[Resenha] Epopéia de Gilgámesh – Jacyntho Lins Brandão

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Capa do livro. Ilustração mostrando parte de uma estátua gigante de Gilgamesh, cobrindo todo o lado direito da capa. A estatua mostra Gilgamesh de frente segurando um leão junto ao corpo com uma mão, e uma cobra com a outra. A capa é composta com quatro cores, o fundo é em azul esverdeado mostrando uma paisagem bem ao fundo, o corpo de Gilgamesh é inteiro roxo, seus cabelos e barbas são azuis e o leão e a cobra são dourados. No lado esquerdo o título
Capa do livro. Ilustração mostrando parte de uma estátua gigante de Gilgamesh, cobrindo todo o lado direito da capa. A estatua mostra Gilgamesh de frente segurando um leão junto ao corpo com uma mão, e uma cobra com a outra. A capa é composta com quatro cores, o fundo é em azul esverdeado mostrando uma paisagem bem ao fundo, o corpo de Gilgamesh é inteiro roxo, seus cabelos e barbas são azuis e o leão e a cobra são dourados. No lado esquerdo o título "Epopeia de Gilgamesh", sendo o nome dele em letras grandes com cada sílaba em uma linha.

Nessa tradução da Epopéia de Gilgamesh, o professor Jacyntho Lins Brandão traz de forma clara e direta a obra literária mais antiga da humanidade.

Essa edição da Autêntica abre com uma breve introdução, onde o professor Jacyntho situa o leitor de quem foi Gilgamesh, sua importância e contextualiza qual a versão do poema que foi traduzida. Em seguida, já se inicia o poema dividido em onze capítulos correspondendo cada um a uma tabuinha, estas que, sendo preservadas e encontradas desde o século XIX, é o que nos dá acesso a essa obra.

A Narrativa

Essa epopéia (como é definida atualmente), conta a narrativa do quinto rei de Uruk, o lendário Gilgamesh. A história começa com os deuses antigos da Mesopotâmia criando um homem selvagem chamado Enkidu, cujo objetivo era enfrentar Gilgamesh devido a sua arrogância e excessos que praticava no reino.

O combate ocorre, mas no fim ambos se tornam grandes amigos íntimos, e a partir de então saem em diversas aventuras. Entre elas, a luta contra o monstro Humbaba que vivia na Floresta de Cedros, e o combate ao touro celestial enviado por vingança da deusa Ishtar.

Em certo momento, os deuses decidem que Enkidu deve adoecer até morrer, e lamentando a morte do companheiro, Gilgamesh se dá conta de sua própria mortalidade. Com isso, parte atrás de uma solução chegando até o velho Utnapishtim e sua esposa, um casal de humanos que receberam a dádiva da imortalidade após sobreviverem ao dilúvio provocado pelos deuses muito tempo atrás (sim, leitor, o famoso dilúvio bíblico de Noé tem origens nesse mito).

Utnapishtim informa ao protagonista que ele pode conseguir a imortalidade ingerindo uma planta que se encontra no fundo do oceano. Gilgamesh então continua sua busca, mas por descuido logo após encontrá-la, perde para uma cobra que rouba dele e a devora, acabando com as esperanças do rei de Uruk de conquistar a vida eterna.

De quando é essa obra?

Sendo um mito extremamente antigo, possui inúmeras versões, esta que é apresentada é chamada de Sha Naqba Imuru, ou, mais conhecida pelo título em português: “Ele que o abismo viu”, de autoria do sábio (e exorcista) Sin-léqi-unníni. Foi escrita no século XIII a.C e considerada a versão clássica, mais completa e recente da saga de Gilgamesh. Outras versões anteriores datam de mais de meio milênio antes, e consequentemente mais fragmentadas.

O texto foi escrito em diversas tabuinhas de argila, utilizando-se da escrita cuneiforme (pois era feita com objetos em forma de cunha) no idioma acádio. É graças aos achados arqueológicos dessas tabuinhas que vem ocorrendo desde o século retrasado que podemos conhecer os detalhes dessa narrativa. Mas tais achados não param, pois mesmo após o ano 2000 já foram descobertos mais e mais fragmentos completando cada vez mais essa epopéia.

Imagem da tabuinha cinco da Epopéia de Gilgamesh. Uma pedaço de argila seca rachada, com escrita cuneiforme
Imagem da tabuinha cinco da Epopéia de Gilgamesh. Uma pedaço de argila seca rachada, com escrita cuneiforme

Possui uma leitura difícil?

Definitivamente não! Por ser uma obra extremamente antiga e recuperada de forma fragmentada, é normal esperar que seja de difícil leitura. Mas muito pelo contrário, o professor Jacyntho traz uma tradução com muita fluidez, e de fácil compreensão. E isso sem precisar tornar o texto em formato de prosa ou mesmo criar diálogos para construir a narrativa.

Essa obra não é uma recontagem de um mito, é uma tradução direta e atualizada, pois se mantêm em versos, como no original (o que pessoalmente acho que torna a obra ainda mais bonita e admirável). E também se utiliza das edições críticas mais recentes feitas após as descobertas, nos últimos anos, de mais fragmentos do original. Sendo assim uma obra mais completa do que poderia ter sido feita décadas atrás em qualquer lugar do mundo.

Além disso, o foco dessa edição é entreter os leitores, mesmo os que não conhecem da antiga cultura mesopotâmia, onde o protagonista viveu, nem nada de mitologia. Não possui quase nada de notas, indo direto ao texto.

O professor Jacyntho possui outra publicação dessa epopéia, publicada como “Ele que o abismo viu. Epopéia de Gilgamesh”, também publicada pela Autêntica, e com diversas notas e análises, ou seja, um conteúdo mais “denso” por assim dizer. Quem quer estudar o mito, indico ambas. Mas para quem quer apenas aproveitar a leitura de forma fluida, essa mais recente (de 2021), de 160 páginas, é perfeita. O texto ainda possui alguns buracos por muitas partes serem fragmentadas, mas o professor teve o trabalho de unir com outros achados de outras versões, podendo mantê-la o mais completa e coerente possível.

Pra quem indico?

Acho que nem preciso dizer que indico tal livro para quem já conhece e gosta de mitologia. Mas também para quem quer começar a ler sobre mitologia. E para outros leitores também, pois é maravilhosa a sensação de saber que você está lendo nada menos do que uma das narrativas mais antigas da humanidade. E não apenas isso, que você está se encantando com essa obra, ainda que milhares de anos de distância e vivendo em uma cultura completamente diferente. Através dessa belíssima tradução, viajamos no tempo para a antiga Mesopotâmia sem que a gente se sinta perdido.

Nota

Cinco selos cabulosos. A maior nota do site.
Cinco selos cabulosos. A maior nota do site.

Garanta a sua cópia de “Epopéia de Gilgamesh”!

Ficha Técnica

Título: Epopéia de Gilgamesh
Autor: Sin-léqi-unnínni
Tradução, Texto e Notas: Jacyntho Lins Brandão
Editora: Autêntica
Ano: 2021
Páginas: 160
ISBN: 9786588239797
Sinopse: Esta segunda versão da Epopéia de Gilgamesh sai em capa dura, ilustrada e sem as extensas notas e comentários que constam da edição Ele que o abismo viu: epopeia de Gilgamesh, lançada pela Autêntica em 2017. Essa primeira, mais acadêmica, com aparato crítico, continua sendo publicada na Coleção Clássica.

Recuperada em tabuinhas de argila, na escrita cuneiforme, em achados que se estendem de 1872 a 2014, a Epopéia de Gilgamesh apresenta várias lacunas. E, nesta edição, Jacyntho Lins Brandão buscou preencher algumas dessas lacunas, trazendo ao leitor o texto de leitura mais fluente.

Os textos que narram os feitos de Gilgamesh estão entre os mais antigos registros literários que conhecemos. Escritos em sumério e acádio, eles remontam a mais de quatro mil anos, sendo anteriores a Homero, Hesíodo e aos textos bíblicos.

A versão clássica do poema foi composta, ao que tudo indica, no século XIII a.C., sendo sua autoria atribuída ao sacerdote-exorcista Sin-léqi-unnínni. Neste longo poema, encontramos reflexões profundas sobre o homem e o mundo – além de motivos que aparecerão em narrativas posteriores, como a criação da humanidade a partir de argila e o dilúvio, com a construção de uma arca para salvar homens e animais.