[Resenha] A Época da Inocência – Edith Wharton

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Capa do livro. Layout padrão da Penguin Editora, onde a imagem fica na maior parte da capa, e 1/3 abaixo uma tarja branca com o nome da editora e um símbolo de um pinguim no centro, um retângulo preto, com o nome da autora em laranja, e o título do livro em branco. Na parte da imagem, uma ilustração mostrando um fundo rosa, na frente, um casal com roupas de gala, a moça com um vestido longo azul e luvas brancas, e o homem com smoking, suas peles não possuem cor, eles se beijam mas seus rostos não aparecem na capa.
Capa do livro. Layout padrão da Penguin Editora, onde a imagem fica na maior parte da capa, e 1/3 abaixo uma tarja branca com o nome da editora e um símbolo de um pinguim no centro, um retângulo preto, com o nome da autora em laranja, e o título do livro em branco. Na parte da imagem, uma ilustração mostrando um fundo rosa, na frente, um casal com roupas de gala, a moça com um vestido longo azul e luvas brancas, e o homem com smoking, suas peles não possuem cor, eles se beijam mas seus rostos não aparecem na capa.

Newland Archer está perfeitamente contente com sua vida atual: ele faz parte da elite aristocrática de Nova York, é respeitado por todos e está noivo da moça mais admirada do seu meio, May Wellland. Archer passeia por esse mundo conhecido com familiaridade e um certo desprezo até que a prima de sua noiva, Helen Olenska, volta da Europa para morar om a família e muda os pensamentos e desejos de Archer.

A Época da Inocência é um magnífico retrato de Nova York da segunda metade de 1800, com uma elite arcaica que se recusa a enxergar as mudanças e um protagonista que dificilmente agradará a todos.

Protagonista masculino, porém uma voz feminina

É através de Archer que adentramos essa história e navegamos por seu mundo. São seus pensamentos que acompanhamos, seu julgamento sobre sua vida e todos ao seu redor, entretanto, fica claro ao leitor que apesar dessa narração, a voz do texto, as nuances e críticas sobre essa sociedade é da própria autora.

Edith Wharton viveu sua infância nessa Nova York oitocentista e revisita suas memórias de forma a mostrar um retrato cru de tal ambiente. Era luxuoso e encantador, mas ao mesmo tempo, hipócrita, conservador e fechado em si mesmo, com seus absurdos importantes apenas para uma parcela ínfima de pessoas.

Tudo isso, nós vemos retratado no próprio protagonista. É difícil simpatizar com Archer, sendo ele próprio vaidoso e hipócrita, em que critica o mundo em que está inserido e ao mesmo tempo está confortável nele. Esse é um dos pontos que torna A Época da Inocência uma leitura prazerosa: o protagonista nos diz e pensa uma coisa, mas o texto com suas sutilezas consegue levar o leitor muito além da visão de Archer

May vs Helen

Não, eu não estou propondo uma rivalidade feminina aqui, é Archer quem as enxerga dessa forma, porém mais uma vez, o texto nos entrega muito mais sobre essas mulheres do que ele vê.

May é a noiva perfeita; uma donzela, jovem, que Archer enxerga como alguém que ele vai guiar e moldar após o casamento. Eu fiquei bastante surpresa com esse pensamento dele, porém, acompanhando o desenrolar, entendemos que essa visão que ele tem da noiva está longe de ser ampla.

May foi minha personagem favorita, justamente, por ser a que precisamos enxergar mais nas entrelinhas sobre quem ela é. Embora Archer se veja como superior, é óbvio que, em seu papel feminino que não pode tomar a ação, May não fica quieta esperando as coisas acontecerem com ela.

Enquanto isso, sendo colocada como contraponto, Helen é uma mulher vivida. Há muito tempo longe dessa sociedade cheia de regras próprias, ela é vista como transgressora e atrai Archer por seus pensamentos com ar de novidade. Ao mesmo tempo, o leitor, mais que nosso personagem principal, consegue ver além na história e nos desejos dessa mulher.

“Era a maneira como a velha Nova York tirava a vida ‘sem derramamento de sangue’: a maneira das pessoas que temiam o escândalo mais que uma doença, colocavam a descência acima da coragem e achavam que não havia nada mais grosseiro do que uma ‘cena’, exceto a conduta de quem a provocava.”

Dito isso, é óbvio que a leitura de A Época da Inocência é extremamente rica, tanto por seu retrato  da época, quanto pela construção dos personagens e todas essas nuances que exigem um olhar mais amplo do leitor. Entretanto, foi um livro que não me conquistou tanto assim pela história. Talvez por Acher ser um personagem de quem eu desgostei desde o início? É possível. Mesmo entendendo a proposta da autora, não me envolvi com a trajetória dele.

Além disso, recomendo fortemente que o leitor busque uma edição com notas de rodapé. Várias dessas críticas sutis da autora estão inseridas na descrição que ela faz das famílias, ambientes, vestuário e objeos. Sem o direcionamento das notas, eu com certeza teria perdido bastante coisa.

Mas A Época da Inocência é bom?

Claro que sim! Para os leitores que gostam de ver e entender os costumes de outra época, ele é imperdível, além de trazer essa escrita tão rica e cheia de perspicácia. Mesmo que eu não tenha ficado tão instigada pela história em si, eu adorei adentrar nesse mundo.

Nota

3 selos cabulosos e meio
3 selos cabulosos e meio

Garanta a sua cópia de “A Época da Inocência”!

Ficha Técnica

Título: A Época da Inocência
Autor: Edith Wharton
Editora: Pinguin Companhia
Tradução: Hildergard Griffin Wolff
Ano: 2013
Páginas: 416
ISBN: 9788563560735
Sinopse: Vencedor do prêmio Pulitzer e mais importante livro de Edith Wharton, A época da inocência se debruça sobre as complexas relações entre as tradições da sociedade e os desejos individuais.

No descompasso entre seus desígnios juvenis e as rígidas regras do Bom Gosto e do Bom-tom que balizam a velha Nova York no fim do século XIX, está o abastado advogado Newland Archer. Prestes a se casar com a inocente May Welland, ele conhece a prima de sua noiva, a condessa Olenska.

Apaixonado por ela e exasperado pelas restrições do mundo a que pertence, Archer vagará em busca da verdadeira felicidade ao mesmo tempo que procura amadurecer, imerso nas tradições que se vê obrigado a seguir.

“Um estudo das complexas e íntimas relações entre coesão social e crescimento individual”, como destaca na introdução Cynthia Griffin Wolff, ensaísta e especialista na obra da autora. A época da inocência é um olhar generoso para o passado; com maturidade, Wharton busca compreender os valores que guiaram a sociedade dos Estados Unidos até a Primeira Guerra Mundial, para então saudar a nova era que estava começando.

Com ecos do herói Christopher Newman, de O americano, de Henry James, e da trama de Anna Kariênina, de Tolstói, A época da inocência foi adaptado para o cinema em 1993 por Martin Scorcese.