por Thiago Tenório Albuquerque
Que me corrompe, cega, afoga, desespera, fortifica e consome. Dia após dia.
O poder que guia minha vontade, acompanhando-me durante as horas, dominando meus pensamentos, que me encaminha nas sombras e inspira meus atos.
Amargo veneno que consumo para manter minha sanidade enquanto mergulho na demência.
A única coisa que restou depois de você.
Pois já não sonho, respiro, como ou bebo.
Apenas permaneço aqui, preso nessa profunda escuridão, sob o peso de vários palmos em algum campo perdido em um distante ermo. Sendo pasto de vermes e raízes.
Pagando o preço secreto do teu falso bem querer.
Consumindo meu veneno, até que ele me fortaleça o suficiente para que a terra não seja uma prisão. Quando então caminharei ao seu encontro, para por mais uma vez tocar sua pele quente e macia. Abraçar-te e sentir seu coração pulsar junto ao meu peito e olhar profunda e demoradamente os seus olhos.
E ver neles o horror a te enlouquecer, para então, consumir sua carne, sorver seu sangue e sentir o seu coração negro, lentamente parar de pulsar.
Nesse dia, quando a luz dos seus olhos, os quais tanto amei e que agora são um dos motivos do amargo em minha boca, se apagar, poderei finalmente permitir que as sombras me guiem ao vale dos condenados.
Até que esse glorioso dia se faça, consumirei o meu veneno.
Enquanto ele me consome.