RESENHA: “Fúria Lupina – América Central”, os piores monstros são chamados de humanos

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Capa
Autor: Alfer Medeiros
Editora: Literata
Origem: Brasileira
Edição: 1ª
Ano: 2012
Páginas: 220
Sinopse: Em Fúria Lupina – Brasil, um ciclo de autoconhecimento, revelações e conflitos foi encerrado. Agora, uma nova etapa tem início, envolvendo disputa de território, vingança e traição. O sequestro de uma criança autista com grandes poderes mentais (autêntica peeira, ou fada dos lobos) dá início à missão suicida que é o fio condutor da trama de Fúria Lupina – América Central. Um trio de agentes da Alcateia Global precisa abrir caminho com unhas e dentes por território extremamente hostil dominado por lobisomens arredios e violentos, que renegam o nobre comportamento dos lobos e deixam vir à tona o pior da natureza dos homens. Alheio a toda essa movimentação de guerra, um jovem investiga crimes de estupro supostamente cometidos por um licantropo conhecido como El Lobo, buscando na jornada de morte da fera um furo jornalístico para mudar sua vida. Ao mesmo tempo, surge uma nova geração de caçadores, mais numerosa, mais jovem, com recursos tecnológicos e bélicos aprimorados. Prepare-se para um passeio pelo submundo do crime, em meio a prostituição, drogas e violência, onde, há décadas, licantropos poderosos e perversos se alimentam impunemente da decadência em subúrbios sujos. Essa influência nefasta, mantida com muito dinheiro e sangue, pode estar chegando ao fim.
Análise:

“Percebi que o mundo tem mais monstros do que eu desconfiava, e muitos deles nem precisavam virar lobisomem pra fazer maldades.”

—Pág. 148.

Saudações, caros leitores! O romance resenhado de hoje é uma continuação, portanto recomendo que leiam a análise da parte anterior (Fúria Lupina: Brasil). Todavia, caso não desejem fazer isto, sem problemas, vocês poderão entender o texto sem empecilhos. Com a mudança de cenário, esse passo da saga dos homens-lobos concebidos por Alfer Medeiros traz um olhar ainda mais cru acerca da realidade sob a luz da literatura fantástica. Acompanhem-me, mas não se assustem se ouvirem uivos, pois você já vive no terreno de um inimigo extremamente pior, lhe garanto…

A beleza dessa obra começa pela capa que conta com uma excelente arte visual da Carolina Mancini, ilustradora que já conheço de outros trabalhos. Primeiramente, refleti sobre o simbolismo construído no contraste entre o branco e o preto, tão marcante e que inevitavelmente atrai o olhar de qualquer leitor. Levando em conta o contexto do enredo, o preto seria uma manifestação dos ambientes e personagens decadentes e desumanos pelos quais passamos no decorrer das páginas, enquanto o branco representaria a pureza da Peeira, elemento que move as demais ações. Quase me esqueço de mencionar o vermelho, afinal de contas em uma jornada de confronto entre lupinos e humanos é inevitável que algum sangue seja derramado. Todavia, a violência é usada com moderação, claro indicativo de uma escrita madura que não necessita de recursos apelativos para cativar.

No volume “Brasil”, os lobisomens são predominantemente honrados, mas com a maior imersão nos ambientes urbanos em “América Central” até mesmo eles se mostram vulneráveis aos efeitos da corrupção. Justamente essa mudança realça os horrores de uma sociedade enferma, permeada de valores distorcidos, prazeres nocivos e uma população relegada no grande esquema de poder daqueles que deveriam lhes representar. O tom crítico que me tornou apreciador desta interpretação dos lobisomens ficou mais vigoroso.

Outra mudança foi o modo de contar a aventura. Entre páginas que reproduzem postagens em um blog, onde um indivíduo com o pseudônimo de Dr. Glendon comenta a sua jornada na busca por El Lobo; comunicados da Alcateia Global (organização lupina que seria o equivalente à ONU) para os seus agentes em campo (Dante – Brasileiro, Fênix – Norueguesa e Casillas – Espanhol); narração de cenas que alternam os pontos de vista entre os personagens mais relevantes. Gostei desse jogo de perspectivas em que a diagramação e até mesmo a cor das páginas muda, pois gera maior envolvimento do leitor com a obra em questão.

O Alfer adora temperar os seus livros com sutilezas, isso foi algo que percebi observando o estilo dele, e deduzo que o fato de colocar um blog como uma das linhas de desenvolvimento não foi unicamente uma questão estética, mas um meio de retratar um fenômeno cada vez mais evidente: o fortalecimento dos blogs como veículos de informação célere e de qualidade. Uma mídia paralela àquela mais famosa, mas não necessariamente com menos credibilidade. Além de que o afinco com que o Dr. Glendon busca o seu furo jornalístico ilustra bem como câmeras com alta definição (mesmo em celulares) e internet acessível transformaram qualquer indivíduo em um potencial repórter/formador de opinião.

Em um terreno mais hostil, as ações dos grupos (caçadores e agentes lupinos) são consequentemente mais sofisticadas, o que rende empolgantes cenas de ação de tirar o fôlego. Todavia, quebrando um pouco da adrenalina, os caçadores dão vida a ótimas cenas de humor devido aos seus jeitos que se assemelham ao que poderíamos esperar de fãs de terror que repentinamente descobrem que aquilo que julgavam ser apenas ficção é a mais concreta realidade.

Em cinco capítulos, além de um posfácio depois dos agradecimentos, descobrimos um mundo sobrenatural mais vasto do que imaginávamos e que com certeza guarda algo estupendamente maior. As sementes foram plantadas, basta aguardar e ver para qual lugar os rastros dos homens-lobos vão nos levar, principalmente depois que um poder incalculável foi despertado. A única certeza é: “Grandes poderes, trazem grandes responsabilidades”, como diria Tio Ben (Homem-aranha). Dou cinco selos cabulosos!

Nota:
Avaliação
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