Por Marcos Martins
Philip tinha um computador de última geração e uma conexão decente – coisa rara em países emergentes. Criou um perfil em uma rede social, conseguiu ter um milhão de amigos. Philip tinha um computador, um milhão de amigos virtuais, um nome legal, igual ao daquele escritor gringo, mas ele não era gringo, era apenas um latino americano sem dinheiro no banco, como disse aquele cantor, naquela música já esquecida.
Philip tinha tudo e mesmo assim se sentia o mais solitário dos seres, só não mais que Deus. Deus recebia orações todos os dias, além de pedidos egoístas, e isso Philip achava que deveria ser um porre. O fato de ouvir, ouvir e ouvir e nunca poder falar de seus problemas para ninguém deveria ser uma coisa muito triste e solitária.
Philip estava se tornando uma pessoa triste a acada dia, tudo por causa de uma fresta de luz que entrara em seu quarto. Ele tinha o mundo embaixo de seus dedos, porém sentia que não tinha nada. Um dia resolveu abrir a porta do quarto e a se aventurar nas ruas, achou tudo claro e colorido de mais. Philip tinha desaprendido a conviver com a luz natural, pois estava há muito tempo recebendo a claridade de seu monitor led de 32 polegadas. Havia esquecido como era sentir o calor do sol, igual àqueles garotos do filme que eram náufragos e tentavam celebrar o natal sem se lembrarem dos cânticos natalinos.
Philip não sabia mais como agir no mundo real, não se sentia bem ao molhar-se na chuva ou sentir o vento passar por entre os cabelos encaracolados, preferia o vento artificial de um ventilador a tocar seu corpo e a claridade de se monitor led de 32 polegadas.
Philip saiu de sua caverna e não gostou de todas as sensações que sentiu. Voltou para a sua casa, ligou seu computador de última geração, com uma conexão decente – coisa rara em países emergentes -, olhou para seu perfil em uma rede social, tinha ultrapassado a marcada de um milhão de amigos, mesmo assim não ficou feliz e não sentiu que tinha um mundo embaixo de seus dedos. Agora ele tinha outro problema, pois podia ver da janela de seu quarto o outro mundo que existia, que sempre esteve lá, mas até então nunca havia sido tocado por ele. E com um nó na garganta descobriu que era muito pequeno, já que agora sabia que havia outro mundo além das fronteiras do intangível, foi dessa forma que descobriu que não pertencia a lugar nenhum e essa descoberta o fez chorar tamanho não lugar descobriu ser.