O mundo sempre esteve se pondo em revoluções, protestos, manifestações. Estamos vivenciando isso com maior notoriedade nos últimos meses, aqui mesmo, em nosso país. E apesar de parecer que somente agora “o gigante acordou”, o povo brasileiro sempre esteve presente em ordem de protesto. Por outro lado, os poetas parecem nunca estar envolvidos nesse tipo de movimentação, numa luta engajada em prol de ideias e ideais. Parecem, eu disse? Sim, parecem.
A imagem do poeta que evocamos no imaginário coletivo não corresponde em todos os aspectos, fidedignamente, à realidade concreta. Pensamos no poeta como um homem introspectivo, alta e puramente sentimental, fantasioso, romântico e sonhador. Um ser que vive no mundo das ideias, das emoções e sensações e que, portanto, está alheio ao mundo real. Embora tais qualidades respondam em maior ou menor frequência, em alguns aspectos e contextos, não é de forma simplória e categórica que se estabelece a figura do poeta.
Diversos autores de poesia não apenas produziram obras de protesto, lançando mão de temáticas sócio-políticas, como também foram militantes engajados em várias causas. No próprio Brasil temos diversos exemplos de poetas “politizados”. Ainda em pleno século XVIII, quando estava em voga na literatura o movimento do Romantismo, prezando pela subjetividade, os sentimentos amorosos e uma abordagem centrada no “eu”, surge Castro Alves, conhecido como poeta condoreiro ou ainda poeta dos escravos, dada sua abordagem da questão escravagista sob uma ótica abolicionista. Rompendo com a proposta inicial do Romantismo, Castro Alves relata em seus poemas as condições de vida dos escravos no Brasil e denuncia a exploração desumanizante exercida sobre eles.
Ainda no Brasil, Carlos Drummond de Andrade, famoso poeta modernista de Minas Gerais, escreve e publica um de seus livros mais expressivos A Rosa do Povo. O livro foi escrito num contexto sócio-histórico bastante peculiar: o mundo vivia a II Guerra Mundial, a ascensão do nazismo na Alemanha e o advento do Estado Novo no Brasil, sob a ditadura do então governante Getúlio Vargas. Sensível às mudanças sociais que tais acontecimentos suscitavam, Drummond verseja sobre uma época sombria que vai além de uma reflexão individual e caminha para a dimensão coletiva. Com uma forte conotação de esquerda (ideologia de Drummond até a época), o autor esboça as dores, as agonias, lutas e esperanças do povo.
No cenário internacional a expressão social ganha voz por meio da poesia do poeta e dramaturgo Bertolt Brecht, em pleno século XX. Com posições ideológicas e políticas marxistas, Brecht escreve em seus poemas sobre a condição do trabalhador das grandes cidades, critica mordazmente com uma linguagem acessível e similar à da crônica a dinâmica do mundo moderno, a lógica industrial, o sistema capitalista e diversas mazelas sociais – sempre com um discurso favorável às classes menos abastadas. Alemão, viu de perto a instauração do nazismo em seu país, bem como a recém nascida (à época) União Soviética. É dele os versos:
1
De que serve a bondade
Quando os bondosos são logo abatidos, ou são abatidos
Aqueles para quem foram bondosos?
De que serve a liberdade
Quando os livres têm que viver entre os não-livres?
De que serve a razão
Quando só a sem-razão arranja a comida de que cada um precisa?
2
Em vez de serdes só bondosos, esforçai-vos
Por criar uma situação que torne possível a bondade, e melhor;
A faça supérflua!
Em vez de serdes só livres, esforçai-vos
Por criar uma situação que a todos liberte
E também o amor da liberdade
Faça supérfluo!
Em vez de serdes só razoáveis, esforçai-vos
Por criar uma situação que faça da sem-razão dos indivíduos
Um mau negócio!
A poesia é acessório presente em várias situações de transformação social, manifestação popular, evento político, nunca alheia inteiramente aos acontecimentos do mundo. Também não aparece como mera observação dos fatos, mas, como denunciadora e não raro como aparato de estímulo e como a própria mudança.
Poetize!

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