[Resenha] Retalhos – Craig Thompson

Capa da HQ. No fundo, em tom laranja, uma colcha de retalhos. Em primeiro plano, no topo o nome do autor e o título da HQ em branco. No centro, uma moça e um rapaz, um de frente para o outro com expressões tranquila, ambos de casacos grandes, ela com a mão nos cabelos loiros, calça marrom, tenis e pernas cruzada. Ele com mãos no bolsos, calças largas e roxas e tenis.
Capa da HQ. No fundo, em tom laranja, uma colcha de retalhos. Em primeiro plano, no topo o nome do autor e o título da HQ em branco. No centro, uma moça e um rapaz, um de frente para o outro com expressões tranquila, ambos de casacos grandes, ela com a mão nos cabelos loiros, calça marrom, tenis e pernas cruzada. Ele com mãos no bolsos, calças largas e roxas e tenis.

A delicadeza ao contar uma história é difícil, é mais comum que tendamos a sermos mais diretos e simplistas. Contudo, falar da própria vida e contá-la em um livro, uma graphic novel, e fazê-lo de maneira delicada, é, com certeza, ainda mais difícil.

Entretanto, Craig Thompson fez isso de maneira esplêndida em “Retalhos”.

“Então, o que vai ser hoje? “Jantar” ou “naufrágio”?

Retalhos

A graphic novel é a autobiografia de Craig Thompson, escritor e ilustrador da obra, e fala da história de sua infância até o início de sua vida adulta. Somos apresentados a uma família tipicamente cristã, natural do interior do estado de Michigan, muito unida, mas, assim como todas as famílias, tem seus problemas e algumas questões profundamente delicadas.

A história, feita em primeira pessoa, nos apresenta o panorama da vida do ponto de vista de uma criança que divide a mesma cama com o irmão mais novo, seu melhor e único amigo. Eles compartilham tudo: felicidade, dores e, até mesmo, um segredo doloroso de suas infâncias. Desde o começo somos jogados de maneira imersiva para dentro da história, nos devaneios sobre o mundo típicos de uma criança que se sente ignorada pelos pais e rejeitada pelo resto da sociedade, cuja única válvula de escape para lembrar que é criança são os momentos ternos com o irmão mais novo.

A profundidade desse início é tremenda e as cenas contém ilustrações de como ele imaginava que as situações, pessoas e lugares eram, o que só dá mais brilhantismo à obra.

Em sua fase adolescente, somos apresentados a um personagem extremamente introvertido e inseguro, situação fruto dos traumas que somos apresentados nas partes que falam de sua infância. Neste pedaço, uma personagem de suma importância surge para mudar todo o coração de Craig: Raina. Eles se conhecem em um acampamento para jovens cristãos e a conexão entre eles se torna intensa logo no primeiro dia, levando-os à futuramente trocarem cartas.

Esse romance nos é apresentado não como algo trivial, mas como um ponto necessário para a mudança de personalidade de Craig, pois é Raina que o faz começar a questionar todo o dogmatismo cristão, suas escolhas pessoais e profissionais e, inclusive, as relacionadas a relacionamentos interpessoais.

Raina é uma personagem delicada e, ao mesmo tempo, forte e destemida, moradora de Wisconsin. Ela é uma garota vivaz e de alma poética, com uma beleza interior que se expande ao ponto de o leitor conseguir sentir isso transbordando pelas páginas.

Conforme o tempo passa, ambos têm a possibilidade de passarem uma semana juntos, e Craig vai para a casa de Raina. É nesse ponto que tudo muda.

Craig se vê perdidamente apaixonado por Raina, seu primeiro amor, e começa a entrar em uma jornada rumo à vida amorosa, uma jornada alegre, colorida mas, ao mesmo tempo, repleto de impedimentos e dores inevitáveis, dores essas que aos poucos vão aparecendo e tomando uma forma descontrolada e que leva a um fim desagradável e surpreendente.

A última, porém não menos importante, parte, fala do início da vida adulta. Nela conseguimos perceber o amadurecimento do personagem, suas visões de mundo e de vida mudam drasticamente. Entretanto, fica claro o seu arrependimento do que aconteceu com relação à Raina, e por isso acaba se tornando inevitável que queiramos que ambos acabem ficando juntos no final.

Considerações finais

Uma bela graphic novel sempre merece destaque, e esse é o caso de “Retalhos”. Cada página nos transmite todas as sensações e todos os sentimentos do personagem, que é o próprio autor do livro, e através disso encontramos um caminho infindável de possibilidades para que a felicidade de Craig finalmente aconteça. “Retalhos” é um trabalho sensível e inebriante, capaz de prender a atenção de qualquer um. Uma obra realmente inesquecível.

Biografia

Nasceu em Traverse City, Michigan, em 1975 e foi criado na zona rural de uma pequena cidade de Wisconsin. Após trabalhar no departamento de design de uma das maiores editoras de quadrinhos dos Estados Unidos, a Dark Horse, ele começou sua carreira de quadrinista e lançou seu primeiro álbum, Good-Bye, Chunky Rice, em 1999. Publicou também Cadernet de voyage, um relato de viagem sobre a turnê de divulgação de Retalhos na Europa.

Nota

Cinco selos cabulosos. A maior nota do site.
Cinco selos cabulosos. A maior nota do site.

Garanta a sua cópia de “Retalhos”!

Ficha Técnica

Nome: Retalhos
Autor: Craig Thompson
Edição: 1ª
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2009
Páginas: 592
ISBN-13: 9788535914481
ISBN-10: 853591448X
Sinopse: Uma das graphic novels mais premiadas dos últimos tempos, Retalhos é um relato autobiográfico da vida no Meio Oeste americano, e dos conflitos religiosos e afetivos de um jovem artista em busca de sua individualidade.

Thompson retrata sua própria história, da infância até o início da vida adulta, numa cidadezinha de Wisconsin, no centro dos Estados Unidos, que parece estar sempre coberta pela neve. Seu crescimento é marcado pelo temor a Deus – transmitido por sua família, seu colégio, seu pastor e as trágicas passagens bíblicas que lê -, que se interpõe contra seus desejos, como o de se expressar pelo desenho.

Ao mesmo tempo Thompson descreve a relação com o irmão mais novo, com quem ele dividiu a cama durante toda a infância. Conforme amadurecem, os irmãos se distanciam, episódio narrado com rara sensibilidade pelo autor. Com a adolescência, seus desejos se expandem e acabam tomando forma em Raina – uma garota vivaz, de alma poética e impulsiva, quase o oposto total de Thompson – com quem começa a relação que mudará as visões que ele tem da família, de Deus, do futuro e, enfim, do próprio amor. Retalhos traz as dores e as paixões dos melhores romances de formação – mas dentro de uma linguagem gráfica própria e extremamente original.

Vencedora de três prêmios Harvey (melhor artista, melhor graphic novel original e melhor cartunista), dois prêmios Eisner (melhor graphic novel e melhor escritor/artista), e, em 2005, do prêmio da crítica da Associação Francesa de Críticos e Jornalistas de Quadrinhos.

“É o que chamo de literatura.”
— Jules Feiffer

“Comovente, delicada, com desenhos maravilhosos e sinceridade dolorosa, pode ser a graphic novel mais importante desde Jimmy Corrigan.”
— Neil Gaiman

“Ao contar esta história das pequenas brutalidades que os pais infligem a seus filhos e os irmãos uns aos outros, Thompson descreve a agonia e o êxtase da obsessão (por Deus, por um amor) e não teme denunciar os caminhos pelos quais a obsessão consome a si mesmo e evapora-se.”
— The New York Times Review of Books