Resenhando de novo. Praticamente um Reboot. O que é, por coincidência (claro que não), um dos assuntos que vou tratar nesta resenha. Mas antes de começarmos a malhar o aço (ops) no filme, temos algumas considerações a fazer:
Reboots. Eis um termo que pode trazer alegrias e tristezas a nós, fãs. Claro, a esperança sempre é viva: Ver uma obra repaginada, melhorada, com seus excessos retirados e chegar ao ápice de sua perfeição. Em obras audiovisuais, especialmente, o desejo é elevado a mil. Com a revolução dos efeitos especiais e a melhoria técnica das produções das películas, que nunca quis ver uma melhoria visual em obras que não deviam nada em qualidade artística em seus roteiros. Afinal, o que seria de Star Wars se os efeitos visuais dos filmes da nova trilogia estivessem à disposição quando a trilogia original foi feita? Star Trek (que teve um reboot embora longe da pegada da obra original, ainda assim espetacular) não seria muito mais apreciável se não fossemos obrigados a ver o Kirk batendo em algo verossímil, e não num ator vestido de lagarto ou gorila gigante?
No entanto, para cada “Batman Begins”, existem dez “Espetacular Homem Aranha”. Descobrimos com o passar do tempo que não é só de efeitos visuais que se agrada o cinéfilo. Por uma razão bem simples é grande a chance de vermos nossas obras favoritas do cinema transformadas em uma cena de Pokemon, cheia de efeitos de luz estrobofóbicos de choques do trovão que fariam as crianças mais sensíveis cair se estrebuchando no chão. E Qual é esta razão?
É que os clássicos sempre vão ser clássicos.
Um reboot não é simplesmente pegar uma história, colocar atores mais jovens e efeitos especiais. É dar uma nova visão, uma nova roupagem a algo que já consagramos. E a verdade é que isso é muito difícil, principalmente em obras aclamadas pela crítica e público até hoje. Uma coisa é Rebootar Batman. Nenhum dos filmes anteriores conseguiu “chegar lá”. Nós ainda podemos gostar da versão do Tim Burton, gostar do coringa, mas no fim não é um filme que faz jus ao morcegão. Mas fazer isso com o Super Homem?
Rebootar Marlon Brando? Substituir o Christopher Reeve? Isto sequer É POSSÍVEL?
Então. Os Spoilers começam aqui:
Man Of Steel começou esta amarga tarefa da maneira da melhor forma possível a meu ver: Sem o Super Homem. Há quem reclame do ato de recontar a origem do personagem, ainda, mais pelo fato que o azulão tem uma série de televisão se encarregando disso. Pois eu digo: Que se dane Smallville, e abrace sem medo a nova abordagem do filme.
Zack Snyder começou o filme abordando os Kriptonianos como uma raça bem menos pacífica do que estávamos acostumados do filme original. Saem os fundos pretos, o planeta maluco de cristal e as cabeçonas gigantes julgando condenados de guerra, entra em cena um mundo muito mais hostil do que pensaríamos a princípio, dominado por uma raça super tecnológica que está a beira da destruição. Numa simples da história, Man Of Steel consegue por fim a uma série de incongruências na história do super homem que incomodam até hoje (tipo, “milhares de naves espaciais fodas, just save one baby”). Lógico, na mente do fã sempre vai ser mais legal ver o Marlon Brando num macacão branco mandando um bebê voando numa capsula de cristal pra outro mundo, mas Russel Crowe segura as pontas muito bem.
Basicamente, o que é explicado (isso não é bem um spoiler, né minha gente, mas está aqui o aviso anyway) é que Kripton vai pras cucuias porque fez um buraco maior do que podia cavar e afetou o núcleo do planeta (uma coisa bem estúpida a se fazer quando você tem uma mega tecnologia, mas o ser humano tá aí pra mostrar que é isso mesmo), e aparentemente as únicas duas pessoas que notaram que isso podia ser uma má ideia foram Jor-El, um mega cientista e por um acaso pai do Kal-El, futuro Clark, e o Zod, que nesta versão bem legal é só um pouquinho menos maluco, e tem a intenção de salvar o planeta com um golpe de estado.
A partir daí já dá pra sacar: Man Of Steel não tem a intenção de ser só uma (fraca) homenagem aos filmes originais. A intenção de Snyder foi criar uma obra real, poderosa como a primeira, com um roteiro de respeito. A abordagem inicial sobre o desgaste sobre a natureza pela “humanidade” é bem feita, pesada inclusive.
O decorrer do filme, no entanto, dá aquela derrapada. Não estou jogando kryptonita na sua sopa, fã do azulão. Estou comentando um fato que você IRÁ encontrar no cinema. As cenas que envolvem a narração do Jovem Clark são um pouco incômodas por que elas não são bem alocadas. É um vai e vem de flashbacks que aparentemente poderia ser mais bem conduzido. Numa avaliação mais exigente, eu poderia dizer que elas foram até meio jogadas. Com a exceção da senhora Kent (muito bem interpretada pela Diana Lane), todos os personagens da infância de Clark se tornam apenas Easter Eggs que um ou outro vai lembrar o nome (ou da cara), mas vai passar batido fácil para a maioria. Poxa, o pai do Clark, o senhor Kent, só falta proibir o menino de voar, indestrutível e salvar pessoas. Que influência de m*** para um futuro herói. Mas também, é o Kevin Costner. Desde Water World ele ficou meio estranho.
“Potz Sr. Estranho, então lascou, o filme é uma merda e se eu assistir vou ter que passar uma semana na reabilitação assistindo a trilogia do Batman. E EU NEM GOSTO DO BATMAN!”
Não.
Por que é neste momento que o filme levanta voo. Pois é aí que você entende: o que você está vendo não é um filme. Mas depois eu chego aí.
O fim das amarras do filme com a infância do Homem de Aço aparentemente é o que falta para tudo decolar. A desenvoltura volta a cena, e finalmente podemos focar em Henry Cavill. E aí sim tiramos nossas dúvidas:
Ele é o Super Homem
Aquilo que mais temíamos ver, um brutamonte fortão, mas sem carisma nenhum, ou um arremedo de galã que só quer vestir uma cueca por cima da calça, não está lá. O que vemos é um homem com os poderes de um deus, mas a alma de um ser humano. Um homem perdido se reencontrando, mas que no fundo sempre soube quem era. Vemos um herói.
Vemos o que muitos enxergaram em Reeves há 35 anos. E isso, meu amigo, para o fã ou não dos quadrinhos… É foda.
Sim, o filme termina sendo meio rápido. Afinal estamos vendo, tudo junto, um prequel, uma origem do herói e seu nascimento, tudo isso até antes da metade do filme. Mas ainda assim você sente. No crescendo da trilha sonora. No sorriso de Clark Kent. No momento que precede o voo.
Sente a emoção de ver um grande herói.
Este desafio superado, muitos poderiam se contentar com uma simples história sobre um homem mega poderoso sair por aí salvando o mundo das guerras, assaltos e fazendo propaganda da américa. E foi nisso que Snyder acertou ao evitar. Enfrentar um vilão megalomaníaco com um plano capenga é algo que já vimos antes. O que queríamos agora é uma coisa bem simples.
Queríamos um Épico. E Snyder nos deu um épico.
Zod
Para muitos o vilão “quadrinístico” mais emblemático do cinema. Alguém que conseguia se comparar a Deus tão facilmente quanto esmagar um inimigo. Tudo isso de roupa bufante. Seria possível repetir o que Terence Stamp fez?
Claro que não né? Dã-uh
Como vilões megalomaníacos em bufantes pretos não eram uma escolha, Man Of Steel se utilizou de sua segunda maior cartada: Humanizar Zod. Ele continua maluco. Continua sangue nos zói. Mas agora tem um motivo palpável. E isso faz uma diferença danada.
A grande maioria dos fãs vai negar com todas as forças e me chamar de cheirador de gatinhos, mas o fato é que o filme original do Superman tem umas paradas muito bizarras e mal explicadas, mas, anos 80 né, a gente tem que dar um desconto (mentira). Desconto esse que não pode ser mais dado. Afinal de contas, temos que saber por que o Zod é tão revoltado da parafuseta, e por que os Kriptonianos eram uns idiotas tão grandes por deixar que o planeta deles explodisse sem cair fora. Porra, os caras criaram TRIANGULOS DE DUAS DIMENSÕES QUE TRANSPORTAVAM GENTE! CRIARAM UMA NAVE DE CRISTAL BIZARRRA. NÃO PODIA SAIR DO PLANETA CÁSPITA?
Eis que vemos que o Zod na verdade nunca foi tão maluco. Ele simplesmente queria salvar seu povo de uma maneira bem menos pacífica que o Jor-El – dando um singelo golpe de estado e matando todo mundo que se opusesse em seu caminho. Mas também, pudera. O povo ficou nessa de “sem violência”, e “tá tudo bem do jeito que está” e ficou esperando a bagaça implodir enquanto assistia o Big Brother Kripton. Entre as opções, a do Zod se provou bem menos assassina para o povo de Kripton.
Portanto, a batalha deixa de ser entre o protetor abnegado e o invasor megalomaníaco, e se tornava o choque entre aquele que quase se perdera, mas adotou um caminho para sua vida com a ajuda de sua criação, e aquele que se perdeu ao ter arrancado de si o motivo de sua existência, Krypton. É a batalha entre a esperança de um novo rumo e o desespero da perda do lar.
O resultado disso é um combate mais obscuro no Homem de Aço. As pessoas realmente morrem, e você sente isso. As batalhas que ocorrem durante o filme (que afirmo com sinceridade, as melhores que já vi na VIDA com uso de efeitos especiais) são ameaçadoras, inesperadas. Não é uma coisa que dê pra evacuar a cidade. É tipo ver a explosão de uma bomba na sua cara. Se você sobreviveu, corre pra longe, depois ajoelha e reza, nem que seja pras forças da natureza, por que foi o teu milagre.
A cena final de combate é a cereja do bolo. No meio de uma empolgação, queremos gritar, queremos xingar, queremos torcer. Nos divertimos, tememos, adotamos o novo herói. E no derradeiro fim do duelo (que muita gente vai torcer o nariz, mas diga aí, o que VOCÊ faria no lugar dele?) entendemos que ele sofre.
E aceitamos, finalmente, que temos um novo Superman.
Fim.
O filme não é perfeito. Tem algumas falhas bobas, outras preocupantes. Tem o Laurence Fishburne gordo, o que por algum motivo me incomoda profundamente. Mas tem a seu favor um elemento que faria falta em qualquer outro filme que fosse feito.
Tem o Superman. Henry Cavill é o Homem de Aço. Você vê o filme e acredita nisso. É tipo a sensação que se tem ao terminar de ver Homem de Ferro com Downey Jr. Estamos vendo o herói. E isso faz falta. Ainda mais quando tratamos do azulão.
Portanto, é um filme para ir assistir e se divertir. É um filme que trás de volta aquela magia do cinema que tanto curtíamos quando éramos mais jovens, quando lemos quadrinhos, quando finalmente começaram a fazer filmes com respeito para que nós pudéssemos nos divertir.
Man of Steel é um filme Legal!
E se não é isso que você procura num filme de aventura de quadrinhos, eu não sei bem o que você está fazendo aqui.
NOTA
FICHA TÉCNICA
Direção: Zack Syder – Roteiro: David S. Goyer – Criação Original: Christopher Nolan, David S. Goyer – Elenco Principal: Henry Cavill, Amy Adams, Michael Shannon, Kevin Costner, Diana Lane, Laurence Fishburne, Russel Crowe. – Música: Hans Zimmer – Ação e Aventura.