RESENHA + ENTREVISTA: “A QUEDA DA BASTILHA”, SUSPIROS MELANCÓLICOS COM UM DELICADO AROMA DE ESPERANÇA

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Capa
Capa

Autora:  Leila Krüger
Editora: Confraria do Vento
Origem: Brasileira
Ano: 2012
Edição: 
Número de páginas: 63
Skoob
Sinopse: “Da Leitura de A Queda da Bastilha ficam algumas conclusões: a primeira é que a poesia brasileira ganha uma nova e exímia autora; a segunda é que é possível, recolhendo elementos cotidianos, transformá-los em poesia falando deste ente tão extraordinário que é o ser humano.” (Roberto Schmitt-Prym)
Onde comprar? Livraria Cultura, Livraria Saraiva ou leilakrug@yahoo.com.br (diretamente com a autora, exemplar autografado)

Análise:

“Deus! Quantas ruas escuras e becos eu tive que vagar em busca de um amor que não podia ter.”

—Pág. 16.

Saudações, caros leitores! Por onde deveria começar a minha análise dessa vez? O que dizer de algo que me fez sentir tanto, mas que tão pouco consigo traduzir em palavras? Já analisei contos e romances, apesar de não ser um acadêmico (ainda) ou algum tipo de estudioso da linguagem; contei apenas com o pouco conhecimento adquirido em minhas leituras e conversas. Poesia, assim considero, é uma das coisas que precisamos sentir o máximo possível, para então contempla-la em toda a sua beleza. Os poemas com os quais mais crio uma afeição são aqueles que se comunicam diretamente comigo. É quase como se o poeta fosse um mago que faz algo retornar, seja um fantasma ou o agradável sabor de um doce de outrora. Suspiros, olhos marejados, pensamentos rebeldes que insistem em alimentar lembranças, lutarei para não me perder no labirinto de minha mente.

A capa do livro (uma obra de GC Myers, um pintor contemporâneo – confira as pinturas dele aqui) retrata uma simplicidade, mas também um sentimento de solidão muito forte. Soa-me como uma manifestação física da introspecção, processo que frequentemente todos realizamos. A presença de somente uma árvore no cenário reforça este sentimento. A estreita trilha que passa perto da árvore e segue para o horizonte, sem um desfecho claro, é como um convite ao leitor para viver durante algum tempo o livro, comungar com a autora, mas depois prosseguir em sua própria jornada. Talvez revitalizado por alguns goles de sensibilidade.

Na introdução, o fotógrafo Roberto Schmitt-Prym (confira o site dele aqui) comenta um pouco sobre o que poderíamos chamar de “propriedades” da poesia de Leila Krüger, o desenvolvimento das palavras ao redor de questões comuns a todos os seres humanos, independente de classe social, etnia etc (a solidão é uma das coisas mais recorrentes); além da não estruturação do texto a partir de divagações hipotéticas, mas sim de relatos que parecem muito pessoais. O uso de formas livres nos poemas reflete uma personalidade inquieta, sempre em experimentação.

Em seguida, temos duas citações, uma de Mario Quintana e outra de Fernando Pessoa, mostrando o que imagino ser um pouco da formação literário-poética da Leila, completando o giro da chave e abrindo a porta de acesso ao filho gerado pela escritora em seu coração.

Como mencionei anteriormente, o tom das palavras é muito particular, o que deve fazer outros leitores, assim como ocorreu comigo, sentirem-se na companhia de um amigo em um ambiente descontraído. Mas o espaço em que essa relação estabelece-se é pequeno, assim como a maioria dos textos do livro. Afinal a sutileza com que a Leila retrata os sentimentos o exige. Algo com um ar de “espetáculo” não iria colaborar para a atmosfera intimista da obra.

A linguagem da autora é simples, portanto os leitores que temem textos com vocabulários mais rebuscados podem ficar calmos. Há muitas metáforas, mas nada de difícil compreensão, ou seja, qualquer leitor que aprecie poemas pode extrair o máximo da leitura.

O que percebi ao concluir o livro foi que há em cada palavra uma forte melancolia, mas sempre com uma pitada de esperança. Assim como no mito de Pandora, muitos tormentos estão à solta, nos rondando; mas a esperança teima em permanecer, ora ampliando nossa dor, ora nos fazendo ir além e assim ver novas paragens que renovam o folego para vivermos. A obra é curtíssima, porém nesse contexto singelo há um enorme encanto. Caso a Leila venha a lançar um trabalho mais extenso nessa mesma área, tenho certeza que não irá decepcionar. Dou cinco selos cabulosos!

Nota:

Avaliação
Avaliação

Entrevista:

Leila Kruger
Leila Kruger

Olá, Leila! Essa é a primeira vez que lhe entrevisto, mas lhe digo para sentir-se à vontade, espero que goste de nossa conversa. Toda a equipe do blog agradece por você ceder um pouco de seu tempo para uma entrevista. Então, podemos ir para as perguntas ou você tem algo a dizer antes?

1 – Quando surgiu a vontade de escrever? Qual o sentido disto para você?

Sempre gostei de escrever, mas só há pouco tempo comecei a pensar em publicar livros. Antes eu me dedicava mais à música. Acho que um escritor já nasce escritor, traduzindo o mundo em palavras. Para mim escrever é uma necessidade e uma maneira de eu expressar meus sentimentos e pensamentos, e também tocar outras pessoas.

2 – Como a poesia entrou em sua vida (tanto pessoal, quanto profissional)?

Foi por acaso que a poesia entrou em minha vida. Eu sempre escrevia coisas que nem sabia que eram exatamente poesias. Até que encontrei Majela Colares, um dos grandes poetas brasileiros atualmente, e que disse que o que eu escrevia era poesia e que eu tinha talento. Ele me incentivou a escrever poesia e a lançar um livro. Agradeço muito ao Majela. No mais, eu gostava de alguns poemas que via às vezes de Mario Quintana, Drummond e outros.

3 – Como é a experiência de publicar um livro completamente diferente de seu trabalho anterior?

Pois é, realmente é outro mundo. Mas acredito que não existem limites para um escritor. Eu sempre pensava em só publicar romances, mas comecei a escrever poemas e contos. Eu nunca havia lido um livro de poesia inteiro, antes de publicar o meu. Gostei muito de escrever A Queda da Bastilha porque foi uma experiência íntima e de libertação pessoal. E pensei que poderia tocar outras pessoas com o que tinha escrito.

4 – Você pretende publicar outros livros de poesia? Pode nos falar um pouco de seus próximos projetos?

Não tenho muitos planos, por enquanto. Tô vivendo o momento. Tenho trabalhado em um novo romance e em contos. Agora quero divulgar meus livros Reencontro e A Queda da Bastilha e quem sabe ter meu trabalho aos poucos reconhecido. Tenho tentado me reinventar para continuar escrevendo. Tenho uma coluna na revista Benfazeja e faço revisões e traduções de textos. Tenho desejos, mas Deus sabe o que é melhor para mim.

5 – No livro há uma citação de Mario Quintana e outra de Fernando Pessoa, você pode nos dizer os poetas que costuma ler e o que acha deles (só um pouco mesmo)?

Sempre gostei de Mario Quintana, e Fernando Pessoa admiro muito. Ando lendo vários tipos de livro, mas em poesia eu gosto de muita coisa. Gosto muito de Manoel de Barros, que diz que “poesia é voar fora da asa”. Queria conhecer mais sobre poesia, ler mais, mas tudo aos poucos.

6 – Como foi escrever os poemas de “A queda da bastilha”? Todo o processo foi tranquilo ou teve alguma dificuldade em transportar o que queria para o papel?

Foi tudo em mais ou menos um ano e meio. Eu não pensava em publicar meus poemas, e escrevi todos no computador e não no papel. A Queda da Bastilha é o título de um dos poemas, são quarenta poemas e prosas poéticas de sentido intimista e autobiográfico, é como um diário. Foi espontâneo.

7 – Há algum poema do seu livro pelo qual tenha um carinho especial?

Olha, nenhum em especial, eu gosto de todos. Mas “Becos” e “Veleiros” me tocam bastante. “Becos” fala de uma busca que ainda faço, e já fiz algumas vezes.

8 – Se você tivesse que se definir como poeta com somente uma palavra, qual seria? Por quê?

Sonhadora. Não sei explicar. Eu imagino muitas coisas enquanto escrevo, e lembro outras. Acho que todos os escritores são sonhadores.

9 – Agora deixo espaço para você dizer o que quiser, seja um recado, pensamento etc.

Agradeço a entrevista. Leiam A Queda da Bastilha, não como um “livro de poemas”, mas como um livro que fala de vários temas como amor, saudade, fé, desejo e vida. Poesia nem sempre é algo chato e repetitivo, mas mostra a alma humana. Fala sobre sentimentos. Leiam também meu romance Reencontro, que tem muitas citações de poemas. E escrevam para expressar o que sentem, é muito bom.