Quando Marcos entrou naquela livraria empoeirada e velha, sentiu o doce aroma de livros antigos, era sua fragrância preferida, podia-se dizer que eram sua grande paixão, livros antigos e boa música. Entrando na pequena livraria sempre achava estar adentrando o paraíso, olhava extasiado estantes e mais estantes cobertas de obras primas de autores muitas vezes desconhecidos, quase podia sentir a presença dos personagens e o enredo das estórias.
Os raios de sol filtravam-se por janelas altas e estreitas que iluminavam parcamente o ambiente, o ar era carregado e quase se podia pega-lo com as mãos, Marcos caminhava lentamente entre os corredores admirando as capas e devorando os títulos. Em uma prateleira que quase tocava o chão, um livro o atraiu, parecia chamá-lo, estendeu a mão e o pegou, parecia muito comum, sem nenhum atrativo, capa preta bem gasta, sem título nem nada, estava muito empoeirado, parecia que estava esquecido ali há vários anos.
Ao abrir o livro misterioso, sentiu-se transportado para outro universo, cores e formas dançavam a sua frente, fechou rapidamente o livro e num instante estava de volta a livraria. Pensou estar ficando louco, teria tido uma alucinação? Abriu novamente o livro preto e estava outra vez em outro lugar, segurou bem firme o livro e decidiu embarcar nessa aventura.
Estava em um jardim repleto de flores das mais variadas espécies, árvores de todos os tipos, um lindo lago logo adiante. Ouviu vozes se aproximando e com medo se escondeu atrás de uma enorme árvore, pode ver dois homens conversando, mas não pode ouvi-los com clareza, passado alguns minutos os dois se despediram e um deles veio em sua direção; em pânico, Marcos já fechava o livro quando o homem disse:
– Gostou do meu jardim?
Marcos virou-se e olhou bem nos olhos dele, que transmitiam uma infindável paz; acalmou-se, respirou fundo, manteve o livro aberto e respondeu polidamente:
– Seu jardim é adorável, desculpe entrar sem ser convidado.
– Todos são meus convidados, não se acanhe. Como é seu nome?
– Marcos e o senhor, como se chama?
– Emanuel. Fiz este jardim para meus filhos, quer conhecê-lo melhor?
– Claro que quero, disse Marcos com uma ansiedade incrível de decifrar onde estava, o que estava acontecendo e principalmente quem era aquele homem, ao mesmo tempo desconhecido e familiar.
Foram os dois caminhando lado a lado, Emanuel mostrando todo o jardim, falando de como plantara cada flor, deu até nome a cada uma delas. Os dois conversaram longamente e Marcos passou a admirar muito esse homem que amava tanto a sua obra, que sem nem mesmo conhecê-lo, já o tratava com tanto amor e respeito. Não queria ir embora, queria morar ali e continuar conversando com Emanuel, mas não poderia manter o livro aberto por mais tempo, decidiu-se a ir embora. Emanuel olhou bem dentro de seus olhos e disse:
– Já tem que ir?
– Tenho, minha família deve estar preocupada…
– Volte sempre que quiser, estarei bem aqui te esperando, você sabe como chegar até aqui.
Não era uma pergunta, e sim uma afirmação. Marcos balançou a cabeça concordando, deu um ultimo adeus e prometeu que voltaria logo.
Fechou o livro lentamente com os olhos cravados nos de Emanuel, que agora olhavam para ele com a expressão mais paternal e amorosa que já tinha visto na vida.
Estava novamente na livraria, parecia que o tempo não tinha passado, tudo permanecia igual. Segurando bem firme o livro nas mãos Marcos atravessou a livraria e pagou por ele, queria chegar em casa o mais rápido que pudesse para abrir novamente o livro e ver que aventuras mais ele iria lhe proporcionar, esperava também encontrar-se de novo com Emanuel, tinha uma intuição que essa amizade seria de extremo valor para sua vida.
by Priscila Pereira