[Resenha] Lebre da Madrugada – Arthur Malvavisco

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Capa do livro. Ilustração com um fundo roxo. Em primeiro plano, uma lebre branca, ao redor dele, ocupando o restante da capa, diversos objetos, uma garrafa, duas flores distintas, uma pena escura, uma pinça, uma tesoura e uma faca com cabo estilizado. No topo, o título do livro em branco com fonte estilizada.
Capa do livro. Ilustração com um fundo roxo. Em primeiro plano, uma lebre branca, ao redor dele, ocupando o restante da capa, diversos objetos, uma garrafa, duas flores distintas, uma pena escura, uma pinça, uma tesoura e uma faca com cabo estilizado. No topo, o título do livro em branco com fonte estilizada.

Lebre da Madrugada é o primeiro livro de uma duologia de fantasia nacional e facilmente se tornou um das melhores leituras do ano.

Andras é um curandeiro e estudioso que vive à parte das outras pessoas no vilarejo de Rosseles, em Solária, e ele não se importa muito com isso.

Depois dos problemas que teve com a Vigília, a instituição que o excomungou por práticas hereges, o rapaz prefere mesmo passar despercebido.

Um dia, porém, ele encontra um cavaleiro ferido que logo reconhece ser um iluriano, parte do povo inimigo que vive em guerra com Solária. Andras deveria deixá-lo morrer, ele deveria entregá-lo para a Vigília, mas Andras é um médico, então ele resolve salvar sua vida.

Aeselir não confia nem um pouco no jovem, mas também não está em condições de continuar fugindo pelas terrar inimigas sozinho. Ele é um pária para seu próprio povo e precisa se recuperar dos anos de prisão nas mãos dos solarianos. Mas então, os acontecimentos forçam Andras e Aeselir a fugirem juntos e a convivência forçada vai levar os dois a uma proximidade, amizade e algo ainda maior.

Mais uma fantasia medieval?

Se tem esperado livros inovadores de fantasia, que fujam do modelo eurocêntrico mais difundido, mas Lebre da Madrugada não é assim e está tudo bem.

Apesar de elementos que vemos tão comumente em outras obras, como um reino com ares de Europa medieval e uma instituição religiosa autoritária que dita todas as regras e normas, Arthur Malvavisco criou uma história só sua e a executou de maneira maravilhosa.

Eu adorei toda a construção e ambientação. Solária e Ilúria são dois reinos que se interpõe um ao outro diametralmente, com uma longa história de invasões e guerras. Demorou um pouco para entender como tudo funcionava e as pequenas informações que eram colocadas ao longo da leitura fazendo com que o leitor fosse tomando ao poucos conhecimento desse universo fizeram com que a leitura se tornasse mais rica e instigante. Isso sem contar com toda a magia que envolve os Eclipses que ocorrem a cada década e o poder dos Oráculos.

Com certeza, é o tipo de livro que cresce com uma releitura justamente para perceber detalhes desse mundo que em um primeiro momento não percebemos o quanto era importante.

Mas além disso, esse é um livro que se destaca pelos personagens, especialmente o protagonista. Andras tem um ar de jovem mago Merlin que eu simplesmente adorei. Ele é prático, coloca a busca pelo conhecimento acima de tudo, inclusive sua própria segurança, mas é totalmente empático para com todos os seres, principalmente os animais. Como não amar a relação dele com seu “cachorrinho” que é meio lobo e bota medo em todo mundo?

Além disso, não é apenas por suas práticas condenáveis ao estudar cadáveres que Andras deve se manter fora do radar da Vigília. Ele escuta constantemente um chamado, um canto vindo da floresta e sabe que não pode se deixar levar por essa escuridão.

Solária e Ilúria

Em contra parte para nosso solariano, temos Aeselir. Ele é o típico personagem rabugento, com passado misterioso e acessos de raiva. Em um primeiro momento, inclusive, é até assustador a maneira com que ele trata Andras.

Aeselir tem suas próprias motivações e percebe que Andras, com seu chamado para o canto da floresta, pode ser uma arma contra seus inimigos. A questão é se ele está disposto a se corromper ainda mais e usá-lo dessa maneira.

Eu não senti que o romance é o aspecto mais forte do livro, mas sem dúvida é muito gostoso acompanhar a mudança na relação dos dois. Quem gosta de algo bem lento, o bom slow burn, vai adorar esse livro. É tudo sutil e bem construído.

Aliás, essa provavelmente é minha maior reclamação do livro. Talvez a culpa seja minha por ter criado expectativas demais, mas acredito que os personagens poderiam ter se aberto mais sobre seus sentimentos.

Outro ponto é que apesar dos personagens secundários até serem interessantes, nenhum se destaca absurdamente e o principal vilão, é um tanto caricato.

Mas espero que no segundo livros esses dois aspectos sejam melhor abordados e desenvolvidos.

Mas Lebre da Madrugada é bom?

Sem dúvida nenhuma. Eu adorei escrita, construção de mundo e protagonistas. Estou muito ansiosa pela continuação que deve sair ainda em 2022.

Obs: essa é uma informação que logo ficará datada, mas no momento de escrita dessa resenha, o segundo livro, Príncipe Partido, está em financiamento coletivo.

Nota

Cinco selos cabulosos. A maior nota do site.
Cinco selos cabulosos. A maior nota do site.

Garanta a sua cópia de “Lebre da Madrugada”!

Ficha Técnica

Título: Lebre da Madrugada (Senhores de Sombra e Prata 01)
Autor: Arthur Malvavisco
Editora: Corvus
Ano: 2022
Páginas: 312
ISBN: 9786584667037
Sinopse: É o encerramento da década. Todos esperam um desastre: em Solária, as décadas normalmente terminam em um Eclipse, um terrível evento mágico que pode destruir cidades.

Na fortaleza de Rosseles, onde uma grande muralha marca a fronteira entre reinos civilizados e os ermos selvagens, Andras tem preocupações mais imediatas: ele é um médico e cientista vivendo em uma cidade controlada pela Vigília, a mesma organização religiosa que o excomungou por exumar cadáveres para seus estudos.

Como se não bastasse, ele ainda tem de guardar segredo sobre a canção da floresta, uma sinfonia que o chama para as sombras além das muralhas e ameaça roubar sua sanidade. Quando um cavaleiro ferido desaba à sua porta, Andras se vê na companhia de um homem estranho: Aeselir Hrád, um guerreiro de outro mundo, um fugitivo perigoso e de passado violento, mas que oferece ajuda ao médico no momento em que a Vigília ameaça sua vida. Feral e de temperamento explosivo, Aeselir parece fugir tanto de seus inimigos quanto de si mesmo.

Juntos, eles terão de sobreviver em ermos devastados por guerras e acidentes mágicos. Terão de lutar para escapar aos seus inimigos, mas também para compreender as diferenças entre si, seus papéis nos planos da Vigília e nas vidas um do outro.