Há algum tempo li sobre as estimativas de mortalidade sendo influenciadas pelo simples ato de tomar café. Sim! O café pode retardar a sua morte, segundo um novo estudo da Universidade de Medicina da Grécia. O grego, claro. Das únicas coisas que a Grécia pode se vangloriar atualmente é… o seu café, além da idade longínqua de seus habitantes. O estudo provou que as pessoas com maior expectativa de vida geralmente possuíam um saudável comportamento diário, pois uma xícara de café grego aumentava a imunidade de seu organismo. Deveriam bolar um slogan: “Um copo de nosso café lhe oferece mais um ano de vida. Aqui quem ganha é você. Experimente kαλύτερη κατάσταση (numa tradução livre: ‘viva melhor’ ou ‘melhor forma’)”. Vejam só, para enganarmos a morte por um pouco mais de tempo, basta beber um cafezinho. Quem não embarcaria nessa?
Mas pensando bem, quem gostaria de prolongar sua vida? Afora nossos sonhos juvenis de sermos perenes e vivenciar o máximo possível, a eternidade não soa bem e já me sinto frágil só de imaginar. Perguntei para uma familiar em seu aniversário de 95 anos como se sentia com sua idade, cansada foi a resposta imediata. Apesar de ter meus problemas em pensar na morte, uma vida completa já me parece o bastante. Sem expansões ou complementos. Simpatizo com Bukowski sobre o tema, que – ao indagado sobre o que achava de morrer – sentenciou que iria até onde sua vida não se tornasse um fardo: “Quero a morte tanto quanto quero a vida!”.
Na antiguidade, os gregos acreditavam existir uma utopia que eles não podiam se aproximar, como Nietzsche aponta em um de seus ensaios: lugar habitado por um povo eterno, inalcançável. Podemos ressaltar que era algo intrínseco à época. Todavia, não ultrapassamos muito os gregos nestes pensamentos, pois é notável o quanto a sociedade ainda almeja esse tipo de sonho: não adoecer, períodos de paz e de estímulos sociais, além da tão desejada imortalidade. Não me agrada passar por épocas que não me esperavam, vivenciar novas revoluções digitais aos cento e tantos anos ou algo do tipo. Além do mais, deram-se conta de que se todos seguissem o mesmo caminho, contando com as pessoas que ainda iriam nascer, teríamos um caso sério de superlotação?!
Gosto de pensar que, assim como Hitchens, vou me orgulhar de ter vivido consistentemente uma vida de inconsistência e na minha lápide estará escrito, como pensou Miéle, que minha morte foi absolutamente contra a minha vontade; porém, abdicarei da imortalidade. Não, não irei parar de tomar café, mas recusarei o grego.