[Conto] As aventuras sobrenaturais do Marcos Mignola – Capítulo 7

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cap 07Por Alan Cosme

No centro da cidade havia uma delegacia, nessa delegacia havia um escrivão.

O escrivão estava executando a função de atendente, recebendo todos os chamados que os populares faziam. Aquele dia era atípico, não por ele estar exercendo uma função não condizente com seu cargo. Mas sim porque parecia que de uma hora para outra todos resolveram brincar de dar trote.

– O quê?! – Disse o escrivão mal conseguindo conter o riso. – Os duendes do seu quintal ganharam vida?! Faça-me o favor, vá procurar o que fazer! – O telefone é posto no gancho. O escrivão foi se preocupar com outras das suas atribulações. De repente o delegado Heitor Sacramento entra na delegacia afoito, parecendo que viu um fantasma.

– Rápido! Rápido! Ninguém pergunta nada! Quero todo mundo armado e na rua agora!

– Sim? Não vai precisar alguém ficar aqui em caso de..?

– EU DISSE TODO MUNDO!

Os policiais presentes ficaram preocupados, nunca havia acontecido algo assim antes. Algo tão importante que exigisse a presença de todo o efetivo. – Chame o pessoal que está de férias, de folga, até os aposentados. Quando eu digo todo mundo, é todo mundo mesmo!

No meio da conversa a tia da faxina passou pela sala indiferente a discussão, só se importando em varrer a poeira.

– Hei, você! Larga essa vassoura e pegue uma arma!

– Mas, senhor?

– Não estou de brincadeira, eu quero todo mundo. TO-DO MUN-DO!!

Com Heitor na frente liderando, os policiais formaram um pequeno exército. Um pequeno exército que não sabia ao certo qual era o inimigo que iria combater. Tal duvida, porém, não demorou a ser elucidada. Era obvio demais.

– Que desgraça é essa?!

A pergunta do policial é feita quando ele olha pela primeira vez o egípcio.

Vestido como um faraó, ele usava rédeas e cela. Porém não montava um cavalo, nem um camelo. Sua montaria era um jacaré.

– Isso nem é o mais perturbador. – Disse Heitor. – Se preparem para a batalha de suas vidas. Vamos, a cidade não vai se salvar sozinha.

Em outro lugar, um helicóptero de emissora tentava acompanhar a procissão. As câmeras tentavam registrar os monstros, os heróis, os mitos… No entanto a missão era inútil. Eles não podiam ser filmados. As lentes das câmeras não conseguiam captar suas imagens. O sistema de áudio não conseguia captar o som que faziam. Aqueles aparatos tecnológicos não foram feitos para registrar ideias que não precisavam de interlocutores.

– Desvia! Desvia!

O piloto do helicóptero é forçado a fazer uma manobra arriscada, quase não tem sucesso. Um dos manifestantes era forte o suficiente para erguer um carro e arremessá-lo longe como se fosse uma bola de tênis.

Quem foi que disse que ideias não podiam causar estragos?!

Quando há quebra-quebra envolvendo uma multidão ou passeata, os membros ativos do levante são só alguns poucos. A maioria é só plateia. Só estão lá para assistir os mais corajosos destruírem tudo. Naquela multidão em especial não havia plateia. Todos eram ativos. Muito ativos.

A tropa de choque se aproximava, munidos com os seus escudos e os seus cassetetes. Eles estavam preparados para enfrentar qualquer manifestação. Ou ao menos assim pensavam. Metade deles largaram seus postos e debandaram assim que viram quem iriam enfrentar. Os que permaneceram não conseguiram manter a posição nem por cinco minutos.

O exército manifestante partiu em estocada, a tropa de choque não foi páreo para eles. Seus cassetetes não conseguiam machucá-los. Seus spray de pimenta não conseguiam irritar seus olhos.

Um policial foi arremessado longe por uma fumaça preta que tinha vontade própria. Um outro foi acorrentado e preso em um caixão por uma bruxa de chapéu pontudo. Um terceiro sofreu nas mãos de um sujeito exótico que jogou areia em seus olhos. Areia diferente, feita da matéria dos sonhos, ela fez com que o policial desabasse em um sono pesado sem ligar para a situação de guerra ao seu redor.

A notícia do exército impossível chegou longe. Mais força repressiva foi invocada.

Os militares foram convocados em tempo recorde. Logo eles chegaram às ruas, desfilando seus tanques de guerra. Os tanques estavam prontos para entrar na briga, mas um velhinho ousado se pôs na frente deles interrompendo seu progresso. Um velhinho barbudo que segurava um cajado comprido.

– Vovô, sai daí. – Disse o motorista do tanque da frente, que não tinha coragem de passar por cima do velho. Ele só recebeu uma resposta:

– You Shall Not Pass!

***

A medicação não estava surtindo efeito, um novo método foi aplicado para levar o paciente à “razão”.

Marcos estava deitado em uma cama dura, com um colchão fino demais para fazer qualquer diferença. Suas mãos e pés estavam atados com presilhas de couro. Uma mordedeira de borracha foi  posta em sua boca, para inibir os gritos e para evitar que ele mordesse a própria língua.

– Isso é para o seu próprio bem, querido. – Dizia Vladimir enquanto com um gesto dava ordem para que seus auxiliares ligassem o equipamento.

O homem forte da esquerda segurava os fios. Esses fios responderam ao acionamento da máquina saltando algumas faíscas. Era sinal de que o tratamento podia continuar.

BUM!

– O que foi isso? – Perguntou o auxiliar da direita.

– Esperem um pouco, eu vou lá em cima ver o que é e já volto. – Disse Vladimir.

Vladimir subiu as escadas que separavam o porão escondido onde é guiado o tratamento que mais parecia tortura a ala que era visível ao público. O médico nem teve chance de ver o que estava acontecendo, no topo da escada uma cigana esperava por ele.

– Meu bom homem, escolha uma carta. – A cigana estava vestida da maneira mais caricata possível. Uma mulher de cinquenta anos muito bonita que ainda conseguia manter os cabelos bem pretos sem precisar usar pintura. A mulher mostrou a Vladimir um baralho de tarô, as cartas estavam viradas para ela, se Vladimir escolhesse alguma seria de modo aleatório.

Aquilo não fazia sentido. De onde veio essa cigana? Em condições normais Vladimir nunca iria aceitar perder tempo com adivinhações. Ele não gostava dessas coisas, não via utilidade para isso. Ali, porém, algo o compelia a escolher uma carta. Puxar uma carta era a coisa mais importante que ocupava sua mente. O barulho misterioso vindo da recepção e o paciente no meio do tratamento de repente não pareciam assim mais serem assuntos tão urgentes.

Vladimir tira uma carta, a carta do enforcado.

Vinda não se sabe da onde uma corda se amarra sozinha no tornozelo direito do médico. – AAAHHH!! – A corda mágica é puxada por uma força invisível, arrastando Vladimir pelos corredores. Ele não podia fazer nada além de gritar de desespero. A corda vai parar na recepção onde uma confusão épica se desenrolava. No final Vladimir acaba pendurado no teto de cabeça para baixo pelo pé.

– O doutor está demorando, não é? – Disse o auxiliar da esquerda ao do da direita.

– Vá lá ver o que é. Eu espero.

– AAAAAHHH!!

O auxiliar da esquerda some de uma hora para outra. O da direita vai checar o que aconteceu com o colega e só vê um buraco inusitado que não estava no lugar antes. Parecia que o homem havia sido engolido pelo chão. Distraído, o funcionário não percebeu a presença de um sujeito que  apontava uma arma para suas costas. Uma varinha.

O auxiliar é atingido por um raio e vai parar no outro lado da sala desacordado.

O mago faz outro gesto com sua varinha soltando todas as amarras de Marcos.

– Quem é você?! – Perguntou Marcos. No meio do questionamento ele se dá conta que o figura havia salvado sua vida, então se lembra de agradecer. – Obrigado, seja lá você quem for.

– Estou só atendendo ao seu pedido.

– Que pedido?

– O pedido de ajuda. Venha, há muitos outros. Todos estão esperando por você.

O mago se vestia como um ilusionista bufante. Tendo inclusive uma grande capa e uma bela duma cartola. Ele levou Marcos para o andar de cima. Sem conseguir acreditar no que seus olhos viam o vidente contemplou a mais variada reunião feita em seu nome. Uma importância que Marcos não estava acostumado a receber.

– Com sua licença. Acho que suas vestes não te fazem jus. – Com os últimos acontecimentos Marcos não teve cabeça de se preocupar com o que estava vestindo. Ele usava o uniforme dos internos, uma roupa clara que mais parecia pijama. – O senhor não pode ir na rua vestido de tal maneira.

O mago pôs sua capa por cima de Marcos o mantendo escondido por alguns segundos. Ao retirar a capa Marcos estava com uma nova indumentaria, uma completamente diferente.

Ele parecia um lorde do século XIX. Usava uma roupa que seria elegante se fosse usada na época certa. Em sua cabeça havia uma grande cartola, maior até do que a do mago. Por um momento Marcos achou a roupa inadequada. Quase pediu para o mago usar seu truque para vesti-lo com algo mais comum. Porém antes que falasse ele muda de ideia. Marcos estava cansado de querer se encaixar. Cansado de lutar para ser aceito como alguém “normal”. A vestimenta era perfeita para demonstrar sua rebeldia pelos padrões.

– Você merece um beijo! Não podia ter escolhido uma roupa melhor.

– As ordens.

Os funcionários foram detidos. Estavam desmaiados ou foram presos em algum canto. Os internos diante de tão espalhafatosa companhia ficaram mudos. Pareciam ter trocado de sanidade com os homens que cuidavam deles. O exército de Marcos estava a postos, esperando por uma nova ordem de seu líder.

Em uma outra parte do manicômio Eustáquio se encolhia no canto de seu quarto. Estava tão assustado que não conseguia fazer mais nada além de tremer e chorar.

O que aquele interno não sabia era que ele nem tinha visto o pior ainda.

Marcos se aproxima, ficando plantado na porta do quarto do colega que ele tanto detestava. – Euuustáquiooo. – Provocou o vidente usando um tom de voz melodioso e zombeteiro. – Venha ver quem eu trouxe para te ver. – Amedrontado demais para se mover, Eustáquio não conseguia sair do lugar.

Marcos se afasta um pouco da porta para permitir a passagem daquele homem. Homem? Não completamente. O olho direito não estava em sua cavidade, a pele era descamada em vários pontos, a boca mantinha-se sempre escancarada, estava quebrada demais para conseguir fechar direito.

– Você não queria falar com seu pai? Olha ele aqui!

– AAAAHHH!!

Quando o zumbi entra no quarto Marcos aproveita a oportunidade para fechar a porta, trancando os dois lá dentro. – Espero que consigam por a conversa em dia.

***

            Um reptiliano agarrou Heitor pelo braço e tentou mordê-lo. Como qualquer policial ele via aquele gesto como afronta. – Agarrar um policial dessa forma desrespeitosa? Está maluco? – Não importava se o meliante era humano ou não. O policial sempre tinha que se fazer ser respeitado. Tirando sua tonfa do seu cinto Heitor aplica um belo golpe no crânio do homem lagarto. O crânio da criatura pareceu rachar. Ela cai dura no chão. Provavelmente morta.

Blam! Blam! – Senhor delegado, eles são muitos!

– Deixa de corpo mole, escrivão. Faça seu trabalho! – Enquanto o escrivão abatia dois zumbis, o delegado começou a procurar por um outro adversário. Não custou a encontrar.

O sujeito se vestia todo de preto, era pálido e tinha dentes bem pontudos. – Parado aí! – O vampiro ignorou o alerta do delegado e foi chegando cada vez mais perto.

Blam! Blam! Blam! Heitor dá três disparos no nosferato, nenhum efeito significativo. O chupador de sangue ainda faz pouco caso do homem da lei. – Pode atirar em qualquer parte, não vai fazer a menor diferença.

– Ah é? Espera aí, corno!

Heitor guarda sua pistola de trabalho no coldre da cintura. Em suas costas ele tinha uma outra arma esperando para ser usada. Um revólver. Heitor aponta a arma para o vampiro, o morto-vivo ri.

Blam!

Ao contrário dos outros disparos esse foi muito mais efetivo. A bala acerta o meio da testa do nosferato fazendo com que sua cabeça explodisse como um melão podre.

– Ha! Chupa! Essa beleza aqui é uma Magnum com munição de ponta explosiva. É impossível ela não fazer diferença.

– Delegado, olha lá! – O escrivão aponta para um ponto distante da rua. O delegado não acreditava no que estava vendo. Uma mulher, uma jovem indefesa, no meio daqueles monstros.

– Me dê cobertura, escrivão!

Em disparada Heitor ruma em direção à “donzela em perigo”. – Menina, tá fazendo o quê na rua?!

– Preciso encontrar alguém.

– Saia já daqui. Procure abrigo!

Enquanto estava distraído conversando com a moça um homem sem cabeça quase o golpeia com uma espada. Instintivamente, a moça protege o delegado usando o próprio corpo. Uma atitude impensada que quase provoca uma tragédia.

A espada medieval desce com toda velocidade, mas para quando o agressor percebe quem era que seria acertado por aquele golpe. Ela não! Sabendo que não tinha autorização para mexer com aquela moça, o dullahan a deixa em paz e vai embora, indo se ocupar com outro rival.

– O que foi isso? – Perguntou o delegado, não entendendo o comportamento do sem cabeça.

– Não sei.

– Venha, fique atrás de mim. – Prontamente a moça obedece. Ela então é escoltada até um lugar que estivesse afastado daquele fuzuê.

– Qual é seu nome, meu bem?

– Lorelei.

***

Afonso Nogueira foi até uma prateleira da estante pegar uma amostra grátis. O remédio era um tarja preta pesadíssimo. Não havia pacientes aquela tarde, nenhuma das consultas agendadas foram a frente. Bastava olhar para a rua para entender o porquê. Aquele comprimido não era para nenhum paciente, era para ele próprio. Pela primeira vez Afonso pôs em duvida sua sanidade.

Ele toma o comprimido enquanto olha pela janela o que estava acontecendo lá embaixo. A luta épica mais nonsense de todos os tempos. O remédio não surte efeito. Ele esperava que como em um passe de mágica a medicação levasse aquela confusão embora.

– Meus exames! – Afonso olha para trás e vê Marcos vestido da forma menos usual possível. O vidente entrou em seu consultório sem fazer barulho. Passou pela porta mesmo ela estando trancada sem chamar atenção. O coração do psicólogo batia tão forte no seu peito que parecia querer estourar sua caixa torácica para fugir.

– Seus exames foram todos normais! Não encontraram nada de alarmante!

– Mentira! Você me mostrou os exames verdadeiros! Eu quero eles agora!

Afonso abaixou a cabeça enquanto se protegia com os braços. Mais intimidado impossível. – Juro por Deus! Os exames que você procura não existem!

– De duas uma, ou você está mentindo ou não serve de nada para mim. De qualquer modo, pior para você.

Marcos agarra Afonso pelo colarinho da camisa e o força a se aproximar da janela. – O que está fazendo? – Com uma força não condizente com alguém humano, o vidente arremessa seu antigo psicólogo pela janela. O consultório ficava no décimo quinto andar. Era um longo caminho até o chão.

Durante sua queda Afonso revia a própria vida. Estava quase aceitando seu destino, a morte. Ela viria, mas não naquele dia.

Há poucos centímetros de seu rosto tocar no chão algo agarra o seu pé, salvando-o no último instante. Ele tinha forma humanoide, chegava a parecer um gorila, mas era muito maior. Seu pelo era encaracolado e cheio. O psicólogo não reconhecia a criatura, pois ela não fazia parte de sua cultura. Criatura do folclore americano, aquele era o Skunk Ape. Ele era uma espécie de símio, só que muito maior e muito mais aterrador. Apesar da sua aparência, naquele instante o psicólogo achou que ele era a mais bela das criaturas.

***

– Hail to the King!

– Hail to the King!

– Hail to the King!

Marcos era ovacionado. Sentado em um trono improvisado ele era carregado por criaturas fortes e estupidas, dois trolls. Seus súditos, as criaturas imaginárias, saldavam o seu novo reinado.

Os mais baixos se tornaram os mais elevados. Acostumado a ser o segregado, agora Marcos estava por cima da carne seca. Era o maior de todos. Era o rei. Era o detentor de um poder inebriante.

A força de resistência que foi as ruas para enfrentar seus súditos não representavam mais ameaça. Foram derrotados. A luta acabou. No meio do caminho Marcos encontra um conhecido, um “amigo” de longa data.

– Heitor, você por aqui?

Com a raiva suplantando sua razão, o delegado tira seu revolver do coldre. – Mãos para cima! Você está preso.

Marcos dá uma risada debochada. – É mesmo? – O vidente desce do trono com um belo pulo. – Façamos assim: eu me entrego. Pode me prender. Prenda-me se for capaz.

– Não se aproxime!

Marcos ignora o aviso do delegado e continua o seu caminhar. Blam! Blam! O delegado atira, mas não consegue acertar o alvo. Ele era muito mais rápido do que um humano normal. O vidente se coloca embaixo do braço estendido de Heitor, impedindo-o de mirar. Marcos agarra o pulso que segurava a arma e o entorta, forçando Heitor a largar o revólver. Em seguida Marcos derruba seu oponente no chão enquanto dá dois belos socos em sua cara. A porrada deixou o delegado meio mole. – Não sei como você escapou do mundo vermelho. Mas isso não será problema. Vou encontrar uma dimensão tão distante que você não conseguirá voltar nem após trinta encarnações. Vou encontrar uma dimensão tão nefasta que o mundo vermelho vai parecer brincadeira de criança.

Marcos sente uma corrente elétrica circular seu corpo. O choque seria suficiente para tirar um homem comum de combate. Mas Marcos estava longe de ser um homem comum.

O vidente se vira, encontrando o escrivão segurando uma pistola taser. Sem paciência, Marcos tira os fios que a arma elétrica grudou em suas costas. – Veja só, o molenga quer provar que tem culhões.

O escrivão estava tremendo, tinha bons motivos para isso. Marcos dispara em sua direção. Ia agredi-lo quando:

– Marcos, o que é isso?!

Lorelei assistia a briga. Sem poder se conter ela intervem. Sem poder acreditar no que via ela protesta.

– Todo rei precisa de uma rainha. – Marcos estende sua mão para ela. Se destacando da multidão o mago cobre a moça com sua capa, ao retirá-la Lorelei se vê vestindo outra roupa. Um vestido preto, com babados vermelhos na saia e um grande enfeite que lembrava uma rosa vermelha.

– Exatamente como eu havia previsto. – Declara Marcos triunfante.

– Não ouse me usar como prêmio.

– Veja eles. – Marcos aponta para os policiais e para as pessoas que se escondiam nos prédios, casas e lojas. – Todos faziam pouco caso de mim. Todos me consideravam louco. Quem é o louco agora?

– Eu gostava do Marcos maluco. Ele é melhor do que esse Marcos que estou vendo agora.

Toda arrogância e todo espírito de vingança morre com aquela palavra. Por aquela Marcos não esperava.

– Acabe com isso, já chega.

Marcos abaixa a cabeça envergonhado. Mentalmente ele faz um pedido. Libera os seus súditos de suas obrigações. Como em um passe de mágica todos os seres imaginários desaparecem, voltando ao seu local de origem. O inconsciente coletivo da humanidade.

Sem se dar conta uma lágrima começa a escorrer de seus olhos. Para acalentá-lo, Lorelei o abraça de forma carinhosa, levando a aflição embora. Ela tinha esse poder.

O abraço demora quase cinco minutos, durante todo esse tempo o vidente desabafa colocando todas as suas frustrações para fora.

– Vamos para casa? – Lorelei faz o convite, Marcos aceita. Mas o destino tinha outros planos.

Enquanto caminhavam pelas ruas destroçadas um pedacinho de papel cai delicadamente do céu e vai parar na mão de Marcos. Como se fosse guiado até ele.

Marcos olha para o cartão e o reconhece imediatamente. Era o cartão que Neide havia lhe entregue. Sabe se lá como ou porquê ele apareceu ali.

Dessa vez o cartão não estava em branco.Tinha um símbolo impresso que mais parecia a letra U de cabeça para baixo. O símbolo ômega. Atrás havia um endereço, uma data e um horário.

– O que é isso? – Pergunta Lorelei.

– É o que eu estava esperando todos esses anos. A resposta das minhas perguntas.

– Que perguntas?

– Quem sou eu, o que sou eu.

Continua…