SINOPSE
A história de Lerulian ocorre em um tempo e espaço imaginário, um lugar inspirado no Planeta Terra e habitado por milhares de criaturas fantásticas. O Livro narra o conflito do jovem ferreiro Vaan Sorg, que do dia para a noite é obrigado a sair da Cidade dos Homens a mando do Rei Ulgl Aisen e encontrar, na Cidade de Gravelt, um rapaz chamado Axel Amagog. Ao longo do caminho o rapaz encontra o mercenário exilado Rus Kaisir, que cumprindo ordens do Rei lhe entrega um pacote secreto que não deveria ser aberto por nenhum motivo até chegarem em Gravelt. Em pouco tempo, Sorg descobre que é uma peça essencial de um quebra-cabeça gigantesco, e nada é o que parece ser. É iniciada uma mortal corrida contra o tempo, onde uma espada decidirá quem irá ganhar ou perder. Alianças são formadas, cidades destruidas e amizades construídas ao longo do tempo. Em breve uma guerra estourará, e uma épica luta por poder, vingança e liberdade começará a ser travada pelo continente de Yvion. De que lado você está? Vida longa a Mão Branca!
Terminei o livro dia 09/10 (sábado), mas somente agora decidi escrever esta resenha. Os motivos que me levaram a reter o texto foram vários, contudo o ponto-chave foi o meu pouco conhecimento da literatura de “capa e espada”. Como meu leque de leituras deste gênero é escasso questionei muito minhas críticas. Tenho por mim que os únicos livros nesta temática que li foram os da trilogia O ciclo da herança (Saga Eragon), portanto excluo dessas leituras livros clássicos como Senhor dos Anéis (pois só li O Hobbit) e, por isso, decidi conduzir esta resenha de forma diferente. Vou dividi-la em duas partes na 1ª mostrarei os aspectos positivos, na 2ª os negativos.
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ASPECTOS POSITIVOS
- O Dan é um autor muito criativo, disto ninguém pode duvidar. Fiquei surpreso ao vê-lo incluir índios na história (não estranhe, pois são seres místicos que interagem perfeitamente com a narrativa). Além trazer outros personagem que não vemos citados nos livros de “capa e espada”. É visível que em vez de trazer os antigos conceitos ele procurou, não sei se propositalmente, fugir de certos personagens-chaves que as narrativas de fantasia sempre fazem uso.
- A capa também é um dos destaques positivos do livro, principalmente depois que adicionei-a no meu skoob
e percebi existir uma outra versão com uma mão branca pintada numa parede (ou porta de madeira). Acho que o tom marrom e o mapa de fundo fazem jus ao clima aventuresco e sombrio da história do Dan.
- Gostei do mapa da província de Ilen-Hol. Sou o típico leitor que acompanha a jornada olhando-o constantemente. Certas pessoas afirmam ser desnecessário fazê-lo, mas acho fundamental, pois se levarmos em consideração que esta história “já aconteceu”, logo é importante saber a distância percorrida os lugares visitados é o mesmo que ocorre quando em um dos filmes do Indiana Jones somos levados pelo ponto vermelho através do mapa dando uma idéia para quem assiste dos deslocamentos feitos pelo personagem (e quanto tempo ele demora para sair de um lugar a outro). Os desenhos são claros e os nomes dados aos lugares são interessantes e combinam com os outros do universo criado pelo autor. Não há discrepâncias.
- A revisão do livro foi muito boa. Não há muitos erros de digitação. Encontramos em dado momento uns “aa” ou “sss”, mas o livro foi bem editado neste aspecto.
- A história é bem desenvolvida. Com combates interessantes e situações limites de deixar o leitor rezando para que os personagens saiam vivos. Como eu disse no início, o Dan tem uma criatividade ímpar e há uma cena de luta entre uns gigantes que são guiados por pigmeus contra um grupo de silcs (como se fossem orks da província de Ilen-Hol). O combate é fantástico e envolve todos os personagens que tem a chance de por seus talentos à prova. É de tirar o fôlego.
ASPECTOS NEGATIVOS
Bem, e cheguei ao momento derradeiro. Fugi, fugi, fugi, mas aqui estou. Gostaria de iniciar frisando que talvez minhas críticas sejam pessoais, já que não tenho a literatura de “capa e espada” como uma de minhas leituras mais recorrentes, por isso o conteúdo a seguir deve ser encarado como um ponto de vista e não (JAMAIS) como uma opinião definitiva. Cabe ao leitor, ler a obra e tirar suas próprias impressões.
- Como disse no tópico 1, a criatividade do Dan é um dos pontos fortes do livro, mas ao mesmo tempo parece ser ai que começam os problemas. Os índios, por exemplo, são belos e imortais como os Elfos. O Christopher Paolini usou a mesma mitologia criada por Tolkien nos seus livros, por isso apesar de ter gostado de ver os índios como personagens, percebi que se você substituir o nome índio por elfo aparentemente teríamos o mesmo efeito sobre a narrativa. Ainda neste mesmo tópico, a história é narrada por alguém que não conhecemos. Em alguns momentos, o tal narrador parece saber mais do que nós. Ouvi, acho que a Serena, comentar que o Tolkien faz o mesmo em seus livros. Percebi em O Hobbit esta característica também, o que faz com que a crítica dada a cima seja mais relevante, já que o escritor de O senhor dos anéis, parece ter sido uma das inspirações do autor de Lerulian.
CUIDADO, POIS HÁ SPOILERS A PARTIR DESTE PONTO
- O subtítulo também não condiz com a história, pois “a queda” só ocorre no final do livro, no epílogo. Outro ponto que segue nesta mesma linha de raciocínio, é quanto a trama. Se na Resenha de Cidade das Trevas, o fato de até a metade do livro não possuirmos nenhuma informação do que ocorre com os personagens ser uma vantagens, no livro do Dan torna-se uma desvantagens, pois o autor carrega o mistério até a última página. Quando terminei a leitura percebi que muito pouco foi explicado. Claro que sei que o autor explicará no segundo volume, mas comecei a desenvolver o seguinte raciocínio: os livros de literatura fantástica nacional sofrem muito preconceito, diferente de outros países, como nos Estados Unidos onde as prateleiras de fantasy são repletas, aqui o público tradicionalista e algumas livrarias ainda olham torto quando percebem que se trata deste gênero. Daí fico a imaginar alguém passeando pelos corredores e encontrando o livro Lerulian ao acaso. Ele lê a sinopse gosta e leva. Quando termina a leitura descobre que terá que comprar outro volume (detalhe que não há nenhuma informação no livro que explicite este ponto). Falo isto, pois já senti o mesmo quando cheguei ao término de Brisingr e descobri que teria de comprar mais um volume para concluir a história. A frustração foi tamanha que demorei dias para escrever a resenha do último livro do Ciclo da Herança. É esta a minha preocupação. O clima de mistério criado me deixo louco para começar a leitura do segundo livro. Como blogueiro sei que o Dan tratará nesta continuação respostas e explicitações para muitos enigmas criados em Lerulian.
- Quem está se perguntando: “E o que você escreveu sobre a trama nos aspectos positivos, foi mentira?” Não, de modo algum! A história é bem narrada o começo, o meio e o fim são escritos com maestria. O talento do Dan é inquestionável! A ação desenvolve-se na hora certa, os diálogos são bem construídos e condizem com a personalidade dos personagens, as descrições são claras, é possível sentir o mundo criado por ele. Ninguém pode esquecer, enquanto estiver lendo Lerulian que o fato deste jovem autor ter chegado a publicar o livro é digno de respeito perante sua obra. Principalmente sabendo que é o Brasil de que falamos. Como disse, antes, um país onde existem editoras, livrarias e leitores que viram a cara quando vêem um livro de fantasia publicado por um autor nacional. Por isso reforço que as críticas são pessoais. Estou tentando me passar por um leitor “leigo”, imaginando que comprei o livro por livre e espontânea vontade. E que se assim o tivesse feito talvez diria isto.
- Outro problema é com o personagem principal: o Vaan Sorg. Encontrei uma contradição que pode soar sutil, mas trata-se de um jogo simples de linguagem. Quando o autor o descreve no início do livro diz que apesar de ter um habilidoso ferreiro como pai, Sorg não mostra talento para dobrar o aço, mas tem um dom com a espada. E é assim que Dan o descreve:
“Sorg, em contrapartida, não era muito habilidoso em fazer espadas, mas tinha um talento quase inacreditável para usá-las.
Nunca havia tido treinamento em todos esses dezessete anos de vida (embora lutasse como um verdadeiro guerreiro), e somente algumas poucas vezes seu pai lhe ensinara alguns movimentos quando sobrava algum tempo. Mas nada mais do que isso.
Seu talento parecia vir de outro lugar. Era quase instintiva a maneira que ele brandia a espada na mão.”
Pág. 22
E quase no final do livro aparece o seguinte relato:
“No final da tarde, quando o sol já se escondia além das montanhas geladas da província de Sybila, Sorg treinava com Rus, Null e Lothar seus movimentos com a espada, e estava ficando cada vez melhor. A cada pôr do sol diante da imensa pradaria amarela ele aprimorava seus movimentos com a espada, ficando mais rápido e mais perspicaz.”
Pág. 265
- Eu trocaria o verbo “treinava” por “praticava”, e concordo quando ele termina este parágrafo com “aprimorava”, pois aprimorar é melhorar algo que já se sabe. É tornar melhor, lapidar. Se o Sorg “lutava como um verdadeiro guerreiro” ele não precisa de treinamento, mas de aprimoramento, pois seu inatismo cria vícios e cacoetes que os verdadeiros guerreiros não possuem e, portanto, ele estaria corrigindo estes.
- Fora isto o próprio personagem não me foi cativante. Apesar de ser um adolescente de dezessete anos, Sorg muitas vezes age como se não possuísse noção dos perigos que o cercam. Em dado momento é atacado por um grupo de Silcs e salvo, em seguida capturado, por um grupo de, aparentemente, guerreiros mercenários. Curiosamente Sorg age com petulância e arrogância, como se detivesse o controle da situação e ele toma esta mesma atitude em tantos outros momentos. Essa característica mais parecia a de um príncipe criado no palácio cheio de mimos e não do filho de um humilde ferreiro.
É interessante esclarecer que qualquer comentário do tipo: “Não vou ler este livro”, ou “Depois que li sua resenha perdi o interesse”, não fazem jus ao propósito de uma resenha. O texto que você acabou de ler é a opinião de um blogueiro apaixonado por livros, não de um crítico ou especialista em literatura. E mesmo que assim o fosse ainda não é uma desculpa para deixar de ler Lerulian – A queda da Cidade dos Homens (editora Novo Século), seria até importante que o leitor cabuloso ao término deste texto começasse a lê-lo e deixasse aqui, em seguida, as suas próprias impressões.
O livro é muito bem escrito. O Dan possui um talento excepcional para narrar neste universo de “capa e espada”; ele está em casa e seu texto flui como águas caudalosas em um rio calmo. Para quem gosta do gênero, portanto, é leitura indispensável e tenho certeza que você terá orgulho de tê-lo em sua prateleira.
AVALIAÇÃO:
Trechos que o Lucien gostou:
“No começo, antes mesmo da Era das Sombras cair sobre os deuses, antes de os homens e suas guerras infundadas sequer pensarem em existir, Fal-Hal, o grande criador, presenteou os três filhos com três diferentes armas.”
Pág. 13
“Sorg suava frio e começava a se sentir quente, febril. Seus olhos não tinham mais forças para se levantar e seu corpo tremia constantemente. A dor em seu braço parecia irreal.
Rus respirou e pensou por um momento. Alguma coisa tinha que de ser feita.
– Temos de cortá-lo – falou Rus ao rapaz, que respirava com dificuldade.”
Pág. 137
“Seus pés pisaram em falso quando tentou recuar e seu corpo caiu no chão como um pedação de carne morta. A espada malfeita do silc passava rente a seu corpo a cada golpe; Sorg já conseguia sentir a dor de ser atingido mais uma vez e isso fazia seu coração encher suas veias de sangue.”
Pág. 169