Excalibur (As Crônicas de Artur #3) – Bernard Cornwell

Capa do livro. Ilustração em tom vermelho mostrando parte de um guerreiro, sem aparecer o rosto. O guerreiro está tirando a espada da bainha e sua lâmina brilha. Na lateral esquerda tem uma pequena silhueta de um cavalo vestido para guerra, e na base o título do livro.
Capa do livro. Ilustração em tom vermelho mostrando parte de um guerreiro, sem aparecer o rosto. O guerreiro está tirando a espada da bainha e sua lâmina brilha. Na lateral esquerda tem uma pequena silhueta de um cavalo vestido para guerra, e na base o título do livro.

Ao ler a primeira página de Excalibur senti que o livro não seria ruim. O problema é que um pensamento nunca se afastava da minha cabeça: como este terceiro volume será melhor que “O Inimigo de Deus“. Acredito que Bernard Cornwell, desde do início da da saga de Arthur, sabia que o terceiro livro era o ápice e a despedida. Este final foi bem executado? Sim, até certo ponto.

Clímax

A luta contra os saxões é mencionada deste o início da história junto com o avançar da religião cristã. Passei por cada uma das batalhas com Derfel e os confrontos deixaram marcas. Eles mantiveram a minha mente afiada sobre como seria o embate final entre os Reinos da Britânia e os Saxões. A batalha derradeira é sublime! O chocar dos escudos, o brandir das espadas e as estratégias anteriores preparam para o clímax de Excalibur. Nas descrições, no clima de tensão e em cada ação dos exércitos o autor entrega tudo.

Cornwell não glamouriza a guerra, mas contagia o leitor com o sentimento de superação e de conquista. A batalha é longa sem ser cansativa porque constantemente há movimentos decisivos para guerra. Há a violência sem pudor convivendo com a tristeza e a perda. O autor coloca o leitor no campo de batalha e é como se ele sussurrasse a cada instante: “Não haverá nada maior que isso”. Fui conquistado e não conseguia ler parado. Precisava me movimentar, colocar o sangue em circulação porque estava envolvido com a energia descarregada através de um narrar. Um clímax alcançado. Depois a calma e a reflexão conduz para o final? Não, infelizmente não.

O que entregar depois do ápice?

Não sou tolo de dizer que o final é ruim. Todo o texto narrado com paixão tem um final satisfatório. No narrar a atmosfera bélica divide espaço com um tom triste envolvido por um mudar do mundo que prepara o leitor para uma grande despedida. Não é diferente com os personagens. A velhice, tão associada ao adeus, não é só demonstrada nas caracterizações. Em ações, comportamento e no falar demonstram que querem um final deste olhar romântico dos povos para eles e deles consigo mesmo. Um encerrar para que possam, enfim, viver o comum.

Cada um que conviveu com Derfel enxerga o fim de uma maneira. Alguns se apegam aos desejos e apostam tudo em um último movimento, um tentar definitivo. Ver personagens tão bem construídos apostarem tudo o que têm é cativante. Tão apegado a cada um deles fiquei apreensivo e entristeceu-me ver alguns resultados da última cartada. Bernard Cornwell tinha tudo para conduzir o leitor para um excelente final próximo do clímax. Porém, alonga a história.

Cansaço

Um novo vilão surge na saga Arthur. Alguém presente desde o primeiro livro com potencial para ser uma grande ameaça. Da mesma forma que os cristãos e o saxões esse perigo é trabalhado? Não é. Este novo inimigo está ao lado de uma ameaça que também possui potencial para ser algo de proporções inimagináveis. É o fio para uma nova saga e quem sabe outra bela construção. Entretanto, da mesma forma que os personagens principais, o autor parece cansado. A nova ameaça é feita de maneira apressada e não tem mais o impacto que o confronto anterior. Por um bom tempo pensei que era só um artifício para dar mais volume ao livro.

O autor transmite para o leitor que os personagens estão cansados ao mesmo tempo que cria situações para colocá-los em ação. Isso gera um contraste incômodo e fiquei com vontade de simplesmente chegar no fim. No último trecho, em uma batalha que só é as brasas do ápice, o autor recorre ao talento. No encerrar a lenda e o histórico, o mágico e o real, que criaram dúvidas durante toda a trilogia, por fim fundem-se. Elogio e neste momento concluo que o final não só é satisfatório como também marcante.

O fim

Caso você já tenha lido os dois primeiro livros, provavelmente lerá este terceiro e te convido a falar sobre o ápice e o além do ápice. Também deixo registrados alguns errinhos em algumas palavras, principalmente, nas partes finais do livro. O cansaço pode ter atingido os editores. Ninguém está livre dele. Exceção feita quando estamos no ato da leitura que nos coloca em outro mundo onde esquecemos o peso dos nossos corpos. Ao ler esta saga senti-me cheio de energia devido ao narrar deslumbrado de Derfel, ao conferir a vida de um bom líder e de ter a oportunidade de acompanhar uma religião tentando sobreviver de todas as formas.

Nota

Quatro selos cabulosos. A nota mais alta são 5 selos cabulosos.
Quatro selos cabulosos. A nota mais alta são 5 selos cabulosos.

Garanta a sua cópia de “Excalïbur”!

Ficha Técnica

Nome: Excalïbur (As Crônicas de Artur #3)
Autor: Bernard Cornwell
Tradução: Alves Calado
Editora: Record
Ano: 2014
Páginas: 532
ISBN: 9788501061157
Sinopse: Neste terceiro volume da série, iniciada com “O Rei do Inverno” e seqüenciada por “O Inimigo de Deus”, o escritor imerge o leitor em uma Britânia cercada pela escuridão. E apresenta os últimos esforços de Artur pra combater os saxões e triunfar sobre um casamento e sonhos desfeitos. “Excalibur” mostra, ainda, o desespero de Merlin, o maior de todos os druidas, ao perceber a deserção dos antigos deuses bretões. Sem seu poder, Merlin acha impossível combater os cristãos, mais perigosos para a velha ilha do que uma horda de famintos guerreiros saxões. O livro traz vívidas descrições de lutas de espada e estratégias de guerra, misturadas com descrições da vida comum naqueles dias: longas barbas servindo como guardanapos, festivais pagãos, com sacrifícios de animais, e pragas corriqueiras, como piolhos. Tendo por narrador um saxão criado entre os bretões, Derfel, braço direito de Artur, “Excalibur” acompanha os conflitos internos de Artur, recém-separado da esposa, mas ainda apaixonado por sua rainha. Atacado por velhos inimigos, perseguido por novos perigos. Mas sempre empunhando a espada Excalibur, um dos Tesouros da Britânia legados aos homens pelos antigos deuses dos druidas. Cornwell mostra, ainda, como as ameaças vindas de todos os lados acabam fazendo com que Artur se volte para a religião, chegando a batizar-se como cristão. Todos os sacrifícios são válidos para salvar sua adorada Britânia e conceder-lhe a tão almejada paz.