Na fantástica história “A Casa das Sete Torres” (publicada no Brasil pela Livraria Editora Martins no ano de 1960), Nathaniel Hawthorne {1804 – 1864} traça o seguinte diálogo entre as primas Hepzibah, a mais velha, e Phoebe, mais moça:
“Além do mais” – disse Hepzibah levantando-se como que para pôr fim ao assunto – “Não sou eu quem decide se você pode ou não ficar aqui. O dono da mansão Pyncheon vai chegar.
“Refere-se ao Juiz Pyncheon?” – perguntou Phoebe, surpreendida.
“Juiz Pyncheon” – disse a solteirona com azedume – “Enquanto for viva, não atravessará a soleira desta porta! Não, não. Mostrarei a você o retrato da pessoa a quem me refiro”.
Tomou, então, a miniatura já descrita e entregou-a nas mãos de Phoebe. Depois, pôs-se a olhar para a moça, um tanto ciumenta da emoção que o retrato lhe causava.
“Gosta desse rosto?”
“É bonito, muito bonito!” – opinou Phoebe – “É tão suave quanto pode ou deve ser um rosto de homem. Tem uma expressão de criança, sem ser infantil! Todos se sentiriam bons para com ele. Nunca deveria sofrer. Muito suportaria para livrá-lo das fadigas e das tristezas do mundo. Quem é ele, prima Hepzibah?”
Não estaria, caro leitor (que porventura tenha lido este excelente romance), Hawthorne falando da sua própria imagem? Basta, afinal, vê-lo na imagem do ano de 1840 no quadro pintado por Charles Osgood; a comparação é inevitável. Consciente ou inconsciente, descreveu, parece-me, não só sua imagem refletida no espelho, ou nos quadros, mas o que ele próprio pensava sobre ela.
Torno a questionar o que Phoebe pergunta a Hepzibah:
Quem é ele, hoje?
Em “A Casa das Sete Torres”: – há – o admirável poder de evocar ambiente de que ele era dotado. A casa mal-assombrada, na qual tudo concorre para suscitar o peso da maldição que pesa sobre pobres criaturas de espírito perturbado, é realmente uma ‘personagem’ a que o leitor se prenderá (…). (…) Hawthorne consegue (…) realizar uma obra sobre todos os títulos admirável pela precisão e profundidade psicológica.
(notas contidas nas orelhas do livro)
P.S.: este artigo foi escrito à data de 23 de agosto de 2009 ao longo da leitura do romance “A Casa das Sete Torres”.
Leon Nunes
Escritor
04 agosto – 28 de agosto 2013