Autora: Adriana Vargas
Editora: MODO Editora
Origem: Brasileira
Ano: 2012
Edição: 2ª
Número de páginas: 236
Skoob
Sinopse: Um encontro entre a vida e a morte, e entre dois pólos, a presença milagrosa do amor – tudo passa a fazer sentido…Clarice, solitária e questionadora, conhece Klaus através de um pesadelo. De repente, ele passa a persegui-la em todos os lugares, denotando ao livro, um cunho de mistério e sensações intrigantes.
Um livro rico em sentimentos que fará o leitor rir, chorar, suspirar e odiar durante toda a leitura.
Uma afronta aos conservadores. Uma luz no final do túnel.
Este é o primeiro livro da série – O Voo da Estirpe.
Onde comprar? Loja virtual da MODO Editora, Livraria Cultura.
Análise:
“Meu amor não pode ser egoísta e nem condicional, porque quando ponho condições para amar alguém, na verdade, não estou querendo amar esta pessoa e sim, a situação que quero escolher para me sentir satisfeita com a realização de minhas vontades.”
Pág. 110.
Saudações, caros leitores! O livro anterior que conclui e resenhei foi uma série de páginas com bastante adrenalina – clique aqui para ler a resenha -, uma experiência agradável dentro do gênero da obra, e depois comecei “O Voo da Estirpe”, obra da Adriana Vargas, autora parceira do blog. Sendo sincero, esperava uma boa leitura, mas não algo que fosse revolucionar tanto a minha mente. Clarice foi como uma lente de aumento para diversas questões que norteiam as nossas vidas e uma companheira que me deixou inquieto por algumas madrugadas, além de gerar um novo “eu”. Em um elevado processo de introspecção, também ousei conquistar novas alturas. Quer saber o que vi enquanto alçava voo? Siga-me.
Antes de começar qualquer livro, leio a sua sinopse e medito sobre o que ela me causa e o que ela me oferta. Acredito que uma sinopse seja como uma pessoa gentil que diz: “Venha, aproxime-se, olhe os doces que você poderá provar…”. Pelo que constatei, viajaria por uma história romântica, mas com a adição generosa do suspense. Como se não bastasse o mistério, recurso que particularmente adoro, a trama fica em várias situações de conflito: Será que tudo é um sonho? Um delírio? Se for uma ilusão, o que há de verdade? O que está por trás das cortinas? Qual o sentido de tudo? Essa sensação de desorientação é passada ao leitor pela narração em primeira pessoa (feita pela protagonista) e alguns trechos que parecem alheios às cenas que acompanhamos. Até mais ou menos metade do livro, as coisas possuem uma estrutura mais assustadora, pois é quando Clarice está em maior conflito. Mas, como seria de se esperar, com o amadurecimento, o texto evolui junto com a sua narradora.
Essa primeira parte é recheada de momentos eróticos, mas sempre nas doses certas e com descrições poéticas, que retratam a pungência do sentimento dos envolvidos. Afinal, narrar uma cena de sexo, qualquer pessoa faz, mas conseguir ir além da carne e adentrar nas ideias que movem a ação é mais louvável. Isso demonstra, em minha opinião, que estamos em mãos com um fruto literário de excelente procedência. A segunda parte continua tocando na questão do sexo/sexualidade, mas de modo mais brando. Entretanto, não pensem que as coisas esfriam ou ficam tediosas nesse ponto. Simplesmente, o texto nos apresenta outras reflexões. Aliás, as conversas do livro com o leitor são de alto nível, argumentações de uma inteligência aguçada.
O jogo que a Adriana faz entre o que é onírico e o que é lucidez começa no ponto em que a Clarice diz que Paris (a chamada cidade luz) está envolta em sombras. O humor (sim, há um pouco dele) é finíssimo, nada daquela coisa escrachada que está saturando algumas livrarias. É preciso ficar atento para captar todas as sutilezas.
O que percebemos, com poucas páginas, é que aquela que nos guia (Clarice) é uma pessoa com profundo desespero em existir. O que? Vocês me perguntam como assim “existir”? Tentarei elucidar. É o seguinte: uma pedra…existe, uma árvore…existe, um gato…existe, enfim, bilhares de coisas simplesmente existem. Quando se fala em Existir, neste contexto, refere-se a uma experiência maior, algo como ser completamente aquilo que você é e saborear o universo de uma forma que lhe deixe em comunhão com ele. É difícil descrever este estado, mas espero ter lhes passado uma ideia compreensível.
Em alguns capítulos, conhecemos mais do passado de Clarice e como na verdade ela é quase uma síntese da condição humana, tendo em vista como ela carrega traumas, medos e desejos comuns a todos nós. Esta personagem, uma afronta viva ao conservadorismo, é alguém que quer algo simples, mas que é complicado pela nossa sociedade: Amar sem ter de abrir mão de quem é e da sua liberdade. Klaus é a concretização deste anseio, mas sem cair na mesmice de ser um daqueles mocinhos perfeitos que suprem todas as carências de suas parceiras.
O humor, vulnerabilidade sentimental e romantismo dele são o retrato de um perfil masculino raro atualmente, mas que ainda conta com alguns exemplares (às vezes parecia que estava em frente a um espelho ao ler o nome Klaus). Sem rodeios, afirmo que eles formam um casal belíssimo, mas não necessariamente perfeito (sem discordâncias). Todavia, até mesmo os conflitos deixam evidente como ambos se comportam como partes distintas de um único ser. No final das contas, vemos um amor legítimo, sem mentiras, trapaças etc. Um amor que liberta, nos tornando plenamente nós mesmos. Esse livro me fez repensar vários de meus conceitos, acredito que me tornei alguém mais capaz de amar verdadeiramente. Pode soar como exagero, mas é o que penso, confesso.
A capa, brilhosa, teve um trabalho excelente. Carrega um forte simbolismo. A mulher dotada de asas, aparentemente de material frágil, que exibe uma nudez parcialmente e com a face encoberta por sombra, é uma manifestação visual do que o texto abriga. O único ponto negativo que encontrei foram alguns erros de revisão, mas não chegaram a um número além do que normalmente encontro em outras publicações. Recomendo e dou cinco selos cabulosos! A continuação de “O Voo da Estirpe” (Túnel do Tempo) será lançado este ano!
Nota: