Olá, Gislene, essa será uma conversa com tom bem informal, espero que se sinta em casa. O meu objetivo é apresentar-lhe aos leitores do Leitor Cabuloso, mas com a atmosfera de uma conversa entre amigos. Podemos começar o bate-papo?
Claro!
1 – Quando e como nasceu o amor aos livros?
Eita. Já começou com uma difícil. Rs. Olha, eu sou daquelas que nasceu desenhando e criando histórias. Quando finalmente aprendi a ler comecei a devorar os quadrinhos e deles pulei para os livros. Tornei-me uma leitora contumaz. Daquelas que chegavam na biblioteca pública e sonhava em ler todos os livros de todas as prateleiras. Não tinha muito critério naquela época. Mas graças a isso acabei conhecendo muitos autores interessantes. Com o passar do tempo fui ficando mais criteriosa.
2 – Como foi que se formou essa vontade em escrever?
Como eu disse isso de criar histórias é algo que já nasceu comigo. Desconfio até que meus amigos de infância só me aturavam porque além de criar histórias eu era capaz de inventar brincadeiras. Rs. Eu comecei a tentar criar algo concreto em minha adolescência. Mas não parti logo para os livros. Adorava os quadrinhos. Mas eu sempre escrevi vários argumentos. Pegando meus cadernos do ginásio ele é cheio de desenhos e argumentos. Algumas tentativas de escrita que nunca saíram das primeiras páginas. Meu problema sempre foi que, ao escrever algo, tinha uma ideia melhor e pulava pra outra história e para outra e para outra. Quando ia ver tinha um monte de caderno com histórias inacabadas. Isso só melhorou quando comecei a usar o computador pra organizar essa bagunça.
3 – Você pode nos falar sobre os seus dois livros? (A Princesa com Olhos de Gato e Padaria) Como foi o processo de criação em cada um?
A Princesa com Olhos de Gato é um conto de fadas que aos poucos acabou se transformando em uma história que alcança todas as idades. Foram dez anos revisitando essa obra então acabei tendo muito tempo para deixá-la do jeito que eu queria. Conta a história de uma princesa amaldiçoada que precisa encontrar um meio de salvar seu reino antes que a Santa Inquisição a alcance. Ela acabou agregando várias coisas que fui descobrindo e gostando ao longo dos anos, porém, a ideia de ter uma princesa com olhos de gato e um mago que sempre se veste de preto indo em direção a uma torre em meio a um deserto de água e areia surgiu em um sonho. Já Padaria surgiu de um processo diferente. Apesar do nome, se trata de um livro de mistério com alguns elementos de terror que faz uso de elementos e tradições do folclore brasileiro do século XVIII. Gosto muito de animes e mangás onde o folclore japonês é muito utilizado como base para as criações. Aí eu pensei, porque não? O Brasil também tem um folclore riquíssimo que vai muito além do Monteiro Lobato. Eu estava meio influenciada por um anime chamado XXXHOLIC nessa época que conta a história de um lugar mágico parecido com uma loja. Parti daí. Que tipo de comércio temos no Brasil que aparece em qualquer esquina? Entre farmácia, açougue, bar e padaria, acabei optando pelo último. E assim surgiu Padaria, um livro que conta a história de um rapaz que arruma um emprego neste lugar mágico onde coisas muito estranhas começam a acontecer.
4 – Considerando que você faz parte do Clube dos Novos Autores, qual a importância de iniciativas como esta segundo a sua visão?
Posso falar de meu ponto de vista. Nesta profissão que é a de escritor nacional, eu ainda sou iniciante. Domino bem a escrita, mas é um fato: uma vez que você escreve e publica um livro é preciso cuidar das outras etapas como divulgação e distribuição. A editora ajuda, mas este processo ainda está engatinhando aqui no Brasil. Por conta disso, minha participação em um grupo de autores tem sido muito profícua por conta das trocas de experiência e conhecimento que temos dentro do grupo. Pude aprender muito observando, perguntando e conversando. E como ao longo desse percalço também cometi erros é sempre mais fácil ter com quem compartilhar algumas impressões. Um grupo sempre fortalece mais qualquer ação individual e por isso sou muito grata por ter sido aceita em um.
5 – Listar escritores que mais gostamos sempre é difícil, mas você poderia dizer os nomes de alguns que admira?
Claro. Você está com muita pressa? Rs. Eu sou uma leitora de fases. Eventualmente fico viciada em alguns autores. Antigamente eu também ficava presa a alguns gêneros. Com Marion Zimmer descobri a fantasia com elementos medievais. Acho que ela influenciou muito do que eu fiz em Princesa. Com Xogum de James Clavel e obras de Pearl Buck, por mais contraditório que possa ser já que ambos não são orientais, me tornei uma fã ávida por romances asiáticos. No terror li tudo o que pude de Edgar Allan Poe e Steven King. Romances policiais eu era da “ala” Agatha Christie e Conan Doyle. Meus vampiros são os andróginos de Anne Rice. Contos, eu fico com os de Millor Fernandes, As mil e uma noites e os contos de Nasrudin. Entre os nacionais, por incrível que pareça, aprendi a apreciar depois de alguns anos Machado de Assis. Também gosto de Érico Veríssimo e Saramago. E quadrinhos. Ainda continuo uma grande fã de quadrinhos e mangás. Hoje em dia eu tenho me concentrado mais em ler obras clássicas universais. Também sempre leio aquilo que fica mais em evidencia nas livrarias, mas esse não é o único critério. Muita gente sempre acaba me indicando livros. Hoje em dia eu me dou ao luxo de ler distraidamente tudo aquilo em que meus olhos põem os olhos e fazem minha mente dilatar em imagens e ideias interessantes, sem nenhum preconceito.
6 – No momento, você está pondo em prática novos projetos? Pode alimentar a curiosidade dos leitores e a minha comentando um pouco?
Eu sinto que alguns autores querem me bater quando eu digo isso. Rs. Mas eu já tenho muitos projetos prontos. Afinal, apesar de recém lançada para o mundo editorial, já são quase três décadas escrevendo. O que me dá mais trabalho é deixá-los fluídos e agradáveis. Escolher as palavras certas. Evitar os vícios de linguagem. Ah, os vícios de linguagem. Isso é um grande problema. Rs. Eu releio e reescrevo tudo o que tenho várias e várias vezes. Por isso ter um projeto pronto não quer dizer que ele esteja acabado. Significa que eu já tenho a história, mas ainda não tenho o livro pronto e acabado. Ultimamente eu tenho me dedicado em arrumar a continuação de A Princesa que tem o título provisório de A Terra dos Esquecidos. Em paralelo tenho trabalhado em um livreto infantil e em outros dois romances que estão competindo para serem os próximos a ficarem prontos: uma fantasia que mescla folclore e mitologia grega e outro com elementos do folclore afro brasileiro. Eu ainda não sei qual deles vai ficar pronto primeiro. Mas a continuação da Princesa tem ido bem. As palavras têm aparecido quando eu preciso delas. Por isso não posso reclamar.
7 – Com a “explosão” dos blogs literários, somado ao fato de muitos escritores estarem surgindo, você acredita que isso abriu mais o espaço para a literatura no cotidiano do brasileiro?
Eu acho que a internet em geral possibilitou uma abertura de horizontes em todas as áreas não só para os brasileiros. Hoje em dia eu posso ser uma escritora no Chuí e ainda assim não estar condenada a ser uma completa desconhecida até a minha morte. Tudo graças à internet. Através dela as pessoas podem se expor e compartilhar opiniões e gostos. Mas isso não muda o fato de que o mercado editorial brasileiro ainda sobrevive à duras penas embaixo das enormes asas do mercado internacional. Ainda somos um nicho onde uma porcentagem mínima com acesso e condição de compra geralmente é mais propensa a reconhecer o trabalho que vem de fora já que um mercado melhor organizado também conta com um ótimo processo de divulgação que incita o desejo pelo livro muito antes dele chegar aqui, por exemplo. Os blogs têm aparecido como uma opção para os iniciantes que não fazem parte dessa grande ferramenta mercadológica. Mas ainda acho que demorará um pouco para que os blogs se organizem profissionalmente e se consolidem como ferramentas de divulgação. Isso porque quando falamos profissionalmente, qualquer coisa abaixo dos milhares, no que se diz respeito à livros, é algo amador. Não gera o lucro e não tem o alcance que se obtém com uma divulgação massiva. Mas pelo pouco que pude ver nos últimos eventos que tenho ido a integração dos blogs e dos vblogs é algo que provavelmente já está em andamento.
8 – Qual foi o último livro que você leu e o que achou dele?
Ah eu li o gigantesco Musashi de Eiji Yoshikawa. Sou suspeita em falar sobre esses romances orientais. Eu realmente gosto muito. Como a forma de pensar deles é diferente da nossa sempre acabo tendo boas surpresas. E Musashi é um anti-herói muito engraçado em suas discrepâncias além de contar com personagens coadjuvantes fortes e realmente cativantes. Para quem gosta de histórias de samurais é um prato cheio. Também estive lendo outro mais fininho chamado Os Caçadores de Sonhos no universo de Sandman que eu adoro. Este é um livro escrito por Neil Gaiman & Yoshitaka Amano que conta a história de uma raposa que se apaixona por um monge. Eu sempre carrego algum livro fino comigo para ler em filas e este é o que tenho carregado, apesar de também sempre ter um mangá na bolsa para esses momentos.
9 – Agora, o espaço é seu para deixar um recado ou o que quiser.
Eu apenas gostaria de agradecer por esta oportunidade de poder me fazer conhecer, mesmo que seja um pouquinho. Espero ver muitos comentários. Acho sempre muito divertido perceber o que se passa pela cabeça das outras pessoas e isso sempre ajuda a entender como aquilo que estamos escrevendo está chegando até as outras pessoas. Felicidades a todos. 😉
Agradeço em nome de toda a equipe do blog pela entrevista cedida. Desejo-lhe muito sucesso, quando precisar divulgar algo, pode entrar em contato. Abraços e beijos!
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