Editora: Fantas
Autor: Alfer Medeiros
Origem: Brasileira
Ano: 2011
Edição: 1ª
Número de páginas: 192
Sinopse: Que importância a literatura tem na sua vida? Ela está presente no seu dia a dia? O que significa para você? Quanto ela moldou do seu caráter e jeito de ser? Com certeza, as respostas a estas perguntas variam consideravelmente, de pessoa para pessoa. O hábito da leitura, e o prazer advindo dele, trazem resultados distintos para cada indivíduo, afinal o ser humano é único na sua maneira de julgar o que os sentidos captam e o que a mente retém. A Livraria Limítrofe é o lugar onde pessoas comuns vislumbram cenários e personagens palpáveis, criados através de suas mentes, colhendo fisicamente o que pela leitura foi plantado. Em cada capítulo, um visitante narra em primeira pessoa sua experiência nas dependências da livraria, cujas dimensões podem variar de um pequeno quadrilátero até um imenso reino de fantasia, de acordo com o que o seu gosto literário definir. Inúmeras referências ao mundo dos livros são lançadas nestas páginas, mas em nenhum momento os nomes das obras e dos autores são citados. Assim, fica a cargo do leitor descobrir do que se trata cada capítulo, com base na sua própria vivência de leitura – ou buscar os títulos que lhe aguçaram a curiosidade. Você está convidado a conhecer a livraria mais imprevisível, fabulosa e excêntrica da qual já teve conhecimento. Aqui, tempo e espaço são plenamente maleáveis, onde o único limite é a capacidade de se criar mundos a partir de palavras impressas. Quem sabe um dia não tenha a sorte de ver diante de si uma porta sobre a qual se enxergam os dizeres “Livraria Limítrofe”? Entre e divirta-se!
Onde comprar: Estronho Livraria.
Book Trailer:
“Que importância a literatura tem na sua vida? Ela está presente no seu dia a dia? O que significa para você? Quanto ela moldou do seu caráter?”
O livro começa suscitando estas indagações. O convite para entrar neste lugar tão singular, a Livraria Limítrofe, um espaço que assume uma forma diferente para cada visitante, nos é feito. A Livraria é um reflexo de cada visitante, tornando-se uma experiência única e uma jornada em si mesmo. Para reforçar a singularidade da qual pretende falar a obra começa pela sua capa ou melhor…não-capa. O livro não tem capa! Deixando a costura exposta e vindo acompanhado de uma cinta para protegê-lo. Isso soa como uma proposta deveras interessante. A “voz” do livro nos sussurra: Hey, leitor, projete uma capa em mim. Teça a primeira camada de minha pele com a sua imaginação. Essa foi uma ideia genial! Agora vamos para a análise do texto.
O livreiro limítrofe
Nesse primeiro momento conhecemos o gentil livreiro limítrofe que de forma muito atenciosa nos conduz pelas dependências da livraria, a beleza descrita pelo autor é tão forte que deixa tudo palpável, o lugar faz os olhos brilharem de alegria. As referências, algumas vezes evidentes e outras subentendidas, são excepcionais, provavelmente a maioria dos leitores se sentirá extasiado e talvez, como eu, se vejam nelas. As analogias parecem trabalhos de um hábil pintor, conseguem captar o colossal encanto de experiências que todos aqueles que fazem questão de se alimentar com a magia de histórias, sejam elas de qualquer gênero, já puderam viver. Não há como resistir ao desejo de explorar a livraria após este tour.
Dando à luz
Aqui somos apresentados a uma mulher de negócios que aparenta frustração com o quadro da sua vida, casada com um homem que atua na mesma área e que descobre estar grávida. A maternidade age como um bálsamo para seu espirito e a menina a faz ganhar uma injeção de vontade de viver. A garotinha curiosa decide explorar um território desconhecido e acompanhada pela mãe-coruja, que a auxilia no contato inicial nesse terreno mágico e ao mesmo tempo se diverte, descobre uma paisagem que a cativa. A luz no título claramente alude à dois instantes distintos, o nascimento da menina e a iluminação em que a mãe colabora. Fascinante. A magia transborda aqui.
Heroismo
Essa história fala de um sonho muito comum, mas nem um pouco banal! É um sonho que pode nos conceder altos voos. É um super sonho. Temos a oportunidade de enxergar pelos olhos de um cadeirante que sente a cidade como um desafio a ser vencido a cada dia e até por isso ele já assume um caráter épico. A linguagem usada para falar dos super-heróis oscila entre vários estilos. O final desse conto me fez pensar se todos somos também heróis enfrentando inimigos (medos em sua maioria) e tentando salvar o mundo (conferir um sentido à vida).
Duas perspectivas
Como o título já declara aqui vivenciamos simultaneamente contrapontos na livraria. Dois amigos com vidas e personalidades completamente distintas que conflitam em inúmeros assuntos nos fazem recordar quantas pessoas que já nos foram ou ainda são queridas, mas que devido às nossas escolhas ou caprichos do destino se afastaram fisicamente, casos em que as ferramentas das quais dispomos atualmente podem amenizar, ou sentimentalmente, situação em que mesmo estar ao lado pode significar um abismo. Esse embate de perspectivas também levanta a dúvida de quanto um hábito como a leitura pode influenciar nossa ventura.
Ajuda
O homem moderno que anda no mesmo ritmo desenfreado dos carros que cortam os centros urbanos, aqui podemos conhecer um exemplar desta classe. Um sujeito que visa tanto subir na vida em alta velocidade, desprovido da capacidade de apreciar a jornada e anestesiado para a beleza de toda amplitude da vida. Falta de escrúpulo e uma imaginação pobre, estas poucas palavras podem definir o indivíduo medíocre, síntese do homem-máquina. É um texto que fala sobre os malefícios da vida na era dos avanços a passos de gigantes, passos estes que frequentemente esmagam pessoas, e sobre como algumas escolhas podem tornar nossas vidas áridas e estéreis.
O ancião e a adolescente
Qual a projeção que os adolescentes atuais fazem para o futuro? Qual o interesse deles? O que buscam na interação com o mundo, quais seus instrumentos e o que fazem com os dados obtidos? A relação com a literatura de uma adolescente como vemos em grande quantidade, bastando sair de nossas casas, é o que lemos nessas páginas. A garota é uma figura que simultaneamente fica adorando, com uma dedicação religiosa, algumas coisas enquanto negligencia outras, mesmo após apelos. Antes dessa parte da narração o livreiro limítrofe nos faz sentir ainda mais próximos, como amigos de longa data, nos apresentando dessa vez os aposentos onde ele e sua esposa residem.
Depoimento da mulher do livreiro
Uma marca que me chamou muita atenção nessa história foi que a visitante da livraria recebeu um nome, apesar disso em primeiro momento parecer apenas um detalhe fiquei intrigado. Outras duas peculiaridades são: a conjugue do livreiro é quem nos guia e a pessoa que ganha uma porta para a livraria não pode atravessá-la por um motivo que prefiro ocultar, não quero lhes estragar a surpresa. A visitante e nós, ao seu lado, atravessamos o seu desenvolvimento literário e também pessoal. A conclusão é comovente.
O senhor da má educação
Toda a livraria tem suas regras e obviamente um bom trato social é uma excelente recomendação quando conversamos com o amistoso e simpático livreiro que tantas boas coisas pode propiciar. Reconheci rapidamente a primeira cena com a qual o visitante se defronta. Confesso que abri um sorriso de orelha a orelha. A batalha fantástica entre o visitante e o livreiro, que usam de exércitos Orcs à dragões, é sensacional! Essa foi uma merecida homenagem a um escritor que tantas mentes povoa.
O dilema do editor
Um dilema recai sobre os ombros de um sujeito com um bom propósito, uma missão, comparo eu, tão nobre quanto a de Frodo. Em plena era do “e-“ (e-mail, e-book, e-reader, e-commerce) como tratar um negócio cujos alicerces estão fundamentados em um formato muito anterior a tudo isso? Será que os novos utensílios do conhecimento são arqui-inimigos de seus antecessores? É inegável que cada nova geração esteja ainda mais mergulhada no mar de bits, negar isso e não tentar compreender este fenômeno é fomentar um gigantesco vácuo entre o ontem e o amanhã, entre a base e o cume de uma montanha.
Lapso criativo
Para as pessoas que são leitoras o constante trabalho imaginativo torna muito comum o hábito de ficar elaborando histórias. Contudo, muitas histórias sequer chegam a sentirem a luz solar, seja por desleixo, falta de incentivo ou desinteresse de seu “pai” ou “mãe”. Admito que eu mesmo já fui demasiadamente desleixado com histórias que se formaram em minha mente, mas não ganharam forma no papel. Todo escritor um dia ou outro passa pelo “abominável lapso da escrita”. Esse período de convalescença pode ser transformado em um espaço para reflexão, organização e pesquisa, ou seja, este mal é passível de ser convertido em um fortificante. Essas são algumas das reflexões que construímos em conjunto com uma escritora que entra na livraria em busca de uma solução.
Visitante inusitada
Curto e síntese da maneira como ainda são tratadas pessoas que apreciam a leitura, seja ela para entretenimento ou instrução técnica. Durante todo o ensino médio fui perseguido por gostar de ler e conversar sobre livro. O modo como visitante que se apresenta nesse trecho do livro trata a literatura é exatamente como fui tratado por tantas pessoas. É lamentável para mim quando vejo um espirito falido a tal ponto. Esse conto é uma denúncia de como pode ser um país em que a leitura não receba a devida atenção.
As mortes
A dor advinda do luto é algo comum a muitos de nós, quem nunca enfrentou este doloroso processo um dia ainda enfrentará, afinal ao longo da vida todos fazemos amizades, criamos laços e vivemos momentos que gostaríamos que fossem eternos ao lado de pessoas das quais jamais gostaríamos de nos separar. Essa é a condição humana, o fardo dos mortais. Contudo, sendo a vida tão curta, por que deveríamos perder grandes fatias absorvidos na morte? Não seria justamente a morta um motivo a mais para adorar a vida? E por que encarar a morte com tamanho medo? Obviamente não desejamos morrer neste exato momento, mas ela é parte do ciclo e ficar chorando por causa que as cortinas um dia irão se fechar é perder todo o espetáculo do qual ainda somos atores e autores. Tudo isso é passado pela ótica de uma jovem mulher.
O headbanger e o fantástico
O nosso entrevistado do momento é, como o título anuncia, um headbanger, um adulto próximo dos trinta anos e grande de fã de Heavy Metal (destaque para Therion, vou pesquisar mais sobre essa banda). O Heavy Metal é uma vertente muito transgressora da música, devido ao fato de algumas bandas falarem em suas letras sobre religiões milenares, histórias de demônios, dragões etc (claro que as bandas de metal não falam somente acerca disto) e também porque às vezes polemizar um pouco pode ajudar bandas a ganharem espaço na mídia e patrocínios, afinal manter uma banda não custa pouco, mas grande parte dessa imagem de “bando de satanistas”, para não falar coisa muito pior, dos headbangers é produto da propaganda de pessoas intolerantes e com interesses mascarados. Sendo o metal tão transgressor o que seria mais justo do que aliá-lo a uma narrativa que vai além do comum, banal, superficial? Texto muito bem regido.
Beber e conversar
Um visitante confabula com dois grandes mestres do horror, fascinante como mesmo sem revelar o nome dos escritores eles são mencionados por meio de suas características tão marcantes. A confabulação gira em torno dos dissabores amorosos, a vida como escritor, as más venturas (as enfermidades que sofreram, afinal até mesmo os mestres já passaram por maus bocados) e a fama, injustamente, só alcançada após as suas mortes. Ainda bem que hoje em dia o sol pode agraciar mais àqueles que são os conservadores da magia do mundo, mesmo com muitos pesares que ainda persistem. A atmosfera escura e o ar impregnado por vinho e tantos outros aromas mais singulares reflete magistralmente o estilo de vida dos autores que se fazem presentes. Esse conto me fez querer estar no lugar do visitante. Quantas vezes já desejamos conversar com os nossos amados escritores? Fico feliz por essa maravilha ser possível atualmente, em nosso próprio país, são tantos talentos para serem apreciados! Queria poder fazer uma pergunta aos escritores! E agradece-los por apesar de tudo nunca terem desistido de criar sonhos (pesadelos para outros).
O adeus
A parte fatídica chegou…precisamos dizer um adeus, mas prefiro interpretá-lo como uma até logo (novas visitas serão feitas no futuro), deixe um lenço ao seu alcance, nunca se sabe quando os olhos podem começar a marejar e lágrimas, quando menos esperamos, já estão escorrendo pela nossa face. Nesses momentos temos às vezes vontade de só dar um discreto adeus, virar as costas e ir para outro lugar, mas isso seria completamente deselegante com anfitriões tão cuidadosos e generosos. Esse é outro momento em que um nome é estabelecido para alguém, não direi quem é (suspense é a alma do negócio). Confesso que foi como dizer adeus para um amigo intimo que talvez nunca voltássemos a ver, esse é o poder dos bons amigos e dos bons livros. Porém não somos abandonados como qualquer coisa, antes de nos despedirmos desse amigo de algumas horas ou dias (a velocidade de leitura é que dirá o quanto tudo irá durar) somos brindados com um bônus, um brinde de saúde e vida longa e próspera à literatura e suas maravilhas.
Bônus – Vampiros me mordam!
Vocês que é fã de zumbis, vampiros, lobisomens, fantasmas etc o que acharia de ter uma oportunidade de viver uma aventura com essas criaturas? Os riscos existiriam, mas a diversão compensaria isso. Correto? Essa visita extra é também uma homenagem de Alfer Medeiros à outro autor nacional, Adriano Siqueira, (preciso ler este também!) e a sua paixão pelas criaturas da noite. O humor ácido contra a idolatria “teen” não é economizado e risadas são inevitáveis. Uma chave de ouro!
Este livro é maravilhoso! Uma experiência espiritual para àqueles que fazem questão de passarem horas devorando livros dos mais diversos estilos e gêneros! Pelo jeito de escrever do Alfer Medeiros nesse livro podemos concluir que ele é sem dúvida alguma um dos autores brasileiros que ainda vão nos presentear com muitas letras encantadoras! Recomendo! Ganha cinco selos cabulosos!
Entrevista com o autor
Eu: Primeiramente gostaria de agradecer essa oportunidade que me concedeu e dizer que me sinto muito feliz em poder dialogar com um autor que conheci recentemente e que já passei a adorar! Bem, sem mais rodeios aqui vão as perguntas (espero estar à altura de sua obra “Livraria Limítrofe” no nível das perguntas)…
Alfer Medeiros: Eu agradeço o interesse e esforço em conhecer mais sobre os meus projetos! Vamos às respostas.
1 – Lembra-se qual foi a sua primeira visita à Livraria Limítrofe (seu primeiro livro)? Quais impressões isso deixou em você?
Alfer Medeiros: Eu comecei a apreciar a literatura na infância, porém com livros juvenis e adultos. Dessa fase inicial de leituras, os autores mais marcantes são Julio Verne e Agatha Christie – que inclusive são homenageados no primeiro volume de Livraria Limítrofe (O Adeus).
2 – Como o conceito da Livraria Limítrofe chegou à sua mente? Como foi o processo de criação?
Alfer Medeiros: Foi uma ideia repentina, inesperada e descontrolada, explicada com mais detalhes neste link: http://livrarialimitrofe.blogspot.com/2011/03/de-onde-surgiu-ideia.html. Durante o processo de criação, eu imaginava que tipo de referências literárias poderiam ser agrupadas em uma trama em comum, depois definia qual perfil de pessoa poderia conceber essa situação e, por fim, encaixava tudo isso dentro do cenário da Livraria. Foi um processo muito divertido!
3 – Pelo que notei você nutre uma grande preocupação com o incentivo à leitura desde o berço, tornar para a criança a leitura um hábito tão comum quanto beber água, isso se evidencia em “Dando à luz”, você tem filhos correto? O que eles acham de ter um pai escritor? Como você mostra a leitura para eles e como reagem?
Alfer Medeiros: Tenho uma filha que está para completar três anos de idade. Ela convive com os livros desde sempre, pois eu fiz questão de mantê-la na convivência com os volumes impressos, desde aqueles de borracha para usar no banho do bebê até os livros da minha própria coleção. Acredito que ela será uma boa leitora no futuro!
4 – Ao longo do livro você não dialoga somente com as plataformas mais tradicionais de leitura (livros), mas assume também proximidade e confabulações com as HQs, o cinema e a música. Quais são seus grandes ídolos nessas outras plataformas e como eles influenciaram a sua escrita?
Alfer Medeiros: Sou um grande apreciador de música, literatura, cinema e diversas outras expressões artísticas. Não poderia deixar de usar todas essas referências nos meus trabalhos escritos, e lanço mão desse recurso sempre que surge naturalmente. Listar todos os meus “mestres” é difícil, posso apenas dizer que minhas fontes de inspiração vão de Julio Verne a Neil Gaiman; de Muddy Waters a Cannibal Corpse; de Hitchcock a Tarantino. Tem muita coisa boa nesse caldeirão! rs
5 – Em “Duas perspectivas” você fala sobre o conflito entre a visão de um mundo sem leitura como hábito e outro que completamente ao contrário a adora. O quanto você acha que a leitura pode transformar o mundo? E como você percebe a realidade de nosso país onde o analfabetismo é tão alto?
Alfer Medeiros: Ler não é simplesmente assimilar informação, é também desenvolver estruturas cerebrais específicas, ligadas a linguagem, emoções e aprendizado. A mente deve ser exercitada, até mais que o corpo. Eu acho que o hábito da leitura é essencial, porque em algum momento da sua vida você precisará ter acesso a um texto, seja por diversão ou necessidade. O problema de analfabetismo no Brasil é preocupante, além de outra parcela da população, composta por analfabetos funcionais, que não entra nas estatísticas mas que também é um problema sério.
6 – Na atualidade as grandes cidades parecem cada vez mais prestes a entrar na velocidade da luz, as metrópoles querem correr cada vez mais rápido, mas acabam ficando em engarrafamentos, considerando esse cenário como acha que a literatura ainda pode ter seu espaço garantido para as futuras gerações?
Alfer Medeiros: O livro é um universo cuidadosamente aprisionado, aguardando a mente do leitor para criar vida, se expandir. Sempre que houver uma pessoa ávida por aventuras (dentro e fora da sua realidade) a literatura estará presente. Isso independe do formato ou tecnologia de disponibilização de conteúdo.
7 – Os adolescentes de hoje possuem parâmetros, em sua grande porcentagem, completamente distintos de seus e isso se reflete na literatura também. A atenção dos jovens à algo parece cada vez mais passageira. Os fenômenos “teen” estão bombando. A empatia com o mundo em que vivem parece estar em uma medida minima, não vemos muitas manifestações movidas por jovens que querem expressar sua opinião acerca do país ou comunidade em que vivem. O cenário musical brasileiro está dominado por coisas de imaginação pobre. Somando isto tudo, como você explicaria esse fenômeno?
Alfer Medeiros: As novas gerações estão acostumadas a fazer muitas coisas ao mesmo tempo, sendo assim deficientes em habilidades como foco, concentração e persistência. A consequência disso é a falta de dedicação em atividades únicas, e tudo passa a ser descartável, efêmero. É temeroso pensar no que isso pode trazer no futuro.
8 – Um detalhe que me chamou a atenção em “Livraria Limítrofe” foi o fato de na maioria dos contos os personagens não serem dotados de nomes. Qual o motivo de você ter feito isso? Foi com o objetivo de tornar a imersão da experiência maior? Somente nos contos “Depoimento da mulher do livreiro” e “O adeus” dois personagens ganham nome e ambos estão em situações de fronteira (ambas são “despedidas”), prestes a passaram para um outro passo em seus caminhos, isso tem ligação com essas personagens ganharem um nome?
Alfer Medeiros: O conteúdo de Livraria Limítrofe tem muito de “conheço alguém assim” e “já vivenciei algo parecido”. O “anonimato” dos personagens ajuda a intensificar essa sensação. As raras citações de nomes são pontos marcantes na trama, uma chegada e uma saída. Eu quis diferenciá-las por conta disso
9 – Por último gostaria de perguntar qual as suas projeções para o futuro, se possui planos para elaborar experiências multi-plataformas com seus livros (sites com ARGs por exemplo) e qual sua perspectiva com toda essa movimentação do mercado editorial brasileiro revelando grandes talentos e a interação entre fãs e autores nas redes sociais?
Alfer Medeiros: Tudo o que produzo é muito espontâneo, e o Livraria Limítrofe é um bom exemplo disso. Não tenho planos de muito longo prazo, preocupo-me apenas em manter a mente madura para conceber novas histórias. Não ambiciono muita coisa com a escrita, encaro-a basicamente como uma grande diversão. A única certeza que tenho é o desejo de continuar escrevendo, e os projetos Fúria Lupina e Livraria Limítrofe me ajudarão bastante a permanecer produzindo continuamente.