[Resenha] O Inimigo de Deus – Bernard Cornwell

Capa do livro. Ilustração em tons marrons de um guerreiro com roupas medievais, luvas e cota de malha, ele está com uma cara enfurecida, olhando para cima e enguendo as mãos, uma delas com o punho fechado. Em primeiro plano, no centro, um simbolo em branco de um pequeno dragão segurando uma espada, em seguida, o título do livro em branco, e o nome do autor, e o texto
Capa do livro. Ilustração em tons marrons de um guerreiro com roupas medievais, luvas e cota de malha, ele está com uma cara enfurecida, olhando para cima e enguendo as mãos, uma delas com o punho fechado. Em primeiro plano, no centro, um simbolo em branco de um pequeno dragão segurando uma espada, em seguida, o título do livro em branco, e o nome do autor, e o texto "Autor de O Arqueiro e O Andarilho"

Em Rei do Inverno, Bernard Cornwell não só apresenta os personagens. Em toda a narrativa é construída uma aura lendária em torno deles e de toda Britânia. Através do olhar de Derfel conhecemos Arthur, Guinevere, Nimune e Merlin. Cada um tem uma personalidade marcante, carisma e um objetivo. Qualidades eficientes para participantes de uma boa história. Em O inimigo de Deus o autor vai além, aprofundando-se no cerne de cada um destes nomes.

Nomes e lendas

Cada homem ou mulher que se mantém vivo possui ou já possuiu um objetivo. Entender como a alma humana se alimenta de uma motivação é a chave para criar um bom personagem. No segundo volume da trilogia Arturiana de Cornwell, os desejos, que poderiam muito bem se camuflar como sonhos, são evidentes.

Arthur é um homem que deseja uma vida comum. Porém, só dará razão ao desejo após cumprir a justiça e honrar juramentos. Faz isso porque acredita no conceito por trás destas duas ideias. Não para impor poder e exibir autoridade.

Merlin quer o retorno dos antigos deuses. O druida tem consigo essa meta  por uma simples razão: ama os deuses dos tempos decorridos que estavam tão presente nos reinos da Britânia antes de Roma. Divindades simpáticas à liberdade e diferentes do punitivo Deus cristão.

Nimune possui o mesmo desejo do estudioso da magia, porém, enxerga nos deuses antigos vingança. Há um belo conjunto de personagens femininas bem construídas e cito Guinevere. A companheira de Arthur quer poder. Apesar da personalidade dela estar envolvida em vaidade, no fundo do coração petulante há uma frustração em ver um reino que poderia ser liderado por pessoas melhores.

Por último, e não menos importante, Derfel, o mais comum entre todos. Graças a lealdade moldada em uma amizade sincera com Arthur construiu uma família e um nome. Conforme as páginas passam os perigos para defender o amigo são maiores e a estabilidade, onde toda a vida que construiu se sustenta, vai afinando.

A voz de Derfel

Após o final da leitura chamá-los de personagens é uma tolice. Ao ler os capítulos do Inimigo de Deus, escutando a voz cheia de saudade de Derfel, foi cada vez mais fácil chamar cada um deles de lendários. Antes de qualquer recriminação sobre exageros, entrego uma explicação: o narrar encantado de um velho no fim da vida, o tom épico e cheio de paixão perfeito paras as canções e os grandes feitos me fazem chamá-los de lendas, principalmente Arthur. A verdade literária contida em cada relato de Derfel me encantou. É como se ele quisesse dizer do começo ao fim da história a seguinte mensagem:

“Não se esqueça da lenda do melhor rei. Ela desperta o que há de melhor em nós”.

Escritor Experiente

Peço licença ao narrador guerreiro para falar de Bernard Cornwell. Dificilmente uma boa escrita nunca é descrita com uma só palavra. Poesias e até mesmo várias páginas de um longo estudo podem descrever uma perícia no ato de escrever. Entretanto, defino sem nenhuma insegurança o texto de um dos mais importantes autores britânicos em uma só palavra: experiência.

No narrar tão próximo do falar há as imagens que se formam com naturalidade na imaginação. Os diálogos, não só curtos como rápidos, movem a história sem abandonar um falar antigo e perfeito para ser declamado. Este velho escritor com certeza é intimo do contar porque sabe quando parar, a melhor forma de instigar e não tem receio de provocar o leitor. Não sei se as páginas foram obras de algum feitiço. Somente a magia antiga explicaria o fato de uma sensação presente na primeira linha e no ponto final. Na minha leitura, em nenhum momento, senti que estava diante de um projeto editorial. Tive em minhas mãos as memórias de um guerreiro querendo agasalhar as lembranças de uma vida tão boa que só podia ser inventada. Este alguém que inventou é experiente em relação as histórias clássicas medievais.

O senhor da era medieval

No texto fica evidente a longa convivência do Cornwell com o ato da escrita e com o criar dos personagens. Algo interessante ao unir estes pontos é que o livro possui diversas histórias dentro de uma grande história. Existem dois núcleos: a luta dos reinos da Britânia contra os saxões e a religião cristã dominando aos poucos o chamado paganismo. Em meio a esses dois temas centrais este segundo volume trás aventuras clássicas ao melhor estilo RPG, o jogo político envolto em muita reflexão e não só disputas de vaidade, boas histórias de cavalaria e embate bélico feito com grande verossimilhança. Cada um destes gêneros surge de forma orgânica na narrativa e muitos deles são representados por um personagem. Tudo que a era Medieval popularizou o autor sabe trabalhar muito bem.

Te desafio

Dizem que uma segunda obra costuma ser a o pior de uma trilogia. Para quem acredita nestas palavras apresento O Inimigo de Deus de Bernard Cornwell. A obra sabe aproveitar todo o cenário e personagens construídos no primeiro volume além de aprofundá-los; a mão do autor é experiente não só na escrita como também conhece muito bem o gênero escolhido e estou ansioso para ver como a saga terminará. Pensei muito em um ponto que poderia ser melhorado ou em um pequeno deslize sem conexão com a proposta de dar ao leitor uma ficção histórica voltada para aventuras e guerras. Pensei, repensei, esperei um tempo para afastar-me das emoções provocadas pela obra e conclui que seria tolice procurar defeitos. Leia, encontre-os e mostre-os para mim.

Nota

Cinco selos cabulosos. A maior nota do site.
Cinco selos cabulosos. A maior nota do site.

Garanta a sua cópia de “O Inimigo de Deus”!

Ficha Técnica

Título: O Inimigo de Deus (As Crônicas de Artur #2)
Autor: Bernard Cornwell
Tradutor: Alves Calado
Editora: Record
Páginas: 518
Ano: 2011
ISBN: 9788501061182
Sinopse: “O Inimigo de Deus” é o segundo volume da mais fiel história de Artur narrada até hoje. Com base em fatos novos e descobertas arqueológicas, Bernard Cornwell retrata o maior de todos os heróis como um guerreiro poderoso que luta contra os saxões para manter unida a Britânia, no século V, após a saída dos romanos.

Em “O Inimigo de Deus”, o país está unido e pronto para expulsar de uma vez os invasores saxões. Mas se por um lado está unificado politicamente, por outro a luta entre as religiões ancestrais e o cristianismo divide o povo. Diante da propagação da nova fé, Merlin empreende uma busca pelo caldeirão sagrado — objeto mágico poderoso, capaz de trazer de volta os antigos deuses e aniquilar os saxões e os cristãos. Ao longo desta jornada, ele é acompanhado pelo guerreiro Derfel por lugares distantes e perigosos, onde acontecem aventuras inesquecíveis.