Escrito por Estus Daheri, A Ira dos Dragões reúne oito contos de fantasia e é recheado com desenhos de John Howe – se você não sabe quem é Howe, logo explico, mas primeiro, vamos aos contos!
Ereduin
Morted é um elfo guerreiro, acabou de fazer algo surpreendente, algo que nenhuma outra criatura conseguiu: derrubar a fortaleza de Ereduin. Porém, ele não está feliz. O motivo da luta, como ele conquistou a fortaleza não é nada orgulhoso em sua opinião. Agora Lorac, o traidor dos Tark Vadum, estava próximo de conseguir os Artefatos de Raça, relíquias poderosas que Lorac deveria ser protetor.
Enquanto isso, Tienan, um simples cavalariço de Ereduin conseguiu escapar da prisão imposta a todos e carrega a missão de avisar ás tropas de Ludlyn. No caminho ele encontra um velho que pode mudar o destino de todos.
Já nesse primeiro conto fica explícito a capacidade de criação e a imaginação do autor. Vemos a imagem enquanto lemos e nos surpreendemos da forma na qual ele pôde dar um nome ao elfo, uma história, um inimigo. Criar, além de um mundo, mas raças e personagens que nele habitam não é nada fácil, porém Estus conseguiu fazê-lo muito bem.
Viagem a Peneme
O gnomo Dunk é capitão de uma galadrin: embarcações que flutuam pelo céu, suspensas por um enorme balão. Ele recebe, a pedido do humano Vostak, o serviço de viajar até a ilha Peneme, local de lendas perigosas. Dunk aceita o pedido e junto com sua irmã Suni, partem para uma viagem que promete não ser tão seguro quanto ás outras.
Temos nesse conto mais um vislumbre do mundo criado pelo autor. Temos embarcações flutuantes, pássaros que carregam elfos e um grande monstro. A criatividade no conto é fascinante. Estus não se prende a detalhes, porém o que ele nos mostra é o suficiente para que nossa imaginação voe acompanhando as galadrins.
Bestas de Wyen
Vortha é um desenhista, mora em uma ilha pacata junto com sua esposa e filha. Um dia, enquanto desenhava na varanda de sua casa, vê ao longe três velas pardas que não carregavam nenhum brasão. Logo soube que eram piratas. Vortha tenta alertar o povo que os piratas não querem somente saquear dessa vez, mas ninguém o ouve. O povo se fecha na igreja, onde pensam estar seguros, mas infelizmente Vortha estava correto. Dessa vez, além dos tesouros, os piratas desejam ver sangue.
Sei que ao ler essa pequena resenha você deve ter se perguntado onde entram as tais bestas. Bem, você vai ter de ler o conto. A forma com que elas entram na história é surpreendente. Não pude deixar de dar um sorriso ao ver a relação entre Vortha e a grande Besta de Wyen.
O Ladrão e o Menestrel
Ligen é um gnomo que ganha a vida realizando vários roubos. Ao passar pela cidade de Alond, Ligen é pego por um dos homens de Felktar. Acontece que ele estava tentando roubar um quadro, que para a maioria das pessoas, era um ato um tanto ridículo. Era um quadro feio e o valor do mesmo não era digno de um roubo. Porém Ligen estava atrás de um mapa que o quadro esconde. Na cela em que está preso, ele conhece Petnar, um lumpa que foi menestrel na mesma festa onde Ligen tentou roubar o quadro. Como Ligen já é um tanto experiente no quesito celas, eles escapam e juntos vão atrás do segredo que o quadro esconde.
Um conto bem divertido. É o primeiro conto do livro que não vi um clima “pesado”. A forma como o quadro guarda o segredo é bem criativa. Tem um daqueles aqueles finais onde realmente não é um final e você fica ansioso para ler mais.
Qenari
Os Penas Prateadas são famosos guerreiros de Breasal. Eles estão em uma missão ousada e muitos os chamariam de loucos só de ouvi-la: roubar os monges de Nafgun. Porém, os monges não são o único problema. A ilha Peneme habita seres incríveis e amaldiçoados que causam mais temor do que os próprios monges.
Voltamos a Peneme! No outro conto os monges são citados, mas nesse nos é revelado como funciona o trabalho deles em Nafgun. Mais uma vez a criatividade do autor me impressionou. Criar uma história de tristeza e maldição para os Qenari, uma de ambição e poder para os monges e ainda acrescentar os Penas Prateadas com um objetivo um tanto nobre deixou o conto incrível. Simpatizei bastante pelos Penas, o fato de confiarem cegamente um no outro é uma coisa que me agrada bastante.
A Ira dos Dragões
Próximo às areias do deserto de Tatekoplan, caminha um andarilho. Ele tenta passar despercebido em meio ás tendas do acampamento, pois carrega uma importante missão: acabar com o Bruxo. Todos o temem, pois está causando medo e terror em toda Breasal, fazendo várias criaturas como escravas e o número dos campos onde eles trabalham arduamente, chamado doomsha, cresce cada vez mais.
O andarilho encontra-se com o gnomo Stenig, um dos Cinco de Tatekoplan que iniciaram uma resistência contra o Bruxo, e este lhe dá uma missão: entrar na doomsha de Tatekoplan, o campo de prisioneiros mais violento de Breasal, e resgatar um homem que tem o poder de vencer a guerra.
O conto que deu nome ao livro! Bem construído e com um final surpreendente. Gostei da forma com que a história é desenvolvida. Não posso falar muita coisa, porque acho que vocês gostariam mais de ler algumas informações durante a leitura do conto.
A Maldição de Krauns
O guerreiro Labarist finalmente venceu a besta, está ferido e esgotado, mas conseguiu. Ele abre o estômago da criatura e passa a procurar algo. Não procura algo para saciar sua fome, mas algo para finalmente acabar sua busca. Ele procura um pequeno cristal. Nesse cristal está depositado algo que Deark, líder da Água Negra, aprisionou. Algo que ama e que deseja desesperadamente libertar.
O conto é uma história de amor que foi marcada por uma maldição. O empenho de Labarist para libertar sua amada é desesperador e tocante. Um conto que mescla beleza com tristeza.
O Herói Esquecido
No terrível inverno que assola o norte de Breasal, o ladrão Grendir assola vilarejos roubando e matando. Oktar é vítima de um desses ataques e perde sua mulher e filha. Deseja vingança e segue com o capitão Frumgar e seus cavaleiros, servidores do Lorde Mund, que recolhe os sobreviventes das tragédias feitas por Grendir. Frumgar porém, além de um desejo de justiça, carrega a insegurança de ter um traidor ao seu lado e segue os rastros do ladrão para destruí-lo e descobrir quem é tal delator juntamente com Oktar que deseja o mesmo para finalmente acalmar sua alma.
O inverno rigoroso que parece não acabar nunca me lembrou Game of Thrones hahaha. A história é triste, em todo o seu decorrer há tristeza de todos os lados. Tem um final triste também, mas achei apropriado, tanto para o final do conto, quanto do livro.
Bom, se deliciaram com um pouquinho dos contos? E com as imagens? Conforme disse, vou explicar quem é John Howe. Ele é o responsável pelas ilustrações do Senhor dos Anéis! Isso mesmo, quem é habituado à trilogia pode ter desconfiado ao ver os traços nas imagens acima. Ele também contribuiu com a concepção visual da adaptação de Peter Jackson.
A história de como o livro foi escrito é a seguinte: Estus – ou Thiago Tizzot – como fã de Tolkien teve a idéia de mandar um email para Howe dizendo que seria uma boa ter um livro de imagens dele aqui no Brasil. Howe respondeu um tanto desanimado, falando da dificuldade de liberar algumas imagens, porém Thiago – ou Estus – não desistiu. Disse que também escreve e que seria interessante escrever algo inspirado nos desenhos de Howe, já essa idéia o agradou e na resposta do email, já veio uma imagem junto. Tiago então produziu o conto, traduziu para o inglês e enviou para Howe que respondeu: O conto é muito bom. Qual o próximo passo?
O resultado dessa parceria é a Ira dos Dragões com contos inspirados – e muito bem – nas ilustras de John Howe.
Só tenho a parabenizar ao Thiago Estus Tizzot Daheri pelo ótimo trabalho e pela ousadia em trabalhar com um ilustrador tão rico em detalhes.
A Arte & Letra também fez um ótimo trabalho com o acabamento do livro. As páginas são grossas, consistentes. Boas para se ler.
Agora, se você é fã de Tolkien, tenho certeza de que está morrendo de vontade de ter esse livro em mãos. E se não for, bom, não tem como não achar as imagens lindas e os contos valem muito a pena lê-los!