Viagem no tempo, guerra, cartas e romance. À primeira vista, pode parecer uma combinação estranha para se ter em uma mesma história, mas Amal El-Mohtar e Max Gladstone unem esses elementos de forma primorosa no livro “É assim que se perde a guerra do tempo”.
Vencedor dos prêmios Hugo, Nebula e Locus, os mais importantes da literatura de ficção científica, a obra é um romance epistolar épico que nos envolve aos poucos. Acompanhamos a história de duas agentes de facções rivais que travam uma guerra pelo espaço-tempo a fim de garantir o melhor futuro para seus respectivos times.
Essa jornada é contada por meio das cartas que Red e Blue trocam e o que começa como uma provocação, cresce se torna algo impensável: elas se apaixonam.
A forma
O primeiro aspecto que chama a atenção logo de cara é o fato de ser um romance epistolar, algo que não é comum em livros de ficção científica. Como podem viajar no tempo, é de se esperar que Red e Blue tenham acesso às mais avançadas tecnologias de comunicação, o que torna a escolha pelas cartas ainda mais interessante.
Quando uma escreve para a outra, revela muito de si e de sua forma de ver o mundo. E, nesse ponto, a escrita dos autores é fenomenal, pois conseguiram exprimir a personalidade das protagonistas em cada carta, sem precisar de explicações.
Sem a intervenção de um narrador, mergulhamos sem receios na mente das protagonistas, que não podiam ser mais diferentes. Enquanto uma é mais racional e ligada à tecnologia, a outra é mais emocional e se conecta com a natureza. Esse intercâmbio tecnologia-natureza dá a ambas uma dimensão diferente do que estão acostumadas: não há certo nem errado, mas formas distintas de se viver. E é muito bonito como, conforme a comunicação entre elas avança, elas vão compreendendo melhor uma à outra.
O ritmo
Esse é o tipo de livro para se apreciar com calma. Apesar de curto, não é aquela obra para se devorar numa sentada só. Assim como o tempo que uma carta leva para chegar, o interessante é acompanhar a jornada aos poucos, prestando atenção nos detalhes.
Por conta desse ritmo mais lento, há algumas partes, especialmente no início, que são mais cansativas. Porém, tudo é uma questão de se acostumar com a proposta e mergulhar na história.
“Levamos a arte de escrever cartas tão literalmente, não é? Lacres de foca à parte. Cartas como viagem no tempo, cartas que viajam no tempo. Significados ocultos.”
Para além do pano de fundo, a beleza de “É assim que se perde a guerra do tempo” está na forma poética das cartas. E a escrita vai mudando conforme Red e Blue se conhecem melhor. Mas é tudo tão sutil que é difícil até mesmo marcar a partir de que ponto elas perceberam que haviam se apaixonado.
A construção da relação delas respeita esse ritmo da história — as cartas começam com provocações entre as rivais, passam para um tom de cumplicidade, até que, de repente, assim como elas, nós entendemos que o sentimento mudou e se tornou algo mais.
O mundo
Um ponto importante de abordar é que esse livro não trará respostas sobre como e por que a guerra começou. O mundo onde a trama é ambientada funciona como pano de fundo — interessante, mas sem muitas explicações.
Essa é uma história sobre a relação de Red e Blue e esse amor improvável. Porém, a construção da ambientação também aparece na forma com que as cartas são enviadas (e são maneiras as mais inusitadas e criativas!). E isso faz valer a existência desse mundo e das viagens pelo tempo-espaço.
“É assim que se perde a guerra do tempo” é uma leitura indicada para quem quer ler uma obra focada na relação das personagens. Com passagens poéticas e profundas, esse é um livro que nos ganha devagar e, quando menos esperamos, não conseguimos parar de pensar na história — e torcemos para esse amor dar certo.
Nota

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Ficha Técnica
Nome: É assim que se perde a guerra do tempo
Autores: Amal El-Mohtar e Max Gladstone
Tradutora: Natália Borges Polesso
Edição: 1ª
Editora: Suma
Ano: 2021
Páginas: 192
ISBN: 9788556511119
Sinopse: Entre as cinzas de um mundo em ruínas, uma soldada encontra uma carta que diz: Queime antes de ler. E assim tem início uma correspondência improvável entre duas agentes de facções rivais travando uma guerra através do tempo e espaço para assegurar o melhor futuro para seus respectivos times. E então, o que começa como uma provocação se transforma em algo mais.
Um romance épico que põe em jogo o passado e o futuro. Se elas forem descobertas, o destino será a morte. Ainda há uma guerra sendo travada, afinal. E alguém precisa vencer.
![[Resenha] É assim que se perde a guerra do tempo Capa do livro. Fundo azul claro, imagem de dois passarinhos, um vermelho de pé, outro azul de cabeça para baixo, ambos se encostam pelas patas. A imagem de ambos passarinhos é fragmentada. No topo e na base, o nome dos autores. Ao redor dos passarinhos, o título do livro em branco.](https://leitorcabuloso.com.br/wp-content/uploads/2021/08/EAssimQueSePerde-Site-696-390.jpg)

![[Resenha] Lebre da Madrugada – Arthur Malvavisco Capa do livro. Ilustração com um fundo roxo. Em primeiro plano, uma lebre branca, ao redor dele, ocupando o restante da capa, diversos objetos, uma garrafa, duas flores distintas, uma pena escura, uma pinça, uma tesoura e uma faca com cabo estilizado. No topo, o título do livro em branco com fonte estilizada.](https://leitorcabuloso.com.br/wp-content/uploads/2022/08/LebreDaMadrugada-Site-696-390.jpg)
![[Resenha] A cidade de bronze – S. A. Chakraborty Capa do livro. No fundo, um céu escuro, com alguns pontos luminosos no topo. Na base, uma perspectiva de horizonte com a silhueta de algumas construções em arquitetura árabe em dourado, e uma pessoa caminhando vista bem de longe. Do local dessa pessoa emana uma luz com labaredas amarelas que vão até o topo da capa avermelhando-se. No centro da capa uma mandala, e em primeiro plano o título do livro.](https://leitorcabuloso.com.br/wp-content/uploads/2022/08/ACidadeDeBronze-Site-696-390.jpg)
![[Resenha] Olhos d’água – Conceição Evaristo Capa do livro. Ilustração do rosto de uma pessoa, mostrando apenas o olho, ocupando toda a capa, o olho é castanho, e a pele em tom marrom, tons azuis abaixo do olho mostram que a pessoa está chorando. O fundo é branco. No topo o nome da autora, e logo abaixo o título do livro em azul.](https://leitorcabuloso.com.br/wp-content/uploads/2022/08/OlhosDagua-Site-696-390.jpg)
![[Resenha] Homens de armas – Terry Pratchett Capa do livro. Ilustração cartunesca em tom amarelado mostra um grupo de aventureiros medievais. No grupo faz parte uma guerreira que está a frente, seguida de um guerreiro, do outro lado um homem baixo carregando um machado, mais atras uma criatura semelhante a um ogro, do outro lado mais um guerreiro com machado e um pequeno dragão no ombro. Eles percorrem uma caverna. No topo, o nome do autor e título do livro. Na ponta superior direita, uma faixa com o texto "Discworld"](https://leitorcabuloso.com.br/wp-content/uploads/2022/08/HomensDeArmas-Site-696-390.jpg)
![[Resenha] De Lukov, com amor – Mariana Zapata Capa do livro. Fundo com manchas brancas e azuis claras formando uma textura parecida com gelo. Ocupando toda a capa, um buque de rosas. Em primeiro plano, o titulo do livro ocupando toda a capa, e no centro o texto "Autora bestseller do New York Times e USA Today, Mariana Zapata"](https://leitorcabuloso.com.br/wp-content/uploads/2022/08/DeLukov-Site-696-390.jpg)


