Era o segundo sábado de novembro, quando Davi despertou, na verdade, não conseguira dormir, estava ansioso, pois iria se casar no próximo final de semana, pelo menos era nisso que ele acreditava. Davi, era um médico recém-formado, trabalhava em dois hospitais, um particular e outro público. Davi era um rapaz aparentemente de 29 a 30 anos, moreno, alto, face arredondada, olhos negros e sedutores. Namorava há cinco anos com Denise, uma bela moça de 25 anos, dona de uma loja de roupas íntimas, Denise era muito bonita, porém ambiciosa, sabia que ao se casar com Davi, iria adquirir uma vida mais fácil e gostava muito dessa ideia, além de que era louca de amor por ele, ou pelo menos parecia isso.
Davi se arrumara e fora para o hospital público onde iria realizar algumas consultas, fez algumas ligações até que na quinta consulta recebeu uma moça pálida, magra e um pouco espantada.
Lisa era uma moça de 23 anos, órfã, trabalhava como doméstica para se sustentar morava em um barraco numa região muito pobre da cidade. Fazia tempo que Lisa não se sentia muito bem, vomitava, andava fraca e muito pálida e há meses tentava marcar um consulta e somente agora conseguira, devido a sua saúde debilitada, seus patrões a demitiram.
Voltando ao hospital, Davi examinou a pobre moça, e percebeu que algo estava errado, e quando comunicou isso a garota, explicou que ela deveria fazer alguns exames, esta começou a chorar desesperadamente, alegando que não tinha condições. Meio assustado com aquela cena, Davi pediu que a moça se acalmasse e a encaminhou para fazer alguns exames no hospital particular no qual trabalhava.
Após a saída da moça, Davi ficou um pouco perturbado, trabalhou o restante do dia meio pensativo, foi para casa e encontrou com sua noiva e ao contar-lhe o que aconteceu esta pareceu indiferente.
Na hora marcada Lisa estava na clínica, as pessoas presentes olhavam para ela com desdém, a moça estava mal vestida, e aparentemente mais pálida do que a última vez que Davi a vira. Após os exames foi com tristeza e piedade que Davi comunicou a moça sobre uma doença muito rara, e devido o atraso na descoberta, ela precisaria de um tratamento imediato. Desesperada a moça, chorou e foi para casa onde desmoronou em lágrimas e dores.
Davi voltou para casa e achou melhor não comentar esse assunto com Denise não queria irritá-la. Durante o jantar Denise explicou a Davi que deveriam ir ao tabelião organizar as coisas do casamento, o belo noivo concordou.
Passou a terça, quarta sem que Davi tivesse noticia de Lisa. Na quinta-feira, Davi iria passar no hospital para realizar alguns encaminhamentos antes de ir ao encontro de Denise no tabelião. Ao chegar ao hospital descobriu que Lisa estava internada e muito mal, resolveu fazer-lhe uma vizita. Ao sair Davi entregou uns trocados para a enfermeira e pediu-lhe que ela comprasse os remédios para a moça. Em seguida, seguiu direção ao tabelião onde Denise esperava com um sorriso radiante.
O tabelião explicou ao casal, sobre a papelada e os direitos da futura esposa de Davi: acesso a contas, plano de saúde e… As palavras pareceram desaparecer e Davi escutara apenas: PLANO DE SAÚDE, PLANO DE SAÚDE… e de repente veio-lhe uma ideia absurda.
Em casa Denise questionou seu noivo, dizendo-lhe que este parecia preocupado, desatento, Davi sem escolha contou sobre Lisa e sua situação financeira e a ideia que lhe ocorreu. Denise paralisada parecia que não ouvia o que Davi falava com tanto entusiasmo. A ideia de Davi era simples: casar com Lisa, para que esta tivesse direito ao plano de saúde e, por conseguinte tratamento adequado.
Ao acordar, Denise não encontrou Davi em casa resolveu ligar para sua amiga Bene e conversar um pouco. Conversaram por horas e talvez esse diálogo abriu algumas possibilidades, Bene explicou para Denise que a sua situação não era boa e que ela iria precisar da ajuda de Davi por um tempo e já que ele só casaria para a moça ter acesso ao plano de saúde, a relação dos dois não mudaria. Pensando dessa forma, Denise, pensou e decidiu aceitar a proposta, não pelo fato de ajudar a moça, mas sabia que morando com Davi este a ajudaria em tudo e lógico ela não ia perder esse bom partido. Seguiu para o hospital, encontrou Davi sentado ao lado da cama de Lisa, e o incrível sem conversar com Denise, o moço já havia contado sua ideia para Lisa e feitos planos de seu tratamento, casariam em breve. Denise ficou chocada e com vontade de enforcar aquela diaba, mas se conteve e deu uma de boazinha, Davi ficou muito feliz e beijou a face de sua noiva.
Davi e Lisa se casaram e deram entrada no plano de saúde. Passaram-se alguns dias e Lisa teve alta, indo morar no apartamento de Davi, para sua surpresa Denise já estava morando lá, na presença de Davi tratava a moça com carinho e cuidado, na ausência mal falava. Lisa não queria problema estava feliz, pois agora tinha todo tratamento adequado para sua doença e não queria problemas com aquelas pessoas que tanto fazia por ela.
Os meses se passaram, Lisa melhorava. Ficara próxima de Davi, Denise parecia enciumada ou fingia, pois devido à falta de atenção, falta explicada pelas seguintes frases: “Acho melhor eu ir com Lisa…”, “Não to afim… a Lisa…”. Enfim, a Lisa estava tomando muito tempo de Davi, este tinha que comparecer as consultas, fingir ser um marido dedicado e claro não podia aparecer em público com Denise, pois o que pensariam e caso o hospital descobrisse era o fim da carreira de Davi e do tratamento de Lisa. Sendo assim, como dizíamos devido à falta de atenção de Davi para com Denise, a moça achou que deveria ser compensada então mantinha diversos casos amorosos com vários rapazes, pensava que só continuava essa estúpida cena porque Davi a compensava com dinheiro, então mantinha toda cena de namorada solidária e amante fervorosa, até que um dia vendo as correspondências, encontrou uma carta endereçada a Davi era do plano de saúde. Ao ver a carta pensou que deveria ser o plano cortando a assistência da pobre coitada, ficou feliz, mas ao abrir a carta ficou mais feliz ainda.
A carta informava ao Sr. Davi que o seguro de sua esposa já estava em vigor, o plano de saúde iria oferecer uma quantia equivalente a R$ 500.000,00 caso a sua esposa viesse a óbito, isso era maravilhoso pensou Denise: “Ela morre a gente fica com o dinheiro, espere aí, Davi não vai concorda, mas ele não precisa saber…”.
Alguns dias se passaram sempre muito carismática Denise tinha o seu comportamento totalmente modificado com relação à Lisa, esta não se importava e Davi estava satisfeito.
As despesas começaram a aumentar o que fez com que Davi passasse mais tempo no hospital em busca de aumentar a renda, com isso, Denise passou a “cuidar” de Lisa, trocando os medicamentos, esquecendo-os, a alimentação passou ser feita de qualquer jeito, o que prejudicou ainda mais a saúde de Lisa, os planos de Denise começavam a dar certo.
Passado alguns dias Lisa ficou muito debilitada tendo que ser hospitalizada. No hospital o médico de Lisa explicou a Davi a real situação de Lisa. Emocionado Davi foi ver sua esposa que estava acompanhada de Denise. Lisa estava muito fraca, não falava e nem se mexia.
Davi recomendou que Denise voltasse para casa, ao chegar encontrou em cima da mesa uma carta aberta era do plano de saúde, este avisava que restava apenas 10 dias para o cancelamento do plano e, por conseguinte o fim da proposta do seguro. Denise parou e pensou está tudo tão perto, não pode acabar agora, preciso resolver, e voltou para o hospital. Estava tão obcecada que nem se deu conta que alguém havia lido a carta.
No hospital Denise conversou com o médico sobre o estado de saúde de Lisa, este explicou que a pobre coitada poderia viver horas, dias ou meses, dependeria muito dos cuidados que ela recebesse. Após a explicação do médico Denise tomou uma decisão, foi até o quarto de Lisa encontrou Davi, disse que achava melhor que ele fosse descansar, o rapaz ficou feliz em ver que a “bondosa moça” ficou preocupada com ele e resolveu ir para casa. Deixando Denise a sós com Lisa.
Denise fechou a porta, colocando seus planos em ação, dar um fim na vida de Lisa. Friamente Denise observou a pobre Lisa se bater encontrando aos poucos a morte. Quando nada mais poderia ser feito, Denise fez cara de choro e saiu gritando pelos corredores. Quando o médico apareceu era tarde demais Lisa estava morta. Quando Davi chegou ao hospital estava muito abalado, mas tinha que se conformar e organizar um enterro.
Dois dias depois do enterro, Denise resolveu conversar com Davi sobre o seguro do plano de saúde. Davi atentamente ouviu a explicação de Denise e quando ela finalmente pareceu terminar o que dizia. Ele a fitou, interrogando-lhe sobre a morte de Lisa. Denise, parou, pensou e começou a falar coisas do tipo: “tinha que ser assim, você deveria me agradecer…”. Interrompida por Davi, ela se calou quando este lhe dirigiu a palavra friamente: “É Denise você tem razão devo lhe agradecer”. Meio surpresa, Davi explicou que no dia em que Lisa entrou no consultório ele sabia que ela estava muito doente e viveria por pouco tempo, nesse mesmo dia o plano de saúde havia entrado em contato falando da proposta do seguro de vida para um ente da família, pensou que se casasse com Denise seria um pouco suspeito caso ela morresse, então pensou na Lisa, mas o tempo passou e nada, então ele fez com que Denise recebesse aquela carta do plano de saúde e soubesse do seguro, ele sabia que Denise faria o jogo sujo por ele, mas aí no hospital o médico disse que ela poderia viver mais, ficou preocupado que as coisas não dessem certo, então escreveu aquela carta que Denise leu pensando ser do seguro, aí as coisas aconteceram. Após a explicação Davi agradeceu a Denise e pensou na quantia que receberia em breve.
Perplexa Denise começou a chorar e gritar, acusando Davi. Este calmamente, e com um olhar sombrio que havia ficado nas sombras por muito tempo e somente agora aparecera, comunicou que não dividiria nada com uma assassina, e se ela pensasse em falar alguma ele a denunciaria por assassinato, em quem iriam acreditar: no marido que perdeu sua esposa ou na ex-desesperada. Denise não tinha provas. Por fim, a ameaçou e a mandou embora, afirmando que sempre soube dos amantes que ela arrumara.
Denise muito chocada ajoelhou-se e começou a chorar, foste enganada desde o começo.
Passou-se alguns dias, Denise foi morar com Bene, não contou nada a amiga, pois temia o que ela poderia pensar, perdeu tudo e escondida da amiga passou a fazer programas. No hotel durante um programa viu na televisão uma reportagem sobre os solteirões mais cobiçados da cidade e em primeiro lugar estava Davi, bonito, rico e feliz, enquanto ela naquela vida. Nesse momento Denise pensou somente na pobre Lisa que desde o início foi usada e como esta suplicava pela vida. Triste e cansada Denise resolveu por fim a sua própria vida pulando pela janela.
Pelo noticiário Davi soube do suicídio de Denise e pensou: “Melhor assim.”.
Fim!
“Às vezes o bem não vence, a justiça nunca é feita, e as pessoas podem ser terríveis.”
by Izabela Leandro