Em uma cidade da Suécia, um dia antes da véspera do Ano Novo ganhou a atenção da mídia e da população graças a um assalto a banco mal sucedido seguido do sequestro em um apartamento que no momento estava sendo visitado por possíveis compradores.
O sequestro acaba com a libertação dos reféns e com ninguém ferido, mas surge uma questão: onde foi parar o sequestrador? A polícia não consegue encontrá-lo e os reféns não parecem dispostos a contribuir para resolver todo o caso.
Gente Ansiosa parte da premissa desse crime inusitado para tratar de questões íntimas, que todos nós podemos nos relacionar ou ter empatia e isso acontece através de uma narrativa sarcástica, engraçada e que não deixa de ser emocionante.
Uma história sobre idiotas
É assim que o narrador inicia o livro, mostrando que mais do que uma história de mistério, essa é uma história sobre pessoas. Somos jogados no final do assalto, com os policiais tentando juntar as peças dos acontecimentos e entrevistando os reféns que não estão lá muito interessados em ajudar.
Gente Ansiosa vai e volta nos acontecimentos e às vezes interrompe algo para nos apresentar a história de seus personagens. Logo de início eu gostei, pois conhecemos Jim e Jack, os policiais responsáveis pela investigação e que são, aliás, pai e filho. É claro que trabalharem juntos não pode dar muito certo e eles sabem disso também.
A dinâmica dos dois foi minha favorita do livro, é engraçada e exasperante ao mesmo tempo em que criamos um carinho por eles e pela situação. Quando eles começam a conversar com os reféns, e os primeiros entrevistados são intragáveis, estava totalmente torcendo pelos policiais.
E foi aí que meus problemas com livro começaram. Como comentei, as primeiras vítimas que dão seu relato são mal educadas, egoístas e extremamente desagradáveis, especialmente Zara, uma diretora de bancos que tinha outros motivos para estar na visitação do apartamento e não pelo interesse em comprá-lo. Passamos um grande tempo conhecendo Zara, inclusive suas sessões de terapia e eu entendo a construção que o autor quis trazer para essa personagem, mas passar tanto tempo com ela quase me fez abandonar o livro. Eu simplesmente não suportava a falta de empatia e os pensamenotos dela.
Mas então, voltamos ao sequestro e a narrativa se torna mais linear, apresentando os demais personagens através de conversas entre si durante seu período de cativeiro. A partir de então o livro segue de forma mais fluída e gostei bastante deles.
Meus destaques vão para Estelle, uma senhora de mais de 80 anos que não está nem um pouco amedrontada com um assaltante armado; Julia e Rô, um casal extremamente apaixonado que estão esperando seu primeiro filho, porém, as duas têm questões para resolver não apenas entre elas, mas consigo mesmas; por fim, temos Anna-Lena e Roger, recém aposentados e aparentemente um casal típico de um homem um tanto abusivo e uma esposa submissa, mas não é bem assim.
O grande destaque de Gente Ansiosa é sua narrativa. É engraçada e absurda, mas o autor consegue trazer reflexões sobre os mais diversos temos, especialmente, a saúde mental. Esses temas são tratados com respeito, empatia e uma certa simplicidade, assim, não apenas criamos empatia por essas pessoas, mas também nos relacionamos com suas questões.
Essa é uma hitória sobre um assalto a banco, uma visita a um apartamentO e um drama de reféns. mais do que isso, é uma história sobre idiotas. mas talvez não seja só isso.
Para finalizar, não posso deixar de comentar um aspecto que me incomodou, mas tenho consciência de que provavelmente não seria uma questão para muita gente. O autor usou um recurso para enganar o leitor e não foi do tipo “estava ali o tempo todo e eu não percebi”, foi um truque real e deliberado para mostrar uma coisa que não era verdade. Eu achei desnecessário e empobreceu a história. Não posso dar detalhes, pois é um spoiler grande, mas acho necessário registrar esse desapontamento.
Mas é bom?
Sim. Gente Ansiosa trata de temas sensíveis e pertinentes através de uma narrativa engraçada. Sei que muitas pessoas gargalharam e choraram durante a leitura e mesmo que eu não tenha sido tão impactada, recomendo essa leitura sobre empatia e respeito.
Aviso de Conteúdo: o livro trata de temas como suicídio e familiares com dependência química.
Nota
Garanta a sua cópia de “Gente Ansiosa”!
Ficha Técnica
Título: Gente Ansiosa
Autor: Fredrik Backman
Editora: Rocco
Tradução: Maira Parula
Ano: 2021
Páginas: 340
ISBN: 9786555321111
Sinopse: Best-seller instantâneo do New York Times, o novo romance do autor de Um homem chamado Ove é um “romance engraçado e emocionante”.
A busca por um apartamento não costuma ser uma situação de vida ou morte, mas uma visita imobiliária toma tais dimensões quando um fracassado assaltante de banco invade o apartamento e faz de reféns um grupo de desconhecidos.
O grupo inclui um casal recém-aposentado que procura sem parar, casas para reformar, evitando a verdade dolorosa de que não é possível reformar o casamento. Há um diretor de banco rico, ocupado demais para se preocupar com outras pessoas, e um casal que, prestes a ter o primeiro filho, não concorda sobre nada. Acrescenta-se uma mulher de 87 anos que já viveu demais para temer uma ameaça à mão armada, um corretor imobiliário assustado, mas ainda disposto a vender, e um homem misterioso que se trancou no único banheiro do apartamento, e assim completamos o pior grupo de reféns do mundo.
Cada personagem carrega uma vida de reclamações, mágoas, segredos e paixões prestes a transbordar. Ninguém é exatamente o que parece. E todos — inclusive o ladrão — estão desesperados por algum tipo de resgate. Conforme as autoridades e a imprensa cercam o prédio, os aliados relutantes revelam verdades surpreendentes e desencadeiam eventos tão inusitados que nem eles próprios são capazes de explicar.
O livro prova novamente que Backman é “mestre em escrever narrativas deliciosas, astutas e emocionantes com foco nos personagens” (USA Today). Gente ansiosa “captura a essência confusa de ser humano. (…) É esperto e tocante, e vai te fazer rir e chorar em igual medida” (The Washington Post). Esta “diversão sem-fim, que garante melhorar seu humor” (Real Simple), é prova de que o poder resistente da amizade, do perdão e da esperança podem nos salvar — mesmo nos momentos de maior ansiedade.
