Fantasia, sobrenatural, ficção científica, terror… e diversidade. A proposta ousada, posso afirmar, da editora Tarja ao produzir A Fantástica Literatura Queer foi aliar diversos gêneros com um pano de fundo homoerótico. São ao todo 7 contos abordando não apenas os mais diversos temas como também os mais diversos casais. No início, eu e Serena achamos que O livro Vermelho seria dedicado aos romances homoeróticos femininos e que o Laranja (em posse da Serena e que em breve fará a sua resenha – né Serena?) se dedicaria aos relacionamentos homoafetivos masculinos, porém em poucas páginas percebe-se o engano e no fundo posso admitir que foi melhor assim, já que a escrita refinada e a maneira como as histórias caminham superam qualquer preconceito. A contista Camila Fernandes no término do seu conto coloca uma frase que define bem a proposta da Tarja “não são histórias sobre diversidade sexual, mas com diversidade sexual”.
Faz sentido? Não se criaram histórias para cuminar em cenas de relacionamentos homoeróticos, mas os relacionamentos estão lá, contudo a trama, o enredo continua sendo o principal de cada conto. Este é o diferencial. Como disse Paulo Elache, no CabulosoCast 21b – História da Ficção Científica: “A ficção existe para que os escritores possam experimentar”. E é isso que vemos nas páginas de A Fantástica Literatura Queer, uma grande experimentação de seus criadores que tem como finalidade não apenas tratar o universo homoerótico com naturalidade (como deveria ser no mundo “real”), mas também desenvolver histórias cativantes com personagem envolventes. Os contos são, como já disse, discorridos nos mais diversos gêneros o que permite aos seus criadores explorarem os limites do fantástico. (Caramba! Estou inspirado hoje!).
Vamos a descrição e comentários de cada conto (não há spoilers, fiquem tranquilos).
Vou principiar elogiando a edição da Tarja que alternou contos longos e curtos no decorrer da obra. Ponto positivo, já que quando você conclui a leitura de um conto longo acaba lendo o curto em seguida o que acaba gerando a leitura de dois contos “a cada sentada”. Como as histórias são muito interessantes houve noites que cheguei a ler 4 contos numa noite. (Sim eu sei que leio devagar!) Ou seja, em uma única noite li metade do livro, legal, né? O que também é um incentivo aos que “acham ler chato”, por que se lê muito em pouco tempo. Outro ponto de destaque é quanto a liberdade dos editores. Pois os contos não se assemelham, portanto temos uma Diversidade também na criação dos próprios contos o que nos permite uma incursão pelos diversos gêneros de fantasia possíveis.
CONTO 1: MORGANA MEMPHIS CONTRA A IRMANDADE GRAVIBRANÂNICA DE ALLIAH
Conto muito interessante inspirado na HQ Transmetropolitan do Warren Ellis (que se você não conhece fique tranquilo, pois não prejudica a leitura). Nele conhecemos Morgana Memphis uma ex-vocalista de uma banda muito famosa, mas não para ela. Que se vê envolvida numa conspiração quando sua namorada lhe manda uma mensagem pedindo ajuda.
Algo que me chamou bastante atenção na mundo criado pela Alliah foi o futuro caótico e instável que lembra muito as literaturas distópicas e histórias cyberpunks. Fora que vemos humanos transmorfos e que sofreram mudanças genéticas como incorporar DNA alienígena por puro modismo. Vale a pena ler!
NOTA:
5 selinhos cabulosos
CONTO 2: É FODA EXISTIR DA CAMILA FERNANDES
O final deste conto vai derrubar muita gente. Não posso contar claro, mas confesso que me pegou de surpresa. Nele temos duas amigas que se apaixonam e por causa conta do preconceito decidem tirar a própria vida… se você acha que sabe como a história vai acabar faço o convite a ler o conto da Camila.
NOTA:
4,5 selinhos cabulosos
CONTO 3: EU TENHO UM DISCO VOADOR NA GARAGEM DE CESAR SINICIO MARQUES
Fala sobre 1º contato. Um grupo de adolescentes que decide contatar seres de outro planeta; uma das metáforas mais fodásticas de toda a coletânea e que por incrível de pareça é tão bem feita que você acaba se apegando aos personagens, aos acontecimentos, menos a ela (a metáfora) e só no final é que a ficha cai. Uma história divertida, mas carente de ação no final. Os sustos que os personagens tomam e as situações que fogem ao controle tem soluções rápidas e fáceis o que pode deixar o leitor com a sensação de “Ué! Já acabou?”.
NOTA:
3,5 selinhos cabulosos
CONTO 4: ALTERNATIVA A DE ROGÉRIO PAULO VIEIRA
Excelente conto de ficção científica com uma reviravolta no final que me fez pensar: “Que sacada inteligente!”. Uma tripulante de uma nave espacial é despertada de seu sono pelo computador central antes do tempo. O que será que aconteceu com a espaçonave para que o computador tomasse essa decisão?
Com uma escrita fluída e uma sucessão de eventos de deixar o leitor preso em cada página, Rogério conquista pela precisão. Parece dominar toda a trama e saber exatamente o começo, o meio e o fim do conto. Para os fãs de ficção científica é um texto maravilhoso e encantador em todos os aspectos. Vale cada linha.
NOTA:
5 selinhos cabulosos
CONTO 5: DISTÚRBIA DE MÔNICA MALHEIROS
Talvez o conto mais hot desse livro envolvendo relacionamento homoafetivo masculino. Um jogador aposta a própria alma num jogo de pôlquer contra um misterioso adversário. O que acontecerá se ele perder?
A própria autor diz no término do conto que “já escrevia histórias nesta temática”, e por um dos personagens ser nipônico posso afirmar, levando em consideração que não conheço a nenhum outro trabalho da autora, que ela deva ter contato (e produza) fanfics yaoi, pois, para quem conhece este gênero dos mangás, há toda uma similaridade. Mas, ela consegue inicialmente colocar elementos de terror ao melhor estilo Silent Hill, um outro atrativo, portanto, para os futuros leitores deste conto.
NOTA:
4 selinhos cabuloso
CONTO 6: EROS DE LAURA VALENÇA GUERRA
O conto relata o encontro de um rapaz com um anjo. O que poderá acontecer a partir daí? É curto e acho que poderia ser melhor desenvolvido se a autora tivesse mais páginas a frente. O fina foi muito abrupto e fiquei um pouco confuso, mas é muito bem escrito.
NOTA:
3 selinhos cabulosos
CONTO 7: SAL E FOGO DE CRISTINA LASAITIS
Não gosto de autores que mesclam descrição física com descrição subjetiva. Para mim, em minha mera e humilde opinião, prejudica e dificulta a leitura tornando-a confusa e imprecisa. Em muitos momentos, fiquei deduzindo o que estava acontecendo e tendo compreender as passagens e os eventos em meio a elucubrações da personagem principal. No texto de Cristina conhecemos duas irmãs que vivem em Sodoma, a cidade bíblica, e que sabemos (isto não é spoiler! Pelo amor de Deus!) será destruída por anjos enviados por Deus.
Como EU e somente EU não gosto desse tipo de estrutura textual a nota abaixo é mais do que pessoal e peço aos leitores que julguem por si só. Foi o conto que mais demorei para ler e não me empolgou ou me deixou frenético para saber o final. Porém, os leitores devem julgar.
NOTA:
2 selinhos cabulosos
MÉDIA DA COLETÊNEA:
TRECHOS QUE O LUCIEN GOSTOU:
AMADAHY ENVIA PEPIDO DE SOCORRO
– Merda… falou Morgana, ajeitando o cabelo. – O que essa louca fez agora?
– Você não vai embora vai? – indagou Lisa com olhos suplicantes, já sentada na cama e aninhando-se nos lençóis.
– Ela precisa de mim. – respondeu virando o rosto e depois indo em direção às roupas jogadas no chão ali perto. – Esse vortex ambulante de confusão sempre precisa de mim.
Pág. 16
Silvana despertou, desorientada, com a visão embaçada sentido frio. “Onde estou? Esta não é minha cama”, foram as primeiras palavras coerentes que conseguiu, após alguns minutos, formar em sua mente. (…) Percebeu também que estava submersa em algum líquido, mas isto não lhe pareceu estranho, nem mesmo o fato de estar respirando sem dificuldade dentro dele. Em mais alguns instantes, todo o líquido desapareceu, bombeado. Ela tossiu algumas vezes eliminando-o de suas vias respiratórias. (…) Assim que o sistema detectou que ela estava lúcida o bastante abriu a tampa transparente do casulo…
Pág. 97