Algumas adaptações são extremamente fieis à obra original. Outras utilizam a história apenas como uma base para uma nova leitura – para o arrepio dos fãs de livro. Qual modelo está correto? Isso, como quase tudo na vida, depende. A pergunta correta, antes de julgar qualquer filme é: qual a intenção do diretor ao fazer esse filme? Reproduzir algo de outra pessoa? Ou criar algo novo?
Se mais pessoas se fizessem essa pergunta antes de ver um filme, menos tomates (imaginários) seriam arremessados nos cinemas e os mais leitores teriam a oportunidade de se divertirem com novas obras. INSPIRADAS nos seus livros favoritos.
Isso posto, vamos à algumas adaptações:
DIVERGENTE – O mercado adolescente voltou de vez ao mapa das grandes editoras após o estrondoso sucesso de algumas obras recentes. Vários livros foram publicados visando atingir essa fatia do mercado, geralmente voltada para a fantasia com um protagonista adolescente, que vão de Percy Jackson à Jogos Vorazes, passando por Crepúsculo, Eragon e, agora, Divergente.
Divergente, primeiro livro da jovem Verônica Roth, se passa em uma Chicago futurista, onde a humanidade está dividida em cinco facções a Abnegação /Abnegados (Altruísmo), a Amizade / Cordiais (Solidariedade), a Audácia / Intrépidos (Coragem), a Franqueza / Cândidos (Sinceridade) e a Erudição / Eruditos (Inteligência). Aos 16 anos, todo jovem é obrigado a escolher um desses grupos, decisão que o acompanhará para o restante de sua vida. Nesse mundo, Beatrice Prior descobre que possui aptidão para mais de uma facção, tornando-se uma ameaça em potencial para a sociedade.
Tanto o livro quanto o filme é direcionado a um público alvo muito específico, com trechos que são claras metáforas de situações vividas por muitos jovens (como a escolha de uma faculdade ou o medo de não ser aceito por um grupo). Entretanto as duas obras têm dificuldades em atingir um público mais exigente, seja pela pouca profundidade do universo criado (a própria autora confirmou que, ao escrever o primeiro livro, não, tinha idéia do que havia acontecido com a humanidade para deixá-la daquele modo e que não sabia que ameaças existiam fora da cidade), quanto pelos diálogos previsíveis.
Mas nada disso foi suficiente para desagradar um público jovem que passou a ler como há muitos anos não se via. E nisso está o grande mérito da obra: a capacidade de se comunicar com os jovens.
Nota do livro: 6,5/10,0
Nota do filme: 7,0/10,0
NOÉ – a adaptação de um dos livros mais vendidos de todos os tempos não ficaria de fora dessa coluna – apesar do filme abordar eventos de um pequeno trecho da Bíblia. O filme parecia se limitar a ilustrar a famosa história de Noé e sua arca durante o grande dilúvio. Mas o diretor Darren Aronofsky, foi muito além, misturando elementos do judaísmo e criando um filme mais autoral que a maioria das adaptações bíblicas.
O filme foi proibido nos países mulçumanos antes mesmo da estréia e não agradou aos cristãos mais extremistas, pelas diversas liberdades artísticas adotadas por Aronofsky, chegando a ser criticado pelo Vaticano. Mas quem for ao cinema disposto a assistir uma história original, com toques de poesia, belíssima fotografia e focado no drama pessoal, irá desfrutar de um grande épico.
O elenco conta com três vencedores de Oscar: Russell Crowe, Anthony Hopkins e Jennifer Connelly, além dos jovens talentos de Logan Lerman (Percy Jackson) e Emma Watson (Hermione de Harry Potter).
Nota do livro: 10,0/10,0
Nota do filme: 9,0/10,0
WALT NOS BASTIDORES DE MARY POPPINS – Esse filme chegou aos cinemas sem muito alarde e faz parte do pacote da Disney pela comemoração de 50 anos do clássico “Mary Poppins”. Na verdade, trata-se de uma adaptação do livro “Mary Poppins e sua criadora”, que conta a história da escritora Pamela Travers e as longas negociações entre ela e o Sr. Disney para levar a lendária babá voadora das páginas do livro para as telonas.
Só por se tratar de uma adaptação literária que fala de uma adaptação literária, esse filme já mereceria menção nessa coluna. Mas o filme ainda trás um clima doce e romântico do universo Disney, além de mostrar toda a dificuldade de se fazer uma adaptação e o receio da escritora em concordar com as inevitáveis mudanças que há em toda adaptação.
O filme conta ainda com um elenco inspirado como a sempre excelente Emma Thompson no papel de Pamela Travers e ninguém menos que Tom Hanks como Walt Disney – o que por si só já vale o ingresso. Recomendado.
Nota do livro: 7,0/10,0
Nota do filme: 8,0/10,0
Gabriel Gaspar, escritor e roteirista, autor de O que pensa o homem e criador do canal Acabou de Acabar, sobre filmes. Além disso, é administrador e colunista do site Os Cinéfilos, além de colaborador do Homo Literatus e do Leitor Cabuloso.