Clive Barker é um nome conhecido dentro do horror. Não só da literatura, mas também do cinema. Na década de 1980 sua obra “Hellraiser” foi adaptada para o cinema e virou um clássico incontestável do cinema de gênero. Além, é claro, de ganhar várias sequências sobre as misteriosas criaturas que sentem prazer em sentir e causar dor.
Na coluna deste mês abordaremos sobre uma outra obra dele, “Candyman” que virou filme em 1992 e que ganhou uma continuação agora nos anos de 2021.
A história original
O conto de Clive Barker foi publicado em 1985 com o nome “The Forbidden” e está disponível aqui no Brasil em uma publicação pela editora DarkSide Books, com tradução de Eduardo Alves e posfácio do crítico e jornalista Carlos Primati. Na história vemos Helen, uma pesquisadora que tem como tema as pichações. Investigando o Conjunto Habitacional Spector Street ela esbarra com histórias bizarras de assassinatos as quais não soube pela imprensa. O que era estranho devido a brutalidade dos fatos.
Não há menção à questão racial no conto de Baker, isso acontece no filme de 1992. Aqui parece apenas se sobressair a questão de classe. Fica nítido o desconforto das pessoas de Spector Street com a presença de Helen. Ela vê aquele lugar como um objeto de pesquisa e, basicamente, a sua presença ali que desencadeia todo o mal que acontece no conto. Às suas perguntas e investigações, movidas apenas por sua curiosidade e vontade de provar que está certa contra as opiniões de colegas da academia são o motivo da perpetuação do monstro e de assassinatos cruéis.
Candyman é a lenda/monstro com um gancho no lugar de uma das mãos que assassina cruelmente as pessoas do conjunto habitacional. No diálogo/confronto final entre ele e Helen descobrimos que ele existe graças as lendas que são contadas sobre ele. Por causa das investigações de Helen e que fez as pessoas falarem sobre ele e sobre os assassinatos que ele cometeu, ele reapareceu e matou mais uma vez e graças a Helen vai matar mais.
O monstro e as lendas
Em 1992, o conto de Barker foi levado ao cinema, “O Mistério de Candyman” foi dirigido por Bernard Rose e teve na produção o próprio Clive Barker. Como lembra Primati no posfácio na edição da Darkside, o filme de Rose se apropriou do conceito da lenda para dar criar a mitologia do cinema. Aqui não é apenas o fato de se falar sobre ele que faz Candyman ganhar vida, mas sim dizer seu nome cinco vezes na frente do espelho. Algo muito comum nas lendas urbanas como Bloody Mary e a Loira do Banheiro.
Aqui há a questão racial como centro da história. Cabrini Green é o conjunto habitacional que Candyman assombra. É um bairro formado majoritariamente por pessoas negras. A pesquisadora Tati Regis fez uma discussão sobre os problemas desse filme no livro “O Melhor do Terror dos anos 90” com base em “Horror Noire – a representação negra no cinema de terror” da também pesquisadora Robin R Means Coleman. Tati diz que mesmo o filme tendo todo o cenário e o personagem principal feito por pessoas negras, a história ainda é sobre a mulher branca. Lembro também – ou pode ser uma falsa memória – de que Coleman faz uma discussão de que vemos a mesma coisa em “King Kong” de 1933, a personagem branca que foge do monstro mal criado por pessoas negras.
O filme de 1992 é responsável também por uma das melhores interpretações e criaturas do cinema de horror. Tony Todd, o ator que deu vida no cinema ao Candyman. Tony Todd é um ator espetacular e que preenche toda a tela e todo o imaginário do horror com seu papel nesse filme. Mas, como lembra a já citada Tati Regis, quase não tivemos a oportunidade de ver Todd em ação, já que o papel de Candyman ia ser de Eddie Murphy.
Diga o seu nome
Em 2021 tivemos uma sequência do filme de 1992, desta vez o filme foi dirigido por uma mulher negra chamada Nia DaCosta. “A Lenda de Candyman” mergulha no imaginário criado por Barker e Rose para fazer uma história de horror repleta de referências ao filme original e a acontecimentos contemporâneos. Mas, desta vez, não é um filme sobre uma personagem branca fugindo de um monstro negro, é um filme feito por e sobre pessoas negras.
Nia DaCosta faz uma história sobre a lenda de Candyman e coloca toda essa história dentro da repressão e agressão policial que as pessoas negras sofrem no mundo inteiro. Ali ela não só dá mais substâncias à lenda de Candyman como coloca a sua existência no racismo e na violência racial. Candyman só existe e continuará existindo por causa das atrocidades que as pessoas negras sofrem. Nas cenas finais discutem principalmente a violência policial que mata tantas pessoas negras nos Estados Unidos e em boa parte do mundo, inclusive aqui no Brasil.
“A Lenda de Candyman” é uma daquelas continuações que melhoram ainda mais uma obra que já era boa. Nia DaCosta se consagra neste filme como uma das melhores autoras do cinema de gênero dos últimos tempos, nos deixando ansioso por mais trabalhos no horror.
 
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