Saramago, prêmio Nobel de literatura em língua portuguesa em 1998, faleceu no dia 18 de julho deste ano, contudo sua obra vive para propagar a todos os últimos suspiros do que uma literatura é capaz de alcança.
Com a obra que lhe deu a indicação e a premiação o escritor português vai longe e busca trazer um Cristo humano e místico. Sem as alegorias bíblicas Saramago mostra realmente o que significa ser o escolhido.
Minha mãe (a Sra. Cabulosa) sempre dizia que Saramago deveria se divertir enquanto escrevia e isso fica visível em O evangelho segundo Jesus Cristo. Sua ironia perpassa as páginas e invade o leitor com um vocabulário e uma peripécia de narrar com “palavras que fora escolhidas para ocupar aquele espaço”. Por ser ateu convicto, essa obra torna-se interessante exatamente por isso, confuso? Não se trata de um texto teológico e, portanto, escrito para mostrar o quanto a figura de Cristo é importante para os católicos, muito longe disso O evangelho é um livro que mostra como Deus pode ser “Deus” realmente e como viver sobre um destino não é algo tão santificado assim.
O livro que li foi publicado pela editora Companhia de bolso comecei a lê-lo duas vezes e por duas vezes o abandonei a letra pequena e o volume de páginas na constavam com as viagens de ônibus para o trabalho. Não! O evangelho reclamava sem próprio tempo e foi em minhas férias que consegui digeri aquela obra magnífica de 374 páginas.
Como é história conhecida por todos (católicos e não católicos), Saramago não inicia pelo intróito, mas pelo fim. No início do livro, Cristo é crucificado aos seus pés sua mãe, Maria, e como o autor mesmo descreve “uma outra Maria”, de Madalena que vem seguida de uma descrição sarcástica de suas vestes “com decote” e “roupas mais presas ao corpo”. Muito antes de Dan Brown causar polêmica com a possível relação entre Jesus e Maria de Madalena, o prêmio Nobel já o fizera sem nenhuma insinuação ou usando a história para contar outra história. Em O evangelho, há várias passagens entre os personagens e uma das mais fascinantes é como eles se encontraram e a primeira noite de amor dos dois que é relatada com simplicidade e beleza.
Saramago consegue emocionar o leitor em vários pequenos momentos. Jesus contesta o tempo todo seu futuro divino e o quanto isso realmente é algo bom para a humanidade. Chamo a atenção em especial para uma passagem que o leitor deve aguardar ansioso: um longo diálogo de várias páginas entre Deus, Jesus e o diabo. Onde, também, já antecipando Neil Gaiman, o escritor mostra a possibilidade de Deus não ser o único deus.
Diferente de Ensaio sobre a cegueira, acho quase impossível uma adaptação cinematográfica de O evangelho segundo Jesus Cristo, mas sonhar não é proibido. O livro vale a pena por cada página e cada palavra. É o que podemos chamar de obra-prima onde nada falta, mas cada informação se completa. Saramago morreu, contudo sua obra está eternizada nos cânones da literatura.
Veja um vídeo de Saramaga falando sobre a bíblia:
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=ihnAvfbX4Rk&fs=1&hl=pt_BR]