Em primeiro lugar, C.S.Lewis era um ser humano fantástico. E só o fato de ser amigo íntimo de Tolkien já fala muito sobre ele.
C.S.Lewis tem muitos livros interessantes ainda não traduzidos para português. Alguns sabem que ele escreveu também, além de ficção, livros teológicos e filosóficos. Mas pouca gente sabe que C.S.Lewis escreveu, além de Fantasia, Ficção Científica. Existe a “Trilogia Espacial” que é puco conhecida, onde ele explora um pouco de Ficção Científica “soft”, e também discute temas filosóficos.
Nada novo para Ficção Científica que geralmente tem sempre uma pegada filosófica. Mas que alguns críticos torcem o nariz é que Lewis sempre tocava no nervo inflamado do assunto religião que para algumas pessoas é algo mais impronunciável e sujo do que qualquer livro pornográfico.
Acontece que C.S.Lewis falava naturalmente destes assuntos, sem medo e sem se importar em ser julgado por seus colegas catedráticos de Oxford que em geral desprezavam tudo que não fosse estritamente “científico” e “adulto” e ouso dizer “pasteurizado”. Qualquer menção à magia ou algo místico era sumariamente ridicularizado. Livros tinham que seguir os moldes das academias e serem realistas e históricos. Perder-se em devaneios e sonhos era uma blasfêmia e “mero escapismo”. No mundo dos “adultos”, não deveria haver lugar para o sonho ou conto de fadas e nem para a Fantasia. Ah sim ! Ficção Científica também era balela. Estes críticos eram, como Lewis costumava dizer, “pessoas práticas”.
Graças a isto alguns livros dele são “muito religiosos” para algumas pessoas. Mas eu asseguro que ler sem preconceitos, toda literatura, traz ganho e prazer a qualquer leitor.
Não se pode criticar o que não se leu.
Quanto ao seu método de escrita, existe um livro que reúne cartas de C.S.Lewis chamado “Letters for Childrens” (Não confundir com o divertido “Cartas de um Diabo ao seu Aprendiz”), tratam-se de cartas de C.S.Lewis aos seus leitores. Não são cartas à crianças literalmente falando como o título pode nos fazer pensar. Se bem que, para quem conhece Lewis, ser chamado de criança é um dos melhores elogios que uma pessoa pode receber.
Numa das cartas do livro, ele oferece dicas simples para um leitor que desejava se aventurar em escrever.
Vamos às dicas diretamente nas palavras de C.S.Lewis:
1) Sempre tente usar a linguagem de modo a tornar bastante claro o que você quer dizer e tenha certeza que sua sentença não pode significar outra coisa.
2) Sempre prefira a palavra simples e direta em vez daquela vaga. Não crie promessas, mas cumpra-as.
3) Nunca use substantivos abstratos quando os concretos fizerem o trabalho. Se você quer dizer “Mais pessoas morreram”, não diga “A mortalidade incrementou”.
4) No seu texto. Não use adjetivos que nos dizem simplesmente como você quer que a gente se sinta sobre a coisa que você está descrevendo. Ou seja, em vez de nos dizer que algo foi “terrível”, descreva-o de modo que vamos nos aterrorizar. Não diga que foi “maravilhoso”, deixe-nos dizer “delicioso” quando lermos a descrição. Veja bem, todas essas palavras (horrível, maravilhoso, terrível, exótico) são apenas você dizendo aos seus leitores “Por favor, você tem que fazer o meu trabalho para mim.”
5) Não use palavras exageradas demais para o assunto. Não utilize “infinitamente” quando deseja dizer “muito”, caso contrário você não terá nenhuma palavra à altura quando você quiser falar sobre algo realmente infinito.
São dicas simples e por isto mesmo eu acredito que podem se tornar valiosas se usadas da forma certa. E é claro que a forma certa é aquela funcionar para você. Portanto ter bom senso continua sendo o melhor conselho no que tange criação literária. Na verdade bom senso sempre é um bom conselho para tudo. Ninguém, a não ser você mesmo, pode dizer o que realmente funciona bem para a sua escrita. Portanto, teste tudo e veja o que realmente funciona. Não seja formalista demais, pois não se chega mais além se tudo for apenas cópia de outras pessoas e não houver inovações. Mas o mais importante que podemos aprender com Lewis é não despreze a criança dentro de você. Escreva o que você acha divertido. O que a criança dentro de você sente prazer. Não despreze esta voz nem por um segundo.
C.S.Lewis tinha como objetivo nunca se esquecer das lições aprendidas quando criança. Ele não achava que um adulto completo era uma pessoa que abandonava tudo que foi quando criança, mas acreditava que um adulto era a soma da criança e mais todas as novas experiências do adulto.
E se algum dia eu crescer, quero me tornar uma criança como C.S.Lewis.