pertence”.
O segredo por trás das ameaças é interessante, mas o autor só o revela nas últimas 30 páginas de um total de 380 (páginas essas que já te aborreceram). O romance é tedioso, a prosa é burocrática, seus personagens são desprovidos de carisma e beiram o maniqueísmo, aliás, esse é um dos defeitos de Koontz: protagonistas com poucos tons de cinza, e mesmo quando ele cria um Badass, a violência é justificada por algum tipo de senso de moralidade superior-cristã-anal-retentiva.
Resumindo: existem ótimas obras do autor que você pode – e deve – obter em sebos. Com a expansão do mercado de literatura fantástica é de se estranhar certas escolhas para as traduções de Koontz. Enquanto isso, ficamos apenas com as séries Odd Thomas e a excelente Frankenstein.
Não deixei de gostar desse grande escritor, mas talvez ele devesse diminuir o ritmo de dois romances por ano para aumentar a qualidade. É impossível manter o nível de suas obras quando você precisa escrever em escala industrial.
Avaliação:
Dados da obra
Título: Seu coração me pertence
Gênero: suspense
Autor: Dean Koontz
Tradução: Gabriel Zide Neto
Páginas: 384
Editora: Record
Sinopse
Aos 34 anos, o bem-sucedido empresário Ryan Perry descobre sofrer de uma grave doença cardíaca. Sua única chance é um transplante de coração, mas o tempo é curto. Desesperado, ele não mede esforços para conseguir o novo órgão e, com o auxílio de um novo cardiologista, encontra um doador. Entretanto, um ano depois, Ryan começa a vivenciar uma série de estranhos eventos: sonhos excêntricos, vultos inexplicáveis, presentes bizarros e um vídeo de uma cirurgia com a arrepiante mensagem: “Seu coração me pertence.” De uma dádiva, o coração de Ryan se torna uma maldição.